JANEIRO 2012
HERPES ZóSTER
O herpes zóster, conhecido como “Zona”, é provocado por uma infecção viral, ocorrendo principalmente em pessoas que já tiveram varicela. O Dr. António Caldeira Ferreira, médico especialista em Medicina Interna, alerta para a necessidade de tratar atempadamente esta doença, de modo a diminuir a probabilidade de sequelas como a dor neuropática.

Em que consiste o herpes zóster?
Consiste numa infecção provocada por um vírus herpes, que está também na origem da varicela. Há dois grandes tipos de herpes: o herpes simples e o herpes zóster. O herpes simples tem duas formas: o tipo 1 (que dá nos cantos da boca e às vezes nos dedos das mãos e que é muito comum) e o tipo 2, que é o herpes genital, cuja erradicação é muito complicada. Depois, temos o herpes zóster, que pertence aos alfa herpes vírus e que tem dois tipos de manifestações: a mais comum é a varicela, que costuma dar em crianças. O vírus da varicela cura-se, mas pode ficar acantonado nalguma parte do nervo, seja ao nível dos pares cranianos, seja ao nível dos nervos periféricos, nomeadamente os que partem da coluna para o tórax. Em qualquer altura da vida em que a imunidade, por qualquer razão, está diminuída, esse vírus pode recrudescer.

Isto só acontece em pessoas que já tiveram varicela?
À partida, sim. No entanto, sublinho que a vacinação pode evitar a varicela, mas não evita totalmente a possibilidade de o herpes zóster aparecer mais tarde na vida. A varicela cura-se e há uma imunidade que se consegue através da produção de anticorpos contra o vírus, mas este fica “adormecido” na zona dos nervos, e pode recrudescer durante a vida, principalmente a partir dos 50 anos, quando a imunidade celular fica menos efectiva. Fundamentalmente, a doença aparece em indivíduos que têm a sua imunidade diminuída por qualquer razão. 

Quais os principais sinais e sintomas do herpes zóster?
Na fase aguda, o primeiro sintoma costuma ser o aparecimento de dor, na maior parte das vezes nas costas, na zona dorsal. É uma dor intensa, que se agrava com os movimentos e que é muito semelhante à dor que é sentida quando temos um problema muscular. Este sintoma ocorre muitas vezes sem que tenham aparecido as lesões na pele, o que faz com que, nesta fase, se torne bastante difícil fazer um diagnóstico. Passados dois a três dias começam a aparecer lesões, que começam por ser pequenas vesículas, depois passam a pústulas e posteriormente acabam transformar-se numa pequena crosta. Estas lesões caracterizam-se por um prurido muito intenso, ou seja, dão muita comichão, e por serem muito dolorosas, sendo que muitas vezes o doente quase nem consegue vestir a roupa por cima, tal é a intensidade da dor. Costumam localizar-se no nervo que parte das costas e vem até à parte frontal do corpo, pela altura do tórax: aparecem aí, confluentes, várias vesículas, pústulas e crostas, com dor e comichão. Em casos mais raros, em que a imunidade está muito comprometida, como por exemplo nos indivíduos que têm Sida, o vírus pode generalizar-se e aparecer noutras partes do corpo ou um pouco por todo o corpo. Isto também pode suceder em pessoas que tiveram de fazer quimioterapia para tratamento de um tumor, por exemplo, ou qualquer outra situação que leve a esta descida pronunciada da imunidade. A evolução natural é que as vesículas vão secando a partir de determinada altura, passando para pústulas e depois para crostas. Mas podemos encontrar, na mesma zona, as três em simultâneo: vesículas, pústulas e crostas, sempre com bastante dor. Passados 10 dias, habitualmente, há uma resolução progressiva de todas aquelas lesões, na maior parte das vezes sem deixar cicatrizes.

Depois de ter herpes zóster uma vez, é possível voltar a ter a doença?
É possível, mas isso só acontece em cerca de 5 por cento dos casos. Portanto, é bastante raro, a não ser que, por qualquer razão, o indivíduo fique novamente com a imunidade bastante diminuída, em cujo caso as probabilidades de voltar a ter herpes zóster aumentam. O problema mais complicado que decorre desta doença é a dor que pode ficar como sequela. A dor costuma permanecer cerca de um mês, mesmo que as crostas tenham desaparecido e que tenha havido uma cura, mas em alguns casos, a dor permanece durante meses ou até anos: é a chamada dor neuropática. Na Unidade da Dor, onde eu trabalho, temos vários doentes que ficaram com dor neuropática como sequela do herpes zóster, sendo esta extremamente difícil de controlar, mesmo utilizando não só analgésicos tomados por via oral, como também anestésicos tópicos. Esta nevralgia é extremamente difícil de controlar e por vezes até de diagnosticar, porque tendo na sua origem uma infecção herpética, podem não aparecer as lesões na pele que costumam caracterizar esta doença e, sendo assim, o sintoma que é apresentado (a dor) pode ter diversas causas. 

Qual é o modo de transmissão do herpes zóster?
Um indivíduo que contacte com alguém que tem herpes zóster ou que toque nas lesões, tem entre 30 a 40 por cento de hipóteses de se infectar. O grau de infecciosidade é menor que na varicela (60 por cento), mas continua a existir e devido a isto, é preciso ter alguns cuidados para evitar a transmissão aos familiares ou às pessoas que tratam ou convivem com o doente. Outro factor que há que ter em conta é que, enquanto a varicela é mais frequente nos países mais frios e se dá mais no Inverno e na Primavera, já o herpes zóster não tem nenhuma estação predilecta, podendo aparecer em qualquer época do ano. Nos países mais quentes, a varicela tem uma menor incidência e o herpes zóster também.

Qual é o tratamento indicado para esta doença?
Se o tratamento for efectuado logo no início da doença, a cura é mais rápida e eficaz. Não temos uma forma eficaz de prevenir a dor neuropática que poderá ficar como sequela, mas quanto mais cedo o tratamento se iniciar, menores serão as probabilidades de o doente ficar depois com a dor. O tratamento consiste fundamentalmente na administração de um antivírico, o aciclovir, que impede a replicação do vírus. Para além deste, usamos ainda outros fármacos para tratar o prurido – nomeadamente cremes tópicos e antihistamínicos, para retirar a sensação de comichão – e a dor, com o recurso a analgésicos, que por vezes têm de ser potentes. 

É possível fazer uma vida normal estando doente e em tratamento?
Sim, mas com sacrifício, uma vez que a dor é extremamente incomodativa. Muitos indivíduos conseguem trabalhar, mas possivelmente não com o mesmo rendimento. Sublinho que o apoio psicológico pode ser bastante importante, tanto na fase aguda da doença como na fase crónica. O suporte psicológico é fundamental para lidar com qualquer tipo de dor, mas especialmente em casos como estes, em que as pessoas estão a trabalhar e têm uma vida activa. De resto, é também importante fornecer informação não só à pessoa doente, mas também à família, para diminuir o perigo de contágio. 


 


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