JUNHO 2010
SíNDROME DE ASPERGER
Dra. Cristiana Areias – Farmacêutica*
cristiana.areias@farmaciadocanico.pt

A síndrome ou desordem de Asperger foi descoberta em 1944 por um médico austríaco chamado Hans Asperger, mas só em 1992 foi reconhecida como doença mental e ainda hoje a sua existência é controversa. É, portanto, uma doença “recente”, que muito atrai a comunidade científica e que tem ainda muitas dúvidas por esclarecer. É chamada de síndrome, pois o seu diagnóstico depende de um conjunto comum de sintomas, mas é também conhecida por desordem de Asperger.

É uma doença que muitos defendem pertencer ao espectro do autismo, sendo, no entanto, bastante mais comum e desconhecida. São estas razões que levam a confusões por parte de educadores e profissionais de saúde, levando a diagnósticos incorrectos de desordem obsessivo-compulsiva ou de esquizofrenia.

A doença de Asperger é uma versão mais atenuada do autismo. Para muitos especialistas, a sua classificação deve basear-se numa escala de extensão de autismo e não ser considerada uma desordem só por si. Ao contrário do autismo, que possui uma prevalência menor que um por cada 2.000 indivíduos, a síndrome de Asperger não está enquadrada no grupo de doenças raras, uma vez que afecta cinco por cada 2000 indivíduos. Afecta também mais rapazes que raparigas, apesar de ainda não se conseguir explicar o porquê de tal diferença.

Esta síndrome é caracterizada por alterações muito precoces em três áreas chave do desenvolvimento: interacção social, comunicação através da linguagem e demonstração de grande interesse por um número limitado de actividades e de forma repetitiva. Os grandes factores diferenciadores da Síndrome de Asperger e do autismo são a capacidade intelectual e linguagem verbal, que em Asperger é normal ou aumentada e no autismo bastante comprometida, bem como o desejo de socializar que é habitual na desordem de Asperger e inexistente no Autismo.

No entanto, os indivíduos que sofrem de síndrome de Asperger possuem grande dificuldade em estabelecer laços de amizade ou empatia, em partilhar interesses devido à sua incapacidade de interpretar comunicação mais complexa, como ironias ou frases com duplo sentido, apesar da sua linguagem estar completamente desenvolvida, ou devido a não se conseguirem imaginar no lugar da outra pessoa com quem comunicam.

Apresentam também dificuldade em se expressarem de modo não verbal, com o olhar, expressões corporais ou faciais rígidas, podendo dar uma imagem de insensibilidade. Por outro lado, possuem uma dificuldade especial na alteração de hábitos, que normalmente são feitos sistematicamente e “religiosamente”.

É, na verdade, esta capacidade fascinante de dedicação extrema a uma determinada área de interesse associada às suas capacidades cognitivas normais ou maiores que o habitual que tornam esta síndrome tão interessante ao olhar da psicologia clínica. As crianças com Asperger, têm dificuldades com o pensamento abstracto exigido, por exemplo, numa aula de filosofia, mas podem ser excelentes em áreas como a matemática e a geografia, em que a memorização e a dedicação são essenciais.

As causas exactas desta doença são até agora desconhecidas, mas alguns estudos têm sugerido alguma predisposição genética e alguma possível teratogenicidade (causada por medicamentos tomados durante a gravidez). No entanto, os resultados não são ainda suficientemente consistentes.

Não existe uma terapia específica não medicamentosa para esta desordem e os tratamentos até agora feitos têm como objectivo melhorar os sintomas e os comportamentos, mais concretamente melhorar técnicas de comunicação e interpretação, melhorar os comportamentos rígidos e obsessivos, de modo que estes indivíduos se insiram mais facilmente na sociedade e lidem melhor com o seu meio afectivo e emocional. No fundo, na terapia, o indivíduo aprende a controlar e a alterar o seu comportamento para outro socialmente mais aceitável, como se de uma disciplina escolar se tratasse.

Também não existe terapia medicamentosa específica no tratamento da Síndrome de Asperger. O que se verifica é a associação de terapias que melhoram os sintomas mais graves, para controlar as rotinas repetitivas ou para melhorar a interpretação da linguagem. Também pode ser associada terapia de coordenação motora e aprendizagem de linguagem não verbal. Podem existir tantos tratamentos quanto o número de indivíduos com esta desordem.

A terapia medicamentosa pode ser eficaz em associação com a terapia social e comportamental. Poderão ser usados anti-psicóticos como a risperidona ou a olanzepina, ou dentro do grupo dos anti-depressivos, os inibidores selectivos da recaptação da seretonina (SSRI’s) podem também ser eficazes, especialmente na diminuição de comportamentos repetitivos. A adesão à terapêutica pode estar comprometida nestes indivíduos uma vez que, pela própria doença, o doente tem dificuldade no reconhecimento das suas emoções e comportamentos socialmente condenáveis.

* Colaboradora da Farmácia do Caniço desde 2009

 


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