ABRIL 2014
NUTRIçãO NA ONCOLOGIA
Dr. Bruno Sousa
Nutricionista no SESARAM
Professor Auxiliar Convidado na Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto 
bruno.sousa@mail.com

Qual é a importância de uma boa alimentação nos doentes oncológicos?
A alimentação constitui um dos elementos fundamentais no tratamento, pois permite obter um bom estado nutricional, que é um dos fatores determinantes no prognóstico.
A desnutrição é muito frequente nestes casos, e um mau estado nutricional acaba por ter um impacto muito negativo. Diminui a tolerância aos tratamentos, refletindo-se na expectativa e qualidade de vida dos doentes.
Esta desnutrição, que é mais notória pela perda acentuada de peso, surge porque o próprio tumor provoca alterações metabólicas e porque há uma redução na ingestão total de alimentos. Estão aqui envolvidos vários fatores, nomeadamente os relacionados com a doença como a redução do apetite, as dificuldades mecânicas para mastigar e deglutir os alimentos em alguns tipos de cancro, os efeitos colaterais de tratamentos como a quimioterapia e a radioterapia, que podem afetar a função gastrointestinal, e o jejum prolongado que muitos doentes são submetidos quando têm de realizar exames e também nas fases pré ou pós-cirúrgicas. 
Através da alimentação ou da terapêutica nutricional é assim possível prevenir e tratar a desnutrição destes doentes, modular a resposta orgânica ao tratamento oncológico e controlar os efeitos adversos dos tratamentos, que acaba por ser muito importante nestes casos.  

De que forma a alimentação condiciona o aparecimento de determinados tipos de cancro? Por exemplo, uma pessoa que ingira em demasia carnes vermelha será propensa a que tipos de cancro?
A alimentação é um dos fatores, entre os muitos, em que está estabelecida uma relação com o cancro, sendo mesmo um dos determinantes mais relevantes, e por isso, é que a prevenção é extremamente importante.
Vários estudos comprovam que, por exemplo, o consumo elevado de carne vermelha e processada está associado a um risco aumentado para o cancro colo-retal. Existem evidências também de que a carne vermelha possa estar associada com um risco aumentado de cancro do esófago, pulmão, pâncreas e endométrio. Já o consumo excessivo de carne processada, por sua vez, está associado com o cancro do esófago, pulmão, estômago e próstata.
Os estudos sugerem que o consumo de 140g por dia de carne vermelha aumenta em cerca de 10% o risco de mortalidade por cancro. E se a carne for processada (salsichas, presunto ou bacon) esse risco aumenta para 16%.
A carne vermelha contém compostos que podem danificar a mucosa intestinal. Além disso, o modo de preparação, como por exemplo, no churrasco, ou seja, submeter a carne vermelha a altas temperaturas também pode produzir outros compostos cancerígenos. Estas substâncias quando ingeridas interagem com a mucosa intestinal e causam danos nas células do intestino, aumentando o risco de desenvolver o tumor. Este, é apenas um exemplo, pois muitos outros aspectos alimentares que se associam a um aumento do risco de cancro. 

Os doentes oncológicos devem ser acompanhados por um nutricionista? Se sim, porquê?
É fundamental que um nutricionista faça parte da equipa multidisciplinar, pois através das suas indicações alimentares ou nutricionais, irá possibilitar um bom estado nutricional dos doentes, que como já referi anteriormente, é crucial nestas situações. Por outro lado, pode ajudar a atenuar muitos dos efeitos colaterais dos tratamentos neste tipo de doença. Sabemos que muitos doentes têm dificuldades em alimentar-se, queixam-se de alterações de paladar, rejeitando muitos alimentos, e através da nossa intervenção, ajustando às necessidades dos doentes, é possível criar alternativas que possibilitem nutri-los de forma adequada e evitar muitas complicações.  


Quais os alimentos que possam evitar/retardar o aparecimento de cancro?
Não existe um alimento específico, mas um conjunto de alimentos e atitudes na alimentação e na confeção dos alimentos, que permite protegermo-nos para o aparecimento de cancro. 
Neste tipo de alimentação é fundamental que o consumo de hortofrutícolas seja pelo menos de 400g por dia, pois o seu consumo está relacionado com um menor risco de desenvolvimento de cancro do pulmão, da boca, do esófago, do estômago e cólon, pela sua riqueza em vitaminas, minerais, fibras, antioxidantes e fitoquímicos. Os frutos e hortícolas brancos como a banana, melão, alho e a cebola, são cada vez mais associados à redução do risco de cancro. Os de cor roxa como a amora e a beringela, assim como os de cor vermelha (morango, tomate), estão diretamente relacionados com a diminuição de cancro do trato urinário. 
Deve-se ainda optar por escolher os cereais integrais assim como os seus derivados. O seu efeito protetor está mais relacionado à proteção do cancro do cólon, pela sua riqueza em fibras.
As leguminosas devem também estar incluídas na nossa alimentação diária com uma a duas porções diárias. A sua riqueza em fibras, vitaminas e minerais, contribui para a diminuição de risco de cancro do cólon, estômago, pulmão, útero e ovário. 
Por outro lado, deve-se evitar o consumo de carnes vermelhas e carnes processadas e privilegiar o consumo de peixe e carnes brancas. As carnes vermelhas e as processadas industrialmente como os enchidos, são ricas em gordura saturada, e potencialmente responsáveis pelo aumento do cancro colo-rectal, pulmão, mama, endométrio e próstata. Pelo contrário, os peixes gordos como a sardinha e o salmão, ricos em ácidos gordos ómega-3, apresentam um efeito protetor contra o cancro.
Os alimentos processados devem evitar-se pois podem conter grandes quantidades de sódio e, para além disso, estes alimentos salgados e fumados podem conter compostos cancerígenos, estando mesmo associados, por exemplo, ao cancro de estômago.
É também importante evitar a ingestão excessiva de calorias, que leva ao ganho de peso corporal, e a própria obesidade também aumenta o risco de cancro.
As bebidas alcoólicas devem ser consumidas com muita moderação. O seu consumo excessivo aumenta o risco de desenvolvimento de cancro da boca, laringe, faringe e esófago e o risco associado ao álcool é ainda maior quando as pessoas são simultaneamente fumadoras. Por isso, a bebida de eleição deve ser a água. 
Contudo não podemos esquecer a importância da manipulação dos alimentos. Os alimentos total ou parcialmente carbonizados têm substâncias cancerígenas, pelo que devem ser rejeitados. Por isso, é que dizemos que os grelhados são boas soluções, mas nunca se os alimentos estiverem carbonizados. 
Devemos ainda ter em atenção que as gorduras, nomeadamente a manteiga e a margarina, se alteram a temperaturas moderadas podendo formar substâncias cancerígenas, pelo que se deve utilizar pouca gordura na confeção de alimentos e preferir o azeite ou o óleo de amendoim, que só se degradam a temperaturas muito elevadas. Por outro lado, o azeite, é rico nutricionalmente em ácidos gordos moninsaturados, podendo ainda diminuir o risco de desenvolver cancro da mama, cólon, ovário e próstata.
 
  
DESTAQUES 

Os frutos e hortícolas brancos como a banana, melão, alho e a cebola, são cada vez mais associados à redução do risco de cancro. Os de cor roxa como a amora e a beringela, assim como os de cor vermelha (morango, tomate), estão diretamente relacionados com a diminuição de cancro do trato urinário.

Os peixes gordos como a sardinha e o salmão, ricos em ácidos gordos ómega-3, apresentam um efeito protetor contra o cancro.

Que tipo de alimentos devem os doentes oncológicos fazer basear as suas dietas?
Basear-se numa alimentação saudável, contudo, por vezes, deve-se ainda evitar alimentos ácidos e duros que possam ferir a mucosa oral, evitar os extremos da temperatura dos alimentos, e cozinhá-los bem, de forma a evitar a possibilidade de infeções.


 


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