Daniel
Quintal - Professor de Educação Física (atualmente
a exerções funções no Conselho Executivo da EB23 Dr. Alfredo Ferreira Nóbrega)O desporto, entendido como fenómeno natural é,
sem dúvida, um factor histórico e social que se encontra já integrado na
sociedade portuguesa. Vive-se no universo do desporto um processo de afirmação
individual que pretende alcançar reconhecimento público e que apenas consagra
os campeões. Lima (1990) refere que “conquistar a vitória, ganhar,
transformou-se um objectivo de primeira ordem das competições desportivas,
mundiais, europeias e nacionais”. Portanto, não há que estranhar que os
dirigentes, os treinadores e os próprios jogadores estejam no desporto com a
mesma motivação e que, aspirando a esse reconhecimento, tudo façam para serem
campeões. O desporto profissional apenas consagra os melhores e não os
segundos. Quem é que se lembra do nome dos segundos de há dez anos? Ninguém!
Provavelmente as coisas serão mesmo assim no desporto profissional, mas quando
falamos em competições para idades jovens a mentalidade terá, necessariamente,
de ser diferente. Neste contexto, Lima (1990) refere que “a competição deve ser
entendida como um factor cultural que possa ser considerada como motor de
progresso e desenvolvimento humano e social das crianças e dos jovens,
finalidade esta que se questiona, atendendo à tentativa de imitação dos quadros
competitivos dos adultos efectuada durante muitos anos e que, em alguns casos,
se mantêm até aos dias de hoje.A questão fulcral é a seguinte: Deve o desporto
para as crianças e jovens incluir competições? Respondemos claramente que sim.
Não é possível, nem realista retirar do mundo das crianças e jovens uma
componente tão importante do comportamento dos mais velhos e da vida social – a
competição – cuja influência é aliás, sentida e integrada pelas próprias
crianças e jovens em todas as suas aprendizagens e em todos os seus
comportamentos.A competição para as crianças e jovens deverá ter
objectivos claros, ou seja, consentâneos com a importância pedagógica e social
do desporto e também deverá possuir uma intervenção competente por parte do
treinador no sentido de não provocar desajustamentos relativamente aos
princípios da formação desportiva. Os treinadores mais bem preparados são
aqueles que têm o melhor entendimento da especialidade desportiva, mas
paralelamente detêm um profundo conhecimento da especialidade biológica e
psicossocial das crianças e jovens. A competição para as crianças e jovens é vista,
por elas como um acto de afirmação de competência, de capacidade, e não como um
acto de afirmação de superioridade sobre os adversários, tal como acontece
muitas vezes no desporto para adultos. Portanto, os treinadores na orientação
das competições dos mais jovens deverão valorizar as tarefas a efectuar em
detrimento dos resultados pois, o factor querer ganhar já está previamente
interiorizado. Também temos de ter presente que as crianças e jovens, na sua
idade evolutiva, enfrentam uma fase de grande delicadeza, onde os conhecimentos
são poucos e difíceis e onde existem mais sombras projectadas do que concretas
visões da realidade e por isso, o desporto para as crianças e jovens requerem
métodos de ensino próprios e adaptados à sua realidade. Em síntese, num período fundamental para as
aprendizagens, aquisições e transformações de ordem motora, psicológica,
intelectual e outras, a valorização das actividades ou tarefas a desenvolver
marca de um modo irreversível o crescimento e desenvolvimento da criança e do
jovem (Lima, 1990), obviamente sem descurar a participação estruturada e
devidamente organizada nas competições desportivas.
Destaques:
“A competição deve ser entendida como um factor
cultural que possa ser considerada como motor de progresso e desenvolvimento
humano”“Deve o desporto para as crianças e jovens
incluir competições? Respondemos claramente que sim”“A competição para as crianças e jovens é vista,
por elas como um acto de afirmação de competência, de capacidade, e não como um
acto de afirmação de superioridade sobre os adversários, tal como acontece
muitas vezes no desporto para adultos”
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