MARçO 2024
REDES SOCIAIS E OS RISCOS PARA A SAúDE MENTAL
Dr. Daniel Neto
Psiquiatra, membro do grupo Coordenador do Observatório Regional de Saúde Mental, Professor convidado da Universidade da Madeira - Escola Superior de Saúde
Redes Sociais e os riscos para a saúde mental


Nas últimas duas décadas as redes sociais digitais têm crescido e tornando-se ubíquas na vida diária. Servem para tudo, mas a sua utilização regular, não é sem efeitos. Todas as atividades que realizamos transformam-nos e as redes sociais têm transformado o nosso cérebro e as nossas relações. Não podemos separar a utilização de redes sociais da utilização dos smartphones. As redes sociais são as apps mais utilizadas. Vários estudos mostram como a inteligência está a diminuir, sob a forma de raciocínio lógico e outras capacidades, devido à utilização dos smartphones. Este é um tema preocupante e entre os efeitos cognitivos, emocionais e sociais, têm saído notícias de organizações a tentarem limitar o seu uso ou a responsabilizarem as empresas pelos seus conteúdos. A utilização de redes sociais associa-se a uma deterioração da saúde. O uso por adolescentes aumenta o sofrimento mental, comportamentos de automutilação e de suicídio. Em geral, a maior utilização de redes sociais está associada a doenças como a depressão, ansiedade, insatisfação corporal e perturbações do comportamento alimentar. A perceção que temos de nós próprios é influenciada pelas redes sociais, não só em termos de imagem, como em termos políticos e culturais. Devido a esta influência e relevância na construção da nossa imagem, o ciberbullying não só se tornou mais uma forma de agressão, como, por envolver a nossa imagem em relação a centenas ou milhares de pessoas, torna os seus impactos potencialmente mais devastadores e duradouros. Afinal, tudo o que se coloca online, é “para sempre”. O bom e o mau. Desde a influência que as pessoas têm, os seus avatares, as notícias falsas, as informações erradas, ... tanta coisa pode correr mal. É por isso, que na europa a posse de arma de fogo não é banalizada. Serão as redes sociais comparáveis? Qual é o verdadeiro impacto da desinformação partilhada pelas redes sociais?


“Vários estudos mostram como a inteligência está a diminuir, sob a forma de raciocínio lógico  e outras capacidades, devido à utilização  dos smartphones”

DEPENDÊNCIAS INTERNET E REDES SOCIAIS

Explicam Prinstein, Nesi & Telzer (2020) que a utilização de meios digitais por parte dos adolescentes aumentou exponencialmente na última década. Os dados epidemiológicos sugerem que os adolescentes podem passar mais horas por dia a comunicar com os pares através de plataformas mediadas eletronicamente do que a dormir, frequentar a escola ou a interagir com adultos. Por isso, não é de estranhar que os investigadores interessados no desenvolvimento do comportamento dos adolescentes se tenham focado cada vez mais nos meios digitais, incluindo o uso de dispositivos móveis, mensagens de texto, jogos online e plataformas de redes sociais para compreender o fenómeno de dependência digital e, em particular, no uso das redes sociais. O prazer e a satisfação que provém do consumo digital constituem a explicação para que, cada vez mais, os sinais de alerta devam estar presentes nas sociedades desenvolvidas. O conhecimento científico atual aponta para a existência de um problema aditivo único, que poderá ter vários graus de gravidade, devendo cada pessoa ter a sua situação avaliada em termos de um continuo que vai da perturbação ligeira até à dependência / adição grave, de acordo com os “critérios”, vulgarmente chamados sinais ou sintomas, que apresenta. A utilização de ecrãs, designadamente para comunicação, acesso a informação, entretenimento (redes sociais, internet, jogos online, etc.), aprendizagem e trabalho, é um fenómeno em crescimento em Portugal, como na maior parte dos países do mundo. Porque é um comportamento potencialmente aditivo, o ICAD tem vindo a monitorizar com muita atenção, a produzir e aprofundar evidencia científica existente para melhor atuar. O uso da internet pode ser um comportamento aditivo que pode gerar um padrão de uso compulsivo que possivelmente leva a um padrão de uso repetitivo e descontrolado (Greenfield,1999). A forma como nos acomodamos à tecnologia, dita a normalidade no uso ou apropriação patológica. 

Esta dependência às redes sociais afeta sobretudo  as faixas etárias mais jovens? 

Uso de internet No total da população geral, subiu em quase 20 pontos percentuais os utilizadores de Internet entre 2017 e 2022 na temporalidade últimos 12 meses, passando de 60,4 para 79,6 %. Na análise destes números não podemos deixar de ter em conta o contexto pandémico vivenciado. Esta prevalência de uso é mais elevada entre os mais jovens (15-24 anos), chegando quase à totalidade da população deste grupo etário (98,4 %), quer entre os rapazes (98,2 %) quer entre raparigas (98,6 %), sendo consideravelmente mais baixa entre os 65 e os 74 anos, onde a prevalência é de um terço. Apenas neste grupo etário as prevalências são mais elevadas entre os homens. (CICSNOVA_INPG_2023) Em cada 10 jovens de 18 anos mais de 9 usam redes sociais e fazem pesquisas, 6 jogam online e 2 jogam a dinheiro (jogo de apostas online). A maioria (61%) usa a internet durante 4 horas ou mais por dia. Metade usa as redes sociais durante 4 ou mais horas por dia mas para as restantes utilizações analisadas o tempo despendido é, principalmente, inferior a 2 horas. 

“Em cada 10 jovens de 18 anos mais de 9 usam redes sociais e fazem pesquisas, 6 jogam online e 2 jogam a dinheiro (jogo de apostas online). A maioria (61%) usa a internet durante 4 horas ou mais por dia. Metade usa as redes sociais durante 4 ou mais horas por dia, mas para as restantes utilizações analisadas o tempo despendido é, principalmente, inferior a 2 horas”. 

DEPENDÊNCIA E EUFORIA  TORNAM-SE CONSTANTES

O impulso inicial sustenta-se na obtenção de prazer e na construção de estratégias para evitar a dor e o sofrimento. A experiência eufórica materializa-se num sentimento de felicidade que aumenta com o uso contínuo da internet. A relação de dependência e de euforia tornam-se constantes (uso repetido). Ao cair na tolerância o indivíduo diminui ou interrompe a utilização. Esta abstinência provoca irritabilidade, instabilidade emocional, insónias e frustrações. A reação à abstinência culmina num impulso primitivo de utilizador, potenciado a partir de um efeito avalanche. Do instinto primitivo ao efeito avalanche verifica-se um padrão de utilização descontrolada da internet, desenvolvendo no utilizador um conjunto de sintomas que excedem a consciência do utilizado. No inquérito aos jovens participantes no Dia da Defesa Nacional - um projeto de investigação e monitorização que assenta num inquérito nacional, a todos os jovens de 18 anos, participantes no Dia da Defesa Nacional, realizado todos os anos, desde 2015, com uma interrupção em 2020, devido aos constrangimentos provocados pela pandemia COVID-19, perto de um terço (31%) identifica a experiência de pelo menos 1 de sete problemas que associa à utilização da internet, destacando-se a referência a situações de mal-estar emocional (18%) e a problemas de rendimento na escola ou no trabalho (17%). Identificam-se algumas diferenças entre rapazes e raparigas quanto a este conjunto de indicadores de utilização da internet, sendo de destacar o início mais precoce por parte dos rapazes, bem como uma utilização mais intensiva em tempo despendido a jogar. Por outro lado, as raparigas tendem a passar mais tempo nas redes sociais do que os rapazes. A prevalência de experiência de problemas é semelhante.


 


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