DEZEMBRO 2023
O PROBLEMA é A RELAçãO DO INDIVíDUO COM A SUBSTâNCIA
Dra. Rubina Sequeira
Presidente da Direção da Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos 
O problema é a relação do indivíduo com a substância

A Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos, Regressar a Si, tem vindo a desempenhar um trabalho louvável para devolver ex-alcoólicos à sociedade, retirando-os da adição e dependência.

Rubina Sequeira, da Associação do Solidariedade Social, Regressar a Si, foi uma das interlocutoras da problemática social da adição ou dependência ao álcool. Sempre disponível, a presidente da Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos, Regressar a Si, assume que não é difícil cair neste hábito. “Para ficar dependente de álcool basta consumi-lo em quantidades e número de vezes suficientes até habituar o organismo a viver daquela forma, tendo sintomas de privação físicos e/ou psicológicos na ausência do seu consumo. Mas a maioria das pessoas é incapaz de prever o real alcance das consequências do consumo de álcool. Fazem-no, simplesmente, para se divertir, integrar, aliviar o tédio, controlar medo, raiva, ansiedade, insónias, depressão, falta de atenção, dor, fobias etc…”, diz. Depois, deixa uma distinção em relação à adição. “No caso da adição a situação é mais complexa. Há estudos que demonstram que as causas podem ser genéticas ou hereditárias, contudo, sabendo que podemos alterar a nossa expressão genética com muito do que fazemos e do que nos acontece ao longo da vida, a nossa Associação é do entendimento que as causas da adição estão muito mais ligadas às relações do individuo com o meio em que se insere e com as pessoas que o rodeiam”, aponta. A adição traz uma complexidade acrescida. “Crê-se que a adição seja uma patologia adquirida no cérebro em formação, e desenvolvida paralelamente à evolução e crescimento do individuo. É como se um ou uma série de traumas interferissem no processo cognitivo e comprometessem o seu saudável funcionamento, na certeza de que trauma não é o que nos acontece, mas a forma como cada um reage ao que lhe acontece. Sucede que a maior parte dos traumas que se encontram na origem desta patologia advém de relações interpessoais nos primeiros anos de vida. Ora, existindo falhas na construção de vínculos afetivos dá-se uma quebra na produção de ocitocina (hormona produzida no cérebro quando há afetos envolvidos, com a finalidade original de relacionar a mãe ao seu bebé e possibilitar a sobrevivência deste)”. A adição traz depois uma necessidade de fazer aumentar a necessidade de prazer, por diminuição da sensação de amor. “Por outras palavras, no caso de ruturas e traumas afetivos, as pessoas tendem a substituir AMOR por PRAZER. E onde é que vão buscar prazer? Aos comportamentos e substâncias de alta dopamina, sendo uma dessas substâncias o álcool. Assim, alguém que sofra de adição (dificuldade ou incapacidade de controlar impulsos) facilmente se torna dependente de álcool, porque a compulsão e continuidade do consumo acabam por viciar o centro de recompensa no cérebro, que canalizará todas as capacidades e energia para a obtenção de mais dopamina e, portanto, mais álcool”. Em suma, aponta Rubina Sequeira “e é por tudo isto que algumas pessoas bebem álcool sem se tornarem dependentes e outras não. O problema não está na substância em si mas na relação que o individuo cria com a substância, imputando- -se esta última não à vontade mas às circunstâncias”.

MUDAR DE VIDA É FUNDAMENTAL 
Assumindo que prefere falar em “recuperação em vez de cura”, Rubina Sequeira arrisca “dizer que absolutamente tudo o que se faz na vida contribui ou para a “doença” ou para a “recuperação””. E complementa. “Falo de exercício físico, alimentação, pensamentos e emoções, sendo as palavras de ordem: disciplina e autoestima. Esta abordagem holística já está a ser adotada pela medicina no tratamento de doenças quer do corpo quer da mente, e só faria sentido que fosse essa a nossa escola também. Uma das estratégias para a recuperação passa pela adoção de “rotinas saudáveis para o corpo, mente e espírito que o acompanharão para o resto da vida”. “Este caminho de superação e aperfeiçoamento não tem fim, deve é ter início numa Comunidade Terapêutica (um ambiente protegido, familiar, livre de substâncias alteradoras de humor, que proporcione às pessoas tempo, espaço e recursos para se organizarem em todas as áreas da sua vida). E é através desta abordagem multidisciplinar que a “Regressar a Si” pretende contribuir para a recuperação da pessoa”. A Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos Regressar a Si confessa que tem “recebido pedidos de ajuda quer de pessoas que querem parar de consumir quer de familiares e amigos próximos. Não raras vezes entram também em contacto connosco outras instituições que procuram orientação nesta área”. Depois de uma fase inicial em que o álcool transmite a sensação de “euforia e prazer”, logo de seguida fazem sentir-se sintomas de “visão e audição adulteradas, fala arrastada, diminuição da capacidade de raciocínio e tomada de decisão, falta de atenção, alteração da perceção e coordenação motora, sonolência, dor de cabeça etc…. Na gravidez o consumo de álcool pode causar alterações genéticas que provocam deformação física e mental do feto”. A partir daqui tudo piora. “Por causas relacionadas com o álcool morrem, por ano, 3,3 milhões de pessoas a nível mundial”.

Efeitos do consumo prolongado de álcool 
- Hipertensão 
- Arritmia 
- Aumento do colesterol
- Aterosclerose (doença nas artérias) 
- Cardiomiopatia alcoólica (enfraquecimento do músculo cardíaco) 
- Aumento do depósito do ácido úrico nas articulações (vulgarmente conhecido como gota) 
- Úlceras no estômago 
- Cirrose 
- Pancreatite 
- Diabetes g Hemorragias no sistema digestivo; 
- Perturbação da memória, cognição e a tomada de decisão.

DIFERENÇA ENTRE DEPENDÊNCIA E ADIÇÃO
O vício ou dependência carateriza-se pela necessidade física ou psicológica de fazer ou consumir algo, sob pena de sentir sintomas de privação ou “ressaca” (reforço negativo). Trata-se de um estado que qualquer um pode atingir (ninguém é dependente, está dependente). Para o processo de dependência de um comportamento ou de uma substância em particular, como é o caso do álcool, concorrem muitas variáveis como: fatores culturais, grau de disponibilidade, entre outras e, dentro deste leque, uma das condições que, definitivamente, pode facilitar a dependência é a adição (uma patologia permanente, caracterizada pela incapacidade de controlar o impulso de adotar certos comportamentos ou consumir determinadas substâncias). A adição está intimamente ligada ao reforço positivo - busca de prazer e euforia - de forma compulsiva e auto lesiva. É uma problemática muito complexa com contornos de grande sofrimento psíquico, mas que, apesar de ser considerada uma doença crónica pela Organização Mundial de Saúde, com ajuda, pode ser controlada. 

 


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