JANEIRO 2016
TUBERCULOSE - PASSADO E PRESENTE
Dr. Ricardo Crawford Nascimento
Médico Pneumologista
Ricardo Crawford Nascimento
Fundação Portuguesa do pulmão
ricardocrawford_n@hotmail.com

A “tísica”, como era conhecida a tuberculose, é uma doença milenar que no passado dizimou as populações de forma lenta e cruel, não respeitando fronteiras, classes sociais, sexo ou idade. Esta doença, autêntico flagelo das populações foi particularmente sentida nos séc. XVIII, XIX e primeira metade de séc. XX e foi também conhecida como “peste branca”, em contraponto com a “peste negra”, pelo grande número de mortes que causou em todo o mundo.
Quando em 1882 Robert Kock, médico cientista alemão, isolou o microorganismo causador da doença (bacilo de Kock) acabou definitivamente com todas as especulações à volta da sua génese. Pensou-se, que finalmente teríamos para breve a solução e erradicação do terrível flagelo que já nessa altura a doença constituía. “Agora que se conhece a causa”, comentava Robert Kock, “importa estancar todas as fontes de contágio”. 
Passados mais de 130 anos, a tuberculose ainda está viva. É a doença infecciosa que mais mata. Em 1993 a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a luta contra a tuberculose como uma emergência global - “Global Plan to Stop TB”.
Mesmo antes da descoberta do bacilo de Kock, havia já a convicção da comunidade científica, que a tuberculose era uma doença contagiosa, consumptiva e frequentemente mortal. Por estes motivos, no final do sec. XIX e início do sec. XX, os tuberculosos eram já internados em estruturas hospitalares diferenciadas, denominadas sanatórios, cuja localização primava pelas boas condições climatéricas, privilegiando o isolamento e uma alimentação muito cuidada. 
As teorias sobre a influência do clima da Madeira na cura da doença, tiveram grande desenvolvimento a partir de meados do séc. XVIII, passando desde então esta ilha a ser considerada como um lugar privilegiado para a cura da tuberculose. Este facto marcou de forma significativa a vida social da cidade do Funchal, pelo elevado número de doentes que aqui desembarcavam na esperança legítima de se curarem. Nessa altura, a capacidade hoteleira era escassa para tantos nacionais e estrangeiros que aqui chegavam. É fácil imaginar a repercussão que teve este “turismo terapêutico” na população madeirense, particularmente no que diz respeito ao contágio e disseminação do bacilo, onde os doentes e os locais conviviam sem qualquer espécie de barreiras. 
O Hospício Princesa D. Maria Amélia foi o 1º sanatório em Portugal. Foi  inaugurado a 4 de Fevereiro de 1862, com uma capacidade para 24 doentes. Este edifício tão bem conhecido dos madeirenses, foi mandado construir pela viúva de D. Pedro IV em memória da sua filha Maria Amélia. Faleceu por tuberculose aos 22 anos, na Quinta Lambert, atual Quinta Vigia, em Fevereiro de 1853. 
Relativamente ainda à história da tuberculose na Madeira, é obrigatório fazer referência a duas personalidades, que pela sua dedicação e obra foram marcos na luta contra esta doença. Refiro-me ao Dr. João de Almada e Dr. Agostinho Cardoso, cujos nomes referenciam o antigo sanatório e o atual centro de tratamento da tuberculose na Madeira.
Na época pré-antibiótica, o internamento sanatorial era extraordinariamente demorado, “anos a fio” pois o lema era : ”daqui não sai ninguém por curar, ou sai curado ou morto”. Entre a classe médica é conhecido o pensamento de um médico tisiologista, pai do ex-Primeiro ministro, Dr. Passos Coelho, enquanto internado no sanatório escreveu: ”Estou tão cansado de descansar deitado, de peito para o ar, que penso até ser enterrado de pé”.
Com a descoberta da estreptomicina em 1944, deu-se início a uma nova era no tratamento desta doença, constituindo um marco histórico fundamental a que se seguiram, já nas décadas 50 e 60 a descoberta de novos fármacos, ainda hoje a base do tratamento da tuberculose. Nas décadas seguintes, o internamento deu lugar ao tratamento ambulatório com desativação gradual da rede sanatorial.
A diminuição da taxa de incidência (número de novos casos por 100.000 habitantes) espelha bem o sucesso dos programas de saúde. Em Portugal Continental essa taxa está nos 20/100.000, enquanto que na Madeira está nos 10/100.000, cifra esta considerada  de baixa incidência.
A TUBERCULOSE tem cura, desde que o doente cumpra a medicação prescrita durante os 6 a 9 meses que o tratamento impõe.
Embora do conhecimento geral, importa reforçar que é no Centro Dr. Agostinho Cardoso que o doente com tuberculose é tratado, tendo toda a medicação, acompanhamento médico e de enfermagem gratuitos. 

“Passados mais de 130 anos, a tuberculose ainda está viva. É a doença infecciosa que mais mata. Em 1993 a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou a luta contra a tuberculose como uma emergência global”










 


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