Dra. Luísa Maria Terapeuta da Fala e Miofuncional (Especialista em Motricidade Orofacial) “Raramente focamos a nossa atenção no que se passa
com os lábios, os dentes, a língua ou as bochechas
enquanto comemos, falamos ou respiramos. Já
referi que um TF trabalha com dentistas, mas
porquê? Porque para melhor a FUNÇÃO (respiração,
mastigação, fala ou sono) é preciso que FORMA
(dentes e palato) o permita.” No dia 17 deste mês comemorou-se o Dia Mundial da Motricidade Orofacial (MOF)! Este ano
com o tema: Importância do papel
do Terapeuta da Fala (TF) nas alterações da Respiração e do Sono.
Se respira bem, dormirá melhor!
Certamente já ouviu falar. E sim,
é verdade. O TF não trabalha só
com dificuldades da fala! A MOF
é uma das áreas da TF voltada
para o estudo, prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento
de alterações estruturais e funcionais da região da boca (oro) e
da face (facial). O tratamento a
este nível também conhecido, por
Terapia Miofuncional Orofacial é
incidente no sistema estomatognático, isto é, nas alterações das
funções orofaciais: RESPIRAÇÃO-
-SUCÇÃO-MASTIGAÇÃO-DEGLUTIÇÃO-FALA e também na posição
dos LÁBIOS-LÍNGUA-BOCHECHAS.
Muitas vezes o trabalho do TF não
é suficiente e é necessário encaminhar para a medicina dentária;
ORL; odontopediatria; pediatria.
Porquê? Porque as estruturas e
funções orofaciais estão interligadas e para alcançar um (re)
equilíbrio muscular e adequado
desenvolvimento craniofacial é
fundamental o trabalho em equipa com vista ao sucesso do tratamento. Se nada mudar, nada
muda. Precisamos de tomar uma
ação para termos uma reação e
mais saúde a longo prazo. Comemos por fome ou prazer mas respirar é por necessidade. Para ter
uma noite de sono profundo e
reparador há que garantir o pilar
básico da sobrevivência RESPIRAR
BEM. Raramente focamos a nossa
atenção no que se passa com os
lábios, os dentes, a língua ou as
bochechas enquanto comemos,
falamos ou respiramos. Já referi
que um TF trabalha com dentistas
mas porquê? Porque para melhorar a FUNÇÃO (respiração, mastigação, fala ou sono) é preciso
que FORMA (dentes e palato) o
permita. A componente muscular
tem que acompanhar a componente esquelética para se conseguir um resultado satisfatório e
estável. Os músculos que usamos
para respirar, sugar, mastigar e
engolir são os mesmos músculos que usamos para falar, apesar
dos mecanismos ativados a nível
neurológico serem diferentes de
acordo com a função e o objetivo! Na terapia trabalhamos e
treinamos para mudar pequenos
hábitos; posturas; movimentos
e rotinas. Milhares de pequenas
coisas todos os dias têm um impacto enorme no final. A IMPORTÂNCIA
DE MASTIGAR
BEM “Num mundo que corre rápido de mais e que se multiplicam em coisas para fazer, nem sempre é fácil olhar
parar e perceber se determinados comportamento
são esperados, ou não, nas crianças” “A língua é o epicentro do desenvolvimento e a eficiência do seu funcionamento afeta absolutamente todo o corpo. É uma questão de equilíbrio,
estímulo e treino. Por isso a pressão que a língua exerce nas diferentes zonas da cavidade oral tem um impacto sobre o desenvolvimento”. A forma como mastigamos é
tão importante como o que mastigamos. A ação biomecânica da
mastigação vai desenvolver o
crescimento ósseo da face e estimular toda a musculatura associada. São estas estruturas que
suportam as vias respiratórias;
asseguram uma boa via área;
promovem uma melhor qualidade de sono e melhoram a fala
e a alimentação. Por isso é que
mastigar bem é tão importante
como escolher os alimentos que
compõem a dieta diária. Somos a
soma de todo este equilíbrio. Se
os músculos envolvidos não trabalharem num padrão equilibrado as estruturas vão apresentar
alterações. A forma de mastigar,
engolir e posicionar a língua, milhares de vezes ao longo do dia
e ao longo de toda a vida resulta
em mudanças no sorriso, respiração, fala e no sono. Vivemos
na geração do hambúrguer, mas
as nossas mandíbulas desenvolveram-se para a dieta da idade
da pedra. Pandemia de mau desenvolvimento orofacial, já ouviu
falar? Este termo foi apontado
por Kahn e Ehrlich no livro Jaws, em que compararam o des e nvo l v i m e nto
orofacial de crânios de séculos
anteriores com
os atuais e explicaram as doenças
com grande prevalência atual. Está a tornar-se
cada vez mais crucial dar atenção
à dieta das crianças, aos hábitos
mastigatórios, aos padrões respiratórios e à postura orofacial de
repouso. A língua é o epicentro
do desenvolvimento e a eficiência do seu funcionamento afeta
absolutamente todo o corpo. É
uma questão de equilíbrio, estímulo e treino. Por isso a pressão
que a língua exerce nas diferentes
zonas da cavidade oral tem um
impacto sobre o desenvolvimento. A forma das estruturas impacta o posicionamento da língua
bem como as diferentes funções
do sistema estomatognático. Ao
equilibrar as forças exercidas por
todas as estruturas melhoramos
as funções e mantemos a forma
estável. Cada caso é um caso.
Deixo-vos alguns exemplos de
como há relação direta entre a
mecânica oral e corporal: vamos
refletir sobre alguns eventos que
causam alterações: respirar pela
boca e compensações por hábitos (chucha; exposição ao ecrã)
alteram o crescimento e resultam
em más oclusões dentárias que
provocam a má qualidade do sono. Para além da questão estética
ter um sorriso desalinhado, um
palato profundo e
estreito, ranger e/
ou apertar os dentes, mastigar mais
de um lado que do
outro ou de boca
aberta, ressonar…
aumentam a susceptibilidade para a ocorrência de doenças cardiovasculares respiratórias e
aumento de peso. Num mundo
que corre rápido de mais e que
se multiplicam em coisas para
fazer, nem sempre é fácil olhar
parar e perceber se determinados
comportamento são esperados,
ou não, nas crianças. As dúvidas
surgem, o tempo passa e as alterações agravam-se. Por isso a
premissa de um TF é sempre a
mesma: na dúvida marcar uma
consultar e questionar. Nós somos adultos de referência, somos
os modelos que as crianças vão
copiar e esta premissa é válida
para todos os padrões que serão
replicados para o resto da vida. Não podemos assobiar para o lado, dizer que são gostos ou que
é a escola, na verdade é mesmo
connosco. Somos uns sobreviventes, adaptamo-nos sempre!
A questão é: a custo de quê? O
corpo vai arranjar forma de compensar a alteração, de manter a
função e de garantir a sobrevivência. Caro leitor, quer sobreviver ou viver com qualidade durante o máximo tempo possível? |