AGOSTO 2012
REABILITAçãO ORAL
Ao longo dos últimos anos, a medicina dentária conheceu uma grande evolução a nível tecnológico, com impacto não só ao nível dos resultados, mas também da experiência vivida pelos pacientes. O Dr. António Narciso, médico dentista, fala em entrevista sobre os tratamentos actualmente disponíveis ao nível da reabilitação oral.

Em que consiste a reabilitação oral?
De uma fora muito simplista, a reabilitação oral consiste em substituir dentes perdidos por prótese fixa ou removível. Hoje em dia conseguimos resolver casos que, há cerca de apenas dez anos atrás, eram de resolução muito complicada. Isto deve-se à forte evolução técnica ocorrida entretanto na medicina dentária, sobretudo ao nível da implantologia, como também no que respeita a técnicas laboratoriais. Por exemplo, actualmente usamos tecnologia digital para fazer as estruturas das próteses fixas, o que torna o processo mais rápido e preciso. Podemos reabilitar desde a perda de um único dente até de toda a dentição. Há dois tipos de reabilitação: fixa e removível. Nas próteses removíveis, as mesmas poderão ser esqueléticas ou acrílicas. Nas fixas, temos a hipótese de as fazer sobre dentes, se o paciente tiver dentes com condições para reabilitar, ou então, quando não há dentes, sobre implantes. Os tratamentos com próteses removíveis são mais económicos, mas não dão o mesmo conforto que os tratamentos fixos, tanto a nível funcional como estético. 

Como é decidido qual o caminho a seguir em termos de tratamento? 
Tem de ser feita uma avaliação caso a caso e a decisão será feita tomando em conta o estado da dentição do paciente, entre outros critérios de diagnóstico. Imaginemos, por exemplo, uma situação em que faltam duas peças dentárias. Se os dentes ao lado já estiverem comprometidos, isto é, com restaurações extensas e/ou desvitalizados, então a opção mais lógica e sensata talvez passe por fazer uma prótese fixa, apoiada nesses dentes. Mas quando os dentes vizinhos estão íntegros, seria uma falta de consciência mexer nesses dentes, pelo que a melhor opção passará pelos implantes. Agora, claro que a parte monetária também será importante ao nível da decisão sobre o caminho a seguir, uma vez que existe uma grande diferença de valores, quando falamos de próteses fixas e de próteses removíveis. O papel do médico dentista passa também por informar sobre os tratamentos que são possíveis em cada caso, vantagens e desvantagens e quais os resultados que poderão ser alcançados, de modo a que o paciente tome uma decisão informada.

Que exames são utilizados para fazer o diagnóstico?
Todos os casos têm de ser criteriosamente avaliados, fazendo exames de diagnóstico. Inicialmente, é fulcral uma radiografia panorâmica. Em caso de necessidade, também podemos recorrer a outras ferramentas de diagnóstico, como um TAC maxilar, modelos de estudo, fotografias, que permitam fazer o estudo completo do caso. Isto nos casos mais complexos, uma vez que para uma reabilitação mais simples, como a colocação de apenas um dente, não será necessária uma panóplia tão grande de exames. Mas quando temos de fazer uma reabilitação extensa, é necessário fazer um estudo mais minucioso. Após a realização destes exames, fazemos, através de um modelo de gesso, uma previsão de como irá ficar a dentição após o tratamento, de modo a podermos mostrar ao paciente e avaliarmos se é o que ele pretende.

É importante para o paciente ter acesso a esta visualização prévia?
Sem dúvida. Até porque funciona como fator de motivação. Infelizmente, muitas pessoas ainda enfrentam os tratamentos com bastante receio. Mas os tratamentos conheceram uma evolução enorme e, hoje em dia, já não têm nada a ver com as experiências que as pessoas tiveram na infância ou adolescência, que muitas vezes estão na génese desse medo. Na verdade, acredito que há muita gente que, talvez por falta de informação, adie por muito tempo o tratamento devido a este tipo de receio e isso é algo que temos que tentar alterar. Há pessoas que chegam ao ponto de ter dificuldades em mastigar e, como tal, de se alimentar. E isto nem sempre acontece por não terem possibilidades económicas para fazer o tratamento, mas sim devido a esse receio infundado.

O que será necessário fazer para acabar com esse “medo” da ida ao dentista?
Sem dúvida, será preciso apostar cada vez mais na informação e no esclarecimento da população. Felizmente, hoje em dia muitas crianças já vêm à consulta com agrado, portanto, está a ocorrer uma mudança de mentalidade que é importante. Penso que isto decorrerá, em parte, daquilo que elas aprendem na escola e também do papel dos colegas Médicos Dentistas e do grupo de saúde oral. Também ainda persiste entre a população a ideia errada de que há tratamentos que não se fazem aqui na Região, o que não corresponde à verdade uma vez que, hoje em dia, existem na Região várias clínicas com profissionais qualificados para fazer este tipo de reabilitação.

Quanto tempo poderá durar, em média, um tratamento?
A duração do tratamento varia muito, uma vez que depende do caso específico do paciente. Por exemplo, se se tratar apenas de um dente, poderemos até conseguir colocá-lo no próprio dia. Agora, claro que isto é algo que não será possível em todos os casos. As reabilitações mais extensas podem levar mais de um ano: primeiro são colocados os implantes e uma prótese provisória, que pode ser fixa ou não. Depois, é necessário modelar a gengiva com a forma anatómica dos dentes e só depois disso é retirada essa prótese provisória e, caso tenhamos um resultado dentro do que pretendemos, avançamos para a colocação da prótese definitiva. O tratamento pode ser bastante demorado, mas normalmente, a partir do momento em que colocamos os dentes fixos provisórios, o paciente já sente uma grande satisfação, o que serve de motivação para a continuação do tratamento.

Que cuidado deverá ter o paciente após uma intervenção?
Na primeira semana, deverá comer essencialmente alimentos mais líquidos e pastosos, sendo que no primeiro dia, deverão ser alimentos mais frios. A partir daí, há um período de cicatrização dos implantes, que andará à volta dos quatro meses, mas que poderá variar um pouco conforme a qualidade e quantidade do osso do paciente. Durante esse período, o paciente terá que ter cuidado para não partir a restauração provisória, que é feita em acrílico. Mas poderá fazer uma alimentação normal, tendo alguns naturais cuidados para não comer alimentos muito duros.

Hoje em dia é raro “chumbar” um dente?
É muito raro, sobretudo em função da evolução ocorrida a nível de materiais restauradores ao longo das últimas duas décadas. Mas a amálgama é um material que, apesar de tudo, tem garantias de durabilidade. Há estudos que dizem que pode ser prejudicial para a saúde devido ao perigo da libertação de mercúrio, mas esse perigo ocorre sobretudo aquando da sua remoção, pelo que, na minha opinião, é preferível deixá-lo estar. Se, eventualmente, uma restauração com amálgama (“chumbo”) tiver de ser substituída, aí sim, já vale a pena colocar uma resina ou cerâmica. Mas, no caso de dentes posteriores em que não existe um prejuízo estético para o paciente, e a restauração se encontra em bom estado, não recomendo a sua substituição.

Há alguns pacientes para quem não seja recomendável fazer a reabilitação?
Efectivamente há alguns cuidados a ter em atenção. Por exemplo, ser fumador não é uma contra-indicação absoluta, mas é algo que é claramente prejudicial. Caso se trate de um fumador que não tem cuidados de higiene oral adequados, terá de melhorar os cuidados com a sua boca e só depois dessa melhoria é que será possível colocar os implantes. O tabaco gera muitos problemas periodontais, a nível de gengivas e osso que servem de suporte aos dentes e que, obviamente, irá servir de suporte aos implantes. Portanto, um indivíduo que tenha muitos problemas periodontais, com perda de dentes derivada da perda dos tecidos de suporte dos mesmos, terá que mudar de hábitos antes de fazer um implante, porque senão terá um risco maior de o perder. Depois, temos ainda os casos de pessoas que têm doenças crónicas, como por exemplo, a diabetes, em que é preciso ter cuidado devido ao risco mais elevado de infeções. Mas, se a doença estiver controlada, não será impeditivo para o tratamento. Agora, nos casos em que um indivíduo tenha estado geral de saúde mau, encontrando-se debilitado, não é conveniente fazer a cirurgia no imediato. 

Quais os benefícios de ter uma dentição completa?
Para além da questão estética, temos também a parte funcional, que é para mim a mais importante. A perda de um dente pode levar a movimentações indesejadas das restantes peças dentárias, que vão provocar desequilíbrios na normal oclusão, com consequências que poderão ser de difícil resolução. Quando deixamos que a nossa dentição se degrade até um ponto em que não podemos, por exemplo, dar uma dentada numa maçã, penso que há um prejuízo óbvio ao nível da nossa qualidade de vida. Agora, claro que também não podemos menosprezar a importância da parte estética, nomeadamente ao nível da auto-estima. E temos que ter em conta que, mesmo em termos sociais e profissionais, é muito importante termos uma boa apresentação, e o estado dos nossos dentes tem um papel fundamental a este nível. 


 


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