JANEIRO 2011
RESISTêNCIA A ANTIBIóTICOS
Dr. João Cerqueira - Farmacêutico
joao.cerqueira@farmaciadocanico.pt

A capacidade de curarem doenças infecciosas, confere aos antibióticos uma fama que em muito ultrapassa as suas propriedades farmacológicas. Contudo, o seu uso excessivo ou inadequado, na medicina humana e veterinária ou actividade agrícola, contribui para um crescimento rápido de estirpes de microrganismos resistentes aos antibióticos. Este fenómeno tem um elevado impacto na saúde pública.

A resistência aos antibióticos resulta da transferência de características genéticas de resistência, entre microrganismos da mesma espécie ou de espécies diferentes. De um modo geral, quanto mais for utilizado um determinado antibiótico, maior é a possibilidade de surgir uma resistência nas populações de bactérias, tornando-o menos útil como arma terapêutica. Uma bactéria é considerada resistente a determinado antibiótico quando continua a multiplicar-se na presença de níveis terapêuticos desse antibiótico, ou seja, o antibiótico perde a capacidade de controlar o crescimento ou a morte bacteriana.

Os antibióticos são usados em medicina humana e veterinária para tratar doenças causadas por bactérias e, nalguns casos, para prevenir infecções bacterianas (como por exemplo: antes de intervenções cirúrgicas). São ainda usados como promotores de crescimento em animais que fazem parte da cadeia alimentar (actividade pecuária) e como pesticidas para controlar infecções bacterianas em campos de cultivo (actividade agrícola), nomeadamente de cereais.

Quando uma bactéria é susceptível a determinado antibiótico, é destruída por acção do mesmo, no entanto as bactérias resistentes são as únicas a proliferar mesmo na presença do antibiótico. Deste modo, estas bactérias resistentes permanecerão no local de infecção e tornam-se predominantes após acção sucessiva de antibiótico.

O principal factor favorecedor da resistência aos antibióticos, e que se relaciona directamente com os hábitos terapêuticos, do qual temos que tomar consciência, é a pressão de selecção exercida pelo uso intensivo, muitas vezes excessivo, da antibioterapia. O perigo da utilização intensiva de antibióticos ultrapassa, muitas vezes, o domínio médico, pois estes são também largamente utilizados na criação de gado, piscicultura, indústria alimentar, etc.

A resistência aos antibióticos é um traço genético que é transmitido à descendência das bactérias. Na presença do antibiótico, as bactérias susceptíveis vão sendo destruídas, levando à predominância das bactérias resistentes. Quando tomamos um determinado antibiótico com muita frequência, iremos cada vez mais manter bactérias resistentes a esse antibiótico no nosso organismo. Como as bactérias também podem ser transmitidas, bactérias resistentes podem ser transmitidas a outros indivíduos que nunca tomaram esse antibiótico. Deste modo, o uso de antibióticos e a resistência bacteriana a esses mesmos antibióticos, podem afectar uma comunidade inteira.

As infecções bacterianas são mais difíceis de tratar, e também muito mais dispendiosas, quando são provocadas por bactérias com resistência a algum antibiótico. São necessárias mais consultas médicas, eventualmente mais análises clínicas ou mesmo uma hospitalização e a utilização de outros antibióticos, porventura mais caros.

A resistência aos antibióticos é uma realidade inultrapassável, como consequência, estamos mais próximos da era pré-antibióticos, confrontados com a impossibilidade de tratar infecções bacterianas. Os doentes podem contribuir para alterar o actual status quo da situação:

•    Tomando apenas antibióticos por indicação expressa do seu médico;
•    Não pressionando o seu médico ou farmacêutico para obter antibióticos;
•    Cumprindo escrupulosamente a posologia indicada e tendo especial atenção aos horários das tomas;
•    Respeitando a duração indicada do tratamento, mesmo que já tenha ocorrido uma cura aparente.
•    Sobras eventuais de antibiótico, após tratamento, devem ser entregues na sua farmácia (Programa Valormed).

Não inicie a toma de antibiótico que tenha sobrado de uma anterior infecção. A utilização de um antibiótico pressupõe uma prévia consulta médica. A constipação e a gripe não devem ser tratadas com antibióticos porque estes não produzem qualquer efeito nestas situações.

Os antibióticos não são todos iguais, diferem entre si no espectro de bactérias sobre qual actuam, dose, duração de tratamento, efeitos secundários e locais do organismo onde conseguem actuar.

Director Técnico da Farmácia do Caniço


 


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