Dra. Cheila Martins - Psicóloga cheilamartins@hotmail.com Era uma vez uma menina que se sentia muito infeliz com o seu corpo. Considerava que tinha uns KILOS-de-calorias a mais, que o 36 já não lhe assentava tão bem, que a dobrinha que fazia quando se sentava não era nada sexy e que o biquíni ficava mais justo que o desejado. Andava triste, cabisbaixa, voltada para si. Daí até ter começado a fazer dieta, foi um pulinho. Era tão bom que eu pudesse rematar a história com um final feliz como: E procurou um dos excelentes profissionais de nutrição e dietética, que temos na nossa praça, iniciou um programa de perda de peso e ao fim de algum tempo, já tinha atingido o peso desejado. Pois, mas parece que não. Esqueça as últimas linhas, vamos refazer a história. Começou a reduzir nos alimentos que ela considerava nefastos até deixar de os comer. Não contente com o resultado imediato, aboliu-os completamente da dieta. Ainda assim, o espelho era um ditador que não mostrava a imagem desejada. O esforço teria de ser maior e deu por si a reduzir globalmente as quantidades. Era uma luta taco-a-taco que, quase sem se perceber como nem porquê, passou a ser uma luta pela vida. Esta podia ser a história de muitas das (maioritariamente) mulheres que sofrem, diariamente e durante longos períodos, de anorexia. Ao contrário dos muitos que oiço que relativizam esta patologia, a anorexia é uma doença, que é caracterizada pela restrição da ingestão de alimentos, devido à obsessão pela magreza e ao pânico de poder vir a aumentar o peso. Isto é acentuado porque há uma perturbação na percepção do esquema corporal e a recusa alimentar é apenas uma consequência dessa distorção. No entanto, esta patologia não é assim tão simplista e linear como pode parecer. Ainda que o enfoque continue a ser o alimento, o paciente pode adoptar comportamentos: restritivos, quando a perda de peso é concretizada através de uma dieta, jejuns ou exercício excessivo; ou purgativos, quando se trata de uma compulsão alimentar seguida de vómitos auto-induzidos e uso indiscriminado de laxantes ou diuréticos. O assunto tem tanto de grave como de complexo, uma vez que pode causar danos irreversíveis ao organismo, desenvolver outras patologias associadas e, no extremo, conduzir à morte. Cada caso é um caso, mas se há estudos que revelam a prevalência da patologia em familiares, outros apontam o dedo à nossa sociedade, que prima por ter uma relação peculiar com as questões da alimentação. Se é frequente aparecerem publicidades a tratamentos que prometem perder este ou aquele pneuzinho, com corpos magros, bronzeados e tonificados, também somos parte de uma sociedade que tem lugar cativo à mesa. Somos da geração dos jantares de negócios, do lanchinho com as amigas, do happy hour depois do trabalho, do almocinho all you can eat, do chá do bebé durante a gravidez e por aí fora… Todas são poucas razões para nos sentarmos numa mesa farta. E que bem que nos sabe! Mas se isso não estiver a ser tão saboreado pela pessoa que está ao seu lado, fique atento: insónias, rápidas mudanças de humor, queda de cabelo, pele ressequida e amenorreia, serão certamente indicadores claros de que deveremos estar em alerta para os tiranos dos kilos-de-calorias! Depois de avaliar a gravidade, de perceber que não há uma causa específica, de compreender a envolvência da sociedade, é de esperar que queira prevenir. Pois aí está! Não tendo uma causa específica, torna-se difícil ditar procedimentos preventivos. No entanto há determinados comportamentos que, quando adoptados, fomentam o bem-estar intra e interpessoal. São trunfos a utilizar para sempre: ajude a desenvolver uma auto-estima positiva, valorize, elogie, ame; estimule a autonomia e não fomente a dependência, as quedas são indispensáveis ao processo de aprender a andar sozinho; respeite os espaços, o tempo, o silêncio; incentive o diálogo e a expressão de sentimentos; e cultive relações positivas entre a família, no fim são eles que ficam, quando todos já foram embora. |
0 Itens
