JANEIRO 2012
CARTA DE UMA CONSELHEIRA EM ALEITAMENTO MATERNO AOS PAIS
Enf.ª Sílvia Sofia Henriques Oliveira 
Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia
silvia-oliveira@sapo.pt

Amamentar um bebé proporciona na mulher, que o deseja, um enorme prazer. E para o bebé, é-lhe proporcionado o melhor início de vida…

Queridos Pais… O objectivo a que me proponho com a realização desta carta, não é ensinar às mães/casais e às suas famílias como amamentar, nem como ultrapassar algumas dificuldades que possam surgir durante a amamentação, mas sim enumerar algumas sugestões comprovadas pelas experiências de outras mulheres que amamentam e também descritas nos recentes estudos científicos. Acredito que cada mulher/casal é quem conhece melhor o seu filho e a sua realidade, pelo que, perante a informação que dispõe, tem a sabedoria e competências necessárias para adequar essa mesma informação quando surge algum contratempo. As sugestões de actuação têm que ser validadas por si e muitas vezes necessitam de ser adaptadas à sua realidade e às características do seu filho. Não existem receitas para as cumprir rigorosamente, aí está a maravilha de ser mãe e de ser pai…

Antes de mais, quero deixar claro que as dúvidas sobre aleitamento materno são das mais frequentes, relativamente aos cuidados aos bebés, pelo que os pais não se devem inibir em colocá-las, pois nem os bebés nascem a saber mamar, nem os pais sabem como amamentar. É extremamente importante expor sem receio as vossas incertezas ou dúvidas, tendo a noção de que cada dúvida é sempre pertinente. Obter informação sobre a prática da amamentação é uma das estratégias para que possa desfrutar do prazer de amamentar, pois a probabilidade de ocorrerem dificuldades é menor, e na eventualidade destas surgirem, os pais têm conhecimento prévio sobre o que fazer.

Quando falamos em amamentação e nos seus factores de sucesso, não nos referimos simplesmente às práticas relacionadas com as mulheres e bebés, mas também aos pais. Estes são protagonistas fulcrais, na medida em que um pai com uma atitude positiva em relação à amamentação e que apoie a sua mulher quando esta o solicita, contribui muito para o êxito do processo.

A ideia de que a amamentação é um acto natural, bonito e fácil, é uma tela que pintamos quando à primeira vista pensamos numa mãe feliz a dar o melhor alimento produzido pelo seu organismo, a uma criança que mama vigorosamente e com um fácies rosado e que expressa satisfação, acompanhada pelo marido a apoiá-la.

Em parte este cenário é real, isto é, a amamentação é mesmo um processo natural e belo, e podemos estar perante uma situação deste tipo, porém é importante que os pais tenham presente que tal poderá não acontecer, nomeadamente numa fase inicial. O surgimento de algumas dificuldades causadas por diversos factores são passíveis de serem resolvidas, e assim, os pais poderão conseguir ir de encontro ao que idealizaram relativamente à alimentação do bebé.

“Uns dizem uma coisa outros dizem outra…”

Muitas das dúvidas colocadas pelos pais resultam de informações díspares sobre esta temática. É frequente ouvir os casais referirem que receberam orientações diferentes sobre determinado assunto relacionado com o aleitamento materno. A Organização Mundial da Saúde e a Unicef têm vindo a desenvolver algumas medidas no sentido de uniformizar as orientações relativas ao aleitamento materno, porém apesar da situação actual estar melhorada, a divulgação e a formação aos profissionais de saúde ainda não é a desejada. Por outro lado, os casais “sofrem” pressão social e cultural, veiculada principalmente pelos pais, sogros, família alargada e amigos. Torna-se necessário filtrar essas informações e ter em conta que o que sabíamos sobre a alimentação do bebé e aleitamento materno tem vindo a se alterar ao longo dos tempos. Os pais devem seguir orientações actualizadas pela Unicef e Organização Mundial de Saúde e compreenderem a razão ou o porquê de actuarem de uma maneira e não de outra.

Vantagens da Amamentação

Como todos sabemos, o leite materno é a forma mais natural da mãe alimentar o seu filho e como tal, não existe melhor alimento para o bebé. A Organização Mundial de Saúde e a Unicef recomendam a amamentação exclusiva durante os seis primeiros meses de vida, seguida de amamentação parcial até ao segundo ano de vida da criança, no mínimo.

Em termos nutricionais, o leite materno está perfeitamente adaptado às necessidades do bebé de acordo com o seu crescimento, possui todos os nutrientes e a água necessária, é facilmente digerido e utilizado pelo organismo de modo eficiente; e do ponto de vista imunológico é inigualável, protegendo a sua saúde como nenhum outro alimento. Favorece o desenvolvimento orofacial e cognitivo e os estudos científicos apontam que a longo prazo previne o aparecimento de diabetes, linfomas, obesidade infantil e confere melhor adaptação quando o bebé iniciar a ingestão dos outros alimentos. Num estudo de 2011, galardoado com o Prémio de investigação científica Dr.ª Maria Odette Ferreira-Santos, concluiu ainda que, as crianças alimentadas em exclusivo com leite materno durante mais tempo, têm menor probabilidade de contrair a infecção pela bactéria helicobacter pylori, que pode causar cancro do estômago.

A amamentação também favorece a saúde da mãe: facilita a contracção uterina (para que o útero volte ao tamanho anterior à gravidez), facilita a recuperação do seu peso, reduz a incidência do cancro do ovário e da mama antes da menopausa, diminui a incidência de osteoporose, reduz em 37 por cento o risco de enfarte cardíaco e é obviamente, vantajosa em termos económicos e ecológicos.

O vínculo que se forma entre o par de amamentação mãe/filho é muito forte, reforçando a afectividade entre ambos. Por outro lado, os bebés amamentados são geralmente bebés mais calmos e meigos. Tanto a mãe como o filho saem desta experiência mais enriquecidos e com uma maior segurança e auto-estima. Em termos familiares, também tem vantagens, pois reforça os laços de afecto estabelecidos entre todos os elementos da família.

Contudo, a falta de informação e apoio prático levam a que muitas mães, apesar de conhecerem todas estas vantagens, não consigam superar as dificuldades no decorrer da amamentação e esta se torne, em vez de um prazer, uma situação desesperante, o que leva ao abandono precoce da mesma. Conversar com um profissional com formação específica actualizada nesta área é na maioria das vezes, suficiente para que os pais possam identificar a causa do problema, ou até mesmo validar as práticas adoptadas. Para além de outros apoios, a que os pais podem recorrer, existe o site www.sosamamentacao.org.pt, onde podem encontrar o apoio de um voluntário especializado na área da amamentação, 24 horas por dia.

Numa próxima edição, enumerarei algumas das dificuldades e dúvidas mais frequentes durante o processo de amamentação, com as respectivas sugestões de actuação.

E assim, despeço-me com a certeza que farão um excelente trabalho na vossa missão de pais. A todos os pais os meus Parabéns.

Conselheira em Aleitamento Materno e voluntária na linha SOS amamentação.


 


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