OUTUBRO 2012
AVóS: O PODER DO PASSADO
Enf.ª Graça Mendes e Enfª Vera Lúcia Pestana 
Enfermeiras Especialistas em Desenvolvimento Infantil

Sempre se deu muita atenção ao papel dos pais, e com muita razão, mas os avós não deverão ser esquecidos, pois normalmente estes são uma extensão dos pais. A aprendizagem e a adaptação ao stress são uma parte importante da experiência destes membros da família e muitas vezes sabem transmiti-lo como ninguém. Trazem a bagagem dum passado que só eles têm tempo de adquirir, algo valioso na formação do “eu” da criança. A nossa cultura e os nossos valores são muitas vezes mais facilmente transmitidos pelos avós do que pelos pais, cujo papel predominantemente disciplinar constitui uma grande carga. Esta é a razão pela qual hoje resolvemos escrever um pouco para os avós e também para os pais. Baseamo-nos em dois grandes nomes da pediatria moderna: Brazeltom e Sparow e, como tal, procuraremos transmitir as suas convicções em conjunto com a nossa experiência na relação com as famílias, que escutamos e aconselhamos no nosso dia-a-dia como enfermeiros de saúde infantil, em diferentes situações de vida e idades. 

As crianças muitas vezes estão mais prontas a ouvir os avós e a obedecer aos pais. Como sempre, há que relembrar o grande princípio de que as crianças aprendem mais com os modelos que vêm, do que com os conselhos que ouvem. Quando ambos os pais trabalham, têm realmente muita sorte quando os avós podem estar por perto, no entanto, esta tendência tende a diminuir com o aumento da idade da reforma e com a conjuntura financeira que se vive atualmente. 

Concordamos que, de qualquer forma, o apoio emocional continua a ser muito importante. Os avós que estão disponíveis podem ajudar os pais a estarem um com o outro. O apoio na relação entre o casal torna-se imperativa, tendo em conta as atuais dificuldades sentidas na nossa sociedade. Permitir uma noite ou um fim-de-semana tranquilo a sós é uma fonte de aquisição de energia, tão necessária e fundamental para o bem-estar de um casal e bom ambiente familiar. 

O relacionamento pais-avós pode ser invadido por uma competição natural. Quando expressas cuidadosamente, as convicções firmes dos avós, apresentadas quando solicitadas, são extremamente úteis. Os pais podem ficar profundamente magoados se sentirem que os avós não os vêm como suficientemente competentes, para educarem os filhos. Não há pais perfeitos e a parentalidade é um processo de tentativa - erro. Estes são dois princípios dos denominados “touch points” que Brazelton desenvolveu na sua teoria e respeitados na comunidade científica de todo o mundo. 

Um avô e uma avó que queiram ser úteis, devem estar prontos a ouvir e especialmente a oferecer aos pais um porto seguro para ultrapassarem os seus erros, apesar de muitas vezes ser difícil não interferir e ver os problemas a se avolumarem. Da nossa experiência, apercebemo-nos que as famílias precisam umas das outras e muitas vezes são os próprios a admiti-lo com convicção. Os pais precisam dos seus pais. Os avós e os tios são figuras de suporte, funcionam como elementos de referência. Cada geração deve compartilhar as suas preocupações com as outras. Os pais oferecem aos filhos uma base firme, mas os avós e os tios oferecem opções. 

Os avós podem também ajudar nos tempos em que a criança luta pela sua autonomia e os pais tendem a controlá-la. Não deverão tomar partido, mas sim ouvir ambas as partes, perceber as preocupações dos pais e não se centrarem inteiramente na criança. Ao cuidarem dos netos, podem também proporcionar uma continuidade de comportamentos familiares à criança, que nenhum estranho pode dar. 

Linhas condutoras para os avós, segundo Brazelton:

Seja ouvinte atento e reservado em dar conselhos;
Não corra ao auxílio duma criança pequena sempre que esta tiver dificuldade em cumprir uma tarefa;
Faça dos seus encontros com os netos um ritual. Conte-lhes uma história do antigamente, quando os pais eram pequenos;
Não trate todos os netos do mesmo modo, procure fazer com que cada um seja especial;
Converse antecipadamente com os seus filhos sobre os acordos que fazem com os netos. Discuta com os filhos as prendas a lhes dar e evite oferecer muitos bens materiais;
Ofereça-se para lhes dar assistência quando precisarem de si;
Procure que a sua casa seja um ponto fulcral para momentos festivos e encontros regulares com a família;
Respeite os esforços na disciplina dos seus filhos. Uma sugestão é mais bem aceite do que uma crítica;
Aconselhe-os quando o solicitarem. Ofereça coisas mais valiosas como apoio, amor, experiência, carinho e um sentido de força e estabilidade;
Quando estiverem longe, mantenham-se em contacto;
Quando achar que os seus filhos estão a ser bons educadores, diga-lhes isso. Todos nós precisamos de elogios, em qualquer idade…Incentive-os a continuarem.

Um neto é um milagre, mas um relacionamento renovado com os filhos, é um milagre ainda maior. Ser avó ou avô envolve uma grande diplomacia que se adquire com o tempo e com as experiencias.

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