Dra. Rubina Sequeira Presidente da Direção da Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos A Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos,
Regressar a Si, tem vindo a desempenhar um trabalho
louvável para devolver ex-alcoólicos à sociedade,
retirando-os da adição e dependência. Rubina Sequeira, da Associação
do Solidariedade Social, Regressar
a Si, foi uma das interlocutoras da
problemática social da adição ou
dependência ao álcool. Sempre disponível, a presidente da Associação de Apoio a Toxicodependentes
e Alcoólicos, Regressar a Si, assume
que não é difícil cair neste hábito.
“Para ficar dependente de álcool
basta consumi-lo em quantidades e
número de vezes suficientes até habituar o organismo a viver daquela
forma, tendo sintomas de privação
físicos e/ou psicológicos na ausência do seu consumo. Mas a maioria
das pessoas é incapaz de prever o
real alcance das consequências do
consumo de álcool. Fazem-no, simplesmente, para se divertir, integrar,
aliviar o tédio, controlar medo, raiva,
ansiedade, insónias, depressão, falta
de atenção, dor, fobias etc…”, diz.
Depois, deixa uma distinção em
relação à adição. “No caso da adição a situação é mais complexa.
Há estudos que demonstram que
as causas podem ser genéticas ou
hereditárias, contudo, sabendo que
podemos alterar a nossa expressão
genética com muito do que fazemos
e do que nos acontece ao longo da
vida, a nossa Associação é do entendimento que as causas da adição
estão muito mais ligadas às relações
do individuo com o meio em que
se insere e com as pessoas que o
rodeiam”, aponta.
A adição traz uma complexidade acrescida. “Crê-se que a adição
seja uma patologia adquirida no
cérebro em formação, e desenvolvida paralelamente à evolução e
crescimento do individuo. É como
se um ou uma série de traumas interferissem no processo cognitivo
e comprometessem o seu saudável
funcionamento, na certeza de que
trauma não é o que nos acontece,
mas a forma como cada um reage
ao que lhe acontece. Sucede que
a maior parte dos traumas que se
encontram na origem desta patologia advém de relações interpessoais
nos primeiros anos de vida. Ora,
existindo falhas na construção de
vínculos afetivos dá-se uma quebra
na produção de ocitocina (hormona
produzida no cérebro quando há
afetos envolvidos, com a finalidade original de relacionar a mãe ao seu bebé
e possibilitar a sobrevivência deste)”.
A adição traz depois uma necessidade de fazer aumentar a necessidade de
prazer, por diminuição da sensação de
amor. “Por outras palavras, no caso de
ruturas e traumas afetivos, as pessoas
tendem a substituir AMOR por PRAZER. E onde é que vão buscar prazer?
Aos comportamentos e substâncias
de alta dopamina, sendo uma dessas
substâncias o álcool. Assim, alguém
que sofra de adição (dificuldade ou
incapacidade de controlar impulsos)
facilmente se torna dependente de álcool, porque a compulsão e continuidade do consumo acabam por viciar
o centro de recompensa no cérebro,
que canalizará todas as capacidades
e energia para a obtenção de mais
dopamina e, portanto, mais álcool”.
Em suma, aponta Rubina Sequeira
“e é por tudo isto que algumas pessoas bebem álcool sem se tornarem
dependentes e outras não. O problema não está na substância em
si mas na relação que o individuo
cria com a substância, imputando-
-se esta última não à vontade mas
às circunstâncias”. MUDAR DE VIDA
É FUNDAMENTAL Assumindo que prefere
falar em “recuperação em
vez de cura”, Rubina Sequeira arrisca “dizer que
absolutamente tudo o que
se faz na vida contribui ou
para a “doença” ou para a
“recuperação””.
E complementa. “Falo de
exercício físico, alimentação, pensamentos e emoções, sendo as palavras de
ordem: disciplina e autoestima. Esta abordagem holística já está a ser adotada pela
medicina no tratamento de
doenças quer do corpo quer
da mente, e só faria sentido
que fosse essa a nossa escola
também.
Uma das estratégias para a recuperação passa pela
adoção de “rotinas saudáveis
para o corpo, mente e espírito que o acompanharão para
o resto da vida”. “Este caminho de superação e aperfeiçoamento não tem fim, deve
é ter início numa Comunidade
Terapêutica (um ambiente protegido, familiar, livre de substâncias alteradoras de humor,
que proporcione às pessoas
tempo, espaço e recursos para se organizarem em todas as
áreas da sua vida). E é através
desta abordagem multidisciplinar que a “Regressar a Si” pretende contribuir para a recuperação da pessoa”.
A Associação de Apoio a Toxicodependentes e Alcoólicos
Regressar a Si confessa que tem
“recebido pedidos de ajuda quer
de pessoas que querem parar de consumir quer de familiares e
amigos próximos. Não raras vezes entram também em contacto
connosco outras instituições que
procuram orientação nesta área”.
Depois de uma fase inicial em
que o álcool transmite a sensação
de “euforia e prazer”, logo de seguida fazem sentir-se sintomas de
“visão e audição adulteradas, fala
arrastada, diminuição da capacidade de raciocínio e tomada de
decisão, falta de atenção, alteração da perceção e coordenação
motora, sonolência, dor de cabeça
etc…. Na gravidez o consumo de
álcool pode causar alterações genéticas que provocam deformação
física e mental do feto”. A partir
daqui tudo piora. “Por causas relacionadas com o álcool morrem,
por ano, 3,3 milhões de pessoas a
nível mundial”. Efeitos do consumo
prolongado de álcool - Hipertensão - Arritmia - Aumento do colesterol - Aterosclerose (doença nas
artérias) - Cardiomiopatia alcoólica
(enfraquecimento do músculo
cardíaco) - Aumento do depósito do ácido
úrico nas articulações (vulgarmente
conhecido como gota) - Úlceras no estômago - Cirrose - Pancreatite - Diabetes
g Hemorragias no sistema
digestivo; - Perturbação da memória,
cognição e a tomada de decisão. DIFERENÇA ENTRE DEPENDÊNCIA E ADIÇÃO O vício ou dependência carateriza-se pela necessidade física ou psicológica de fazer ou consumir algo, sob pena de sentir sintomas de
privação ou “ressaca” (reforço negativo). Trata-se de um estado que
qualquer um pode atingir (ninguém é dependente, está dependente).
Para o processo de dependência de um comportamento ou de uma
substância em particular, como é o caso do álcool, concorrem muitas
variáveis como: fatores culturais, grau de disponibilidade, entre outras
e, dentro deste leque, uma das condições que, definitivamente, pode
facilitar a dependência é a adição (uma patologia permanente, caracterizada pela incapacidade de controlar o impulso de adotar certos
comportamentos ou consumir determinadas substâncias).
A adição está intimamente ligada ao reforço positivo - busca de prazer e euforia - de forma compulsiva e auto lesiva. É uma problemática
muito complexa com contornos de grande sofrimento psíquico, mas
que, apesar de ser considerada uma doença crónica pela Organização
Mundial de Saúde, com ajuda, pode ser controlada. |