OUTUBRO 2010
ÉPOCA DE CAçA: CUIDADOS A TER COM OS CãES
Dr. Paulo Araújo - Médico Veterinário
vetfunchal@mail.telepac.pt

Com a chegada do final de Setembro e início de Outubro, inicia-se a tradicional época de caça, que este ano irá ocorrer debaixo de alguns condicionalismos. Apesar das limitações, iremos abordar os requisitos necessários para o cão que se deseja levar a caçar e alguns conselhos pertinentes para os caçadores proprietários de cães de caça.

Em primeiro lugar, o cão que vai à caça tem obrigatoriamente de ter a vacina da Raiva anual actualizada, estar identificado com o microchip e registado na Junta de Freguesia da área de residência do proprietário como “cão de caça”.

As patologias mais frequentes nos cães de caça são: as intoxicações, as otites por corpo estranho (praganas) e o “golpe de calor”.

Em relação às intoxicações, é importante recordar a importância de provocar o vómito nestas situações, sempre que o animal esteja em condições para tal, utilizando-se para isso a vulgar Água Oxigenada a 10 volumes, devendo depois transportá-lo para uma clínica veterinária o mais rapidamente possível.

As otites por corpo estranho (praganas) ocorrem principalmente em cães de caça de orelha “caída” e de pêlo longo. As praganas são pequenas espigas de ervas secas que existem principalmente no Verão e  que se agarram ao pêlo dos animais. Devido ao seu formato de dardo, apenas progridem numa direcção acabando por se aprofundar cada vez mais no pêlo e posteriormente na pele. Apesar de poderem provocar lesões nos olhos e na pele, o ouvido constitui o órgão preferencialmente atingido. Quando entram no ouvido, o animal coça-se, gane, abana insistentemente a cabeça, é visível cerúmen muito escuro a sair do ouvido e pode andar com a cabeça de lado. Deverá ser observado por um veterinário, a fim de lhe ser retirado o corpo estranho e instituída uma medicação intra-auricular para tratamento da otite secundária.

Quanto ao “golpe de calor”, é infelizmente frequente, pois a altura do ano em que decorre a caça é ainda de grande calor e o esforço físico a que o animal de caça é submetido torna-o especialmente predisposto a esta situação.

Os cães são muito mais sensíveis ao calor que os humanos, pois não transpiram pela pele (excepto nas almofadas plantares), tendo por isso de utilizar outros mecanismos para regular a temperatura corporal, nomeadamente a procura de contacto com superfícies frias e a ingestão de líquidos frescos. Quando isto não é possível, utilizam a ventilação pulmonar. Este sistema termorregulador não é muito eficiente em casos extremos, razão pela qual a temperatura interna continua a subir de forma imparável, provocando lesões graves nos órgãos internos.

O “golpe de calor” ocorre normalmente num dia de muito calor. O calor contribui de sobremaneira para o consumo das reservas de açúcar e sais minerais do corpo do animal. Assim sendo, a associação do calor com exercício físico, nervosismo (típico do cão de caça) e falta de água, constitui o rastilho ideal para o desencadear desta patologia que pode terminar com a morte do nosso animal em apenas 10-15 minutos.

Os principais sintomas são: tremores musculares, cianose (cor azulada da língua, por deficiente oxigenação do sangue), respiração rápida e difícil, aumento do ritmo cardíaco (taquicardia), ataxia (perda de equilíbrio) e alteração da salivação.

As principais consequências são: alterações vasculares, hemorragias gastrointestinais, insuficiência hepática, insuficiência renal, edema cerebral, falha multi-orgânica e, nos casos mais severos, morte.

A título de curiosidade, refira-se que com uma temperatura ambiente de 30ºC, um carro com os vidros semi-abertos pode atingir uma temperatura no seu interior de 39ºC em apenas 10 minutos e 49ºC em 30 minutos. O rácio de subida de temperatura no interior dos veículos é de aproximadamente 0,7ºC por minuto, num dia de calor e humidade elevados.

O golpe de calor é uma urgência médica, razão pela qual deve levar o seu animal o mais rapidamente possível para uma clínica veterinária. No entanto, deve imediatamente colocar um pano molhado à volta do animal tendo prioridade a cabeça e pescoço. Pode também colocar gelo na região axilar e inguinal.

Nunca deixe o seu cão sozinho dentro do carro num dia de calor e após exercício físico, deixe o seu animal recuperar por completo do esforço, num local sombrio e fresco, com água abundante à disposição, e só depois faça o seu transporte.


 


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