JANEIRO 2013
PRIMEIROS SOCORROS EM FERIDAS
Enf. Joana Escórcio - Pós-graduada em Viabilidade Tecidular e Tratamento de Feridas 
joaninha.escorcio@gmail.com

“Ninguém está livre de cair ou se magoar”, já diz a velha expressão e parecem haver épocas (como o Natal e Fim de Ano!) mais propícias a que pequenos acidentes aconteçam. O convívio com a família e a azáfama desta época, leva-nos muitas vezes a desvalorizar aquele pequeno golpe ou queimadura e atrasar a ida a um serviço de saúde. 

Pois este tipo de comportamento pode levar a que a resolução do seu problema seja prolongada no tempo e possam, no entretanto, ocorrer outras complicações que atrasem ainda mais a cicatrização. Conheça pequenas medidas que podem ajudar a si e à sua família e desmistifique algumas crenças à volta do tratamento de feridas.

Crenças e mitos em torno do tratamento de feridas

O ato de tratar de feridas é tão antigo como a medicina em si. Ao longo da história, têm sido utilizados emplastros de ervas, de mel, feitas lavagens com infusões e chás, aplicações de azeite de louro… e muitos desses tratamentos persistiram, continuando a ser aplicados ainda hoje por serem entendidos como “melhores” do que as opções atuais. O uso destes produtos não é visto pelos profissionais de saúde com bons olhos, muito pelo estado de agravamento em que as feridas lhes chegam depois da sua aplicação. Na verdade, muitos destes produtos já são incluídos em pensos e soluções usados hoje em dia, contudo foram estudadas as doses terapêuticas adequadas para a nossa pele e organismo. São manipulados e purificados em laboratórios, tornando mais segura a sua utilização.

Uma última crença a desmistificar- “As feridas ao ar livre cicatrizam mais depressa!”. Pois já o pai do tratamento de feridas por terapia húmida, Winter (1962), demonstrou que a cicatrização de feridas é mais rápida num ambiente tapado e húmido do que numa crosta. O penso para além de proporcionar o ambiente ótimo à cicatrização, protege de novos traumas e impede a entrada de microrganismos que possam causar infeção.

Quanto a material de primeiros socorros a ter em casa para qualquer imprevisto, é bom precaver-sese com um kit, contendo algumas compressas (tamanho 10x10), adesivo, uma ligadura, um frasco de soro fisiológico, uma solução antisséptica (betadine ou solução de clorohexidina) e um creme para queimaduras aconselhado por um profissional de saúde.

Primeiros socorros em feridas superficiais

Um corte superficial, de pequenas dimensões, depois de lavado com água própria para consumo e feita alguma compressão para estancar a hemorragia, normalmente é resolvido com o penso simples. Se a colocação do penso promover a união dos bordos da ferida, ao fim de 10 a 15 dias a mesma cicatrizará. Existem pontos-autocolantes (chamados na gíria de enfermagem cicagrafos ou steri-strips) que ajudam nesta aproximação.

Os habituais “raspões” e “esfolões” devem ser lavados com água ou soro com maior pressão para tentar remover o máximo de materiais estranhos (terra, pedras, alcatrão). Aconselha-se a proteção com penso simples e a ida ao Centro de Saúde assim que possível. Existem disponíveis nas farmácias películas não aderentes (ex.: as compressas gordas) e pomadas com pequenas percentagens de antissépticos que impedem que o penso adira e provoque dor. São alternativas até que o tratamento por um profissional seja possível. A cobertura da ferida por si só diminuirá a dor. Não se aconselham soluções antissépticas, nos primeiros três dias. 

Primeiros socorros em feridas profundas

Uma ferida profunda, em que seja difícil controlar a hemorragia, tem indicação para encaminhamento a um serviço de urgência, para que seja observada e suturada (ou seja cozida). O período ótimo para o fazer é entre as 4h-8h após o trauma. Ultrapassado este período, a ferida terá de cicatrizar por segunda intenção, podendo este processo levar mais de 15 dias. Um penso simples ou um material limpo que não liberte fibras (como um lençol de algodão) pode ser utilizado para compressão. A pele “levantada” não deve ser cortada! Os bordos poderão ter viabilidade para serem aproximados com sutura. 

A exposição de estruturas nobres como tendões, vasos sanguíneos (veias/ artérias) ou osso, tem indicação imediata para ser visto por uma equipa de saúde. A amputação de um membro ou de extremidades (dedos), com o adequado acondicionamento da estrutura e quando intervencionada dentro do período das 4h-8h, pode restaurar quase na totalidade a sua função. Para além de cobrir o coto com material limpo, a região amputada deve ser acondicionada em recipiente com soro fisiológico que, por sua vez, deve ser envolto em gelo e levado o quanto antes a um serviço de urgência.

As feridas por estilhaços de vidro, anzóis ou pedaços de madeira, necessitam de proteção, sem pressão extrema, até ao serviço de urgência. Os objetos não devem ser removidos! Para além dos fragmentos se poderem partir, a sua remoção pode lesar algum vaso sanguíneo ou estrutura adjacente à pele, originando hemorragias e perdas de mobilidade.

Em qualquer caso, faça-se sempre acompanhar do seu boletim de vacinas. A vacina anti- tetânica atualizada previne complicações por tétano!

Mordeduras de animais

As mordeduras por animais merecem outra atenção, uma vez que são mais suscetíveis a infeções, pela variedade de bactérias que a boca contém. Quando superficiais, a lavagem com água, a aplicação de um antisséptico e colocação de um penso são a indicação. Devem ser observadas por profissionais de saúde assim que possível. 

Se a mordedura for profunda, com arrancamento de camadas da pele, é necessário recorrer ao serviço de urgência. Estas feridas, dependendo do risco para infeção, poderão não ser suturadas, para possibilitar a sua irrigação frequente e o controlo da carga bacteriana. Pode ser recomendada pelo médico a utilização de um antibiótico.

Queimaduras

A intervenção nas queimaduras depende da profundidade da lesão e do tipo de queimadura (térmicas, químicas, elétricas, por radiação). A primeira indicação é eliminar a fonte de lesão - apagar o fogo, afastar o objeto quente ou o químico. O segundo ponto é a lavagem com água tépida (quase fria) corrente, em abundância, durante 10 a 15 minutos, ou mais. Se possível, remover roupa ou sapatos na zona da queimadura. Contudo, se provocar muita dor, evitar mais trauma. Tratando-se de uma queimadura superficial, deve ser aplicado um creme hidratante e prevenido novo trauma nessa zona (quer com a colocação de penso ou o uso de roupa comprida).
Recomendam-se cremes com pantenol, mentol ou cremes vitaminados. Se apresentar bolhas, não as rebente! Recorra a um serviço de saúde para as aspirar ou mesmo desbridar, com material apropriado e esterilizado. 

Queimaduras mais profundas e extensas devem ser encaminhadas a serviços de urgências. É importante controlar o estado geral da pessoa queimada. Não estando estável, contacte uma ambulância para o transporte, pois a situação destes doentes pode agravar-se rapidamente.

Utentes com má circulação e diabéticos

Os tratamentos de feridas traumáticas neste tipo de utentes não devem ser realizados em casa, para que não haja atrasos na cicatrização. Pessoas com varizes salientes deparam-se, por vezes, com hemorragias extensas por rutura das mesmas. Controle a hemorragia com um penso bem absorvente, compressivo, envolto numa ligadura que faça alguma pressão e eleve a perna. Para ajudar a estancá-la, coloque também um saco de gelo sobre a ligadura para promover a vasoconstrição local. Recorra ao serviço de urgência para verificar se a hemorragia está controlada e se a sua perda de sangue inspira outros cuidados. Os utentes diabéticos devem pedir observação das suas feridas por um profissional de saúde, o mais rapidamente possível. Pequenos traumas podem levar a consequências graves, como sejam as amputações.

A prevenção é palavra de ordem em saúde e a área das feridas não foge à regra! É importante o controlo das suas doenças crónicas de base (diabetes, hipertensão, epilepsia), a boa hidratação e alimentação para que o mal- estar e quedas sejam evitadas. Os apoios para a marcha (bengalas, tripés, andarilhos) devem ser utilizados, sem preconceitos. Nunca é demais salientar a importância da segurança rodoviária, dos cuidados a ter com o Sol e com o manuseamento de produtos químicos, tão promovidos pelas autoridades de saúde locais. Os animais de estimação, embora sociáveis, têm um comportamento imprevisível pelo que devem ser mantidos em segurança e com vacinação atualizada. O uso de meias elásticas e calçado adequado em utentes com varizes e diabetes previnem consequências graves. Peça mais informações à equipa de saúde do seu Centro de Saúde sobre os cuidados a ter e conte com ela para o ajudar.


 


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