Dra. Alícia Freitas Psicóloga Clínica e da Saúde Alícia Freitas é psicóloga na Unidade Operacional de Intervenção
em Comportamentos Aditivos e Dependências (UCAD) que desenvolve o
seu trabalho sob a tutela da Direção
Regional de Saúde. Fala da pressão
social para a bebida, mas também de
uma diminuição do consumo entre
os jovens. Um alcoólico é aquela pessoa que
bebe sem parar? O alcoólico é uma pessoa que foi
aumentando gradualmente o consumo de bebidas alcoólicas, acostumou-se a beber de tal forma que o
corpo foi se adaptando e desenvolveu a tolerância ao álcool, pelo que
precisou de consumir cada vez mais
para conseguir o mesmo efeito. Este
comportamento tornou-se constante, “descontrolado” e impossível de
parar. Romper com o consumo habitual produz a chamada síndrome
de abstinência, que normalmente
requer tratamento. O Alcoolismo é a
dependência do indivíduo ao álcool,
considerada doença pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e pode trazer consequências irreversíveis nas
várias áreas da vida: pessoal, familiar,
social e laboral. O álcool está muito enraizado na
nossa sociedade. É quase cultural
estar presente em festas e momentos de celebração. Na vossa ótica, é
possível inverter este aspeto cultural? Este fator cultural por si só não define o eventual consumo de álcool
uma vez que apesar da disponibilidade existente em ambientes festivos,
nem todas as pessoas consomem.
Para além do peso cultural, tomar
uma poncha com os amigos ou fazer a ronda pelas casas para provar
os licores de Natal está também relacionado com fatores sociais para
conviver e (re)encontrar pessoas.
Para além disso, os consumos em
momentos de interação muitas vezes
são influenciados por “pressão” dos
familiares ou amigos.
Apesar do enraizamento cultural, a
mensagem da DRS, através da UCAD,
centra-se sobretudo na importância de cada um tomar decisões responsáveis e evitar ceder à influência
dos outros para beber mais um copo,
prevenindo assim os consumos excessivos, evitando perder o controlo
e envolve-se em comportamento de
risco (ex. conduzir sob o efeito do
álcool pode levar a acidentes porque o consumo de álcool aumenta
o tempo de reação, promove uma
falsa avaliação do espaço e excesso
de confiança).
Para as crianças e adolescentes a
regra deverá ser “álcool nem uma
gota” pois trata-se de uma substância psicoativa ilegal para menores de
18 anos, com consequências graves a
nível do seu desenvolvimento biopsicossocial. É possível divertir-se sem álcool.
Mas as pessoas querem ou estão dispostas a isso? Claro que é sempre possível divertir-se sem álcool! Notamos que as
pessoas estão dispostas a divertir-
-se de forma saudável. Temos vindo
sociado ao consumo de substâncias
psicoativas (álcool, tabaco e outras).
Este trabalho de Prevenção das
Dependências, nas quais se inclui o
consumo de álcool, é desenvolvido
não apenas nas escolas, mas em todos os outros contextos que fazem
parte da nossa vida, a nível desportivo, comunitário, laboral e recreativo
noturno. Também se destacam as
estratégias de prevenção ambiental
com a criação de regras, normas e
legislação que visam a alteração dos
ambientes culturais, sociais, físicos e
económicos que influenciam as escolhas individuais do consumo.
a trabalhar com muita persistência
e articulação com outras entidades
na sensibilização para a diversão sem
riscos e para que as pessoas reconheçam que esta vivência de emoções
agradáveis está em cada um de nós,
em boas companhias, em eventos ou
locais propícios, com música, dança
ou simplesmente na conversa e interação. Vocês observam alguma tendência na região na redução do consumo do álcool? Os Estudos realizados pelo Serviço
de Intervenção nos Comportamentos
Aditivos e nas Dependências (SICAD),
indicam que ao nível do consumo
de álcool nos jovens (Estudo Dia da
Defesa Nacional) nos últimos 30 dias
e na embriaguez severa tem vindo a
diminuir, sendo que a Região Autónoma da Madeira tem a prevalência
mais baixa entre os jovens inquiridos,
quando comparada com os Açores e
com o território continental.
De acordo com o IV Inquérito Nacional à população em Geral
2016/2017, à semelhança da tendência nacional, a RAM apresenta
um aumento no consumo ao nível
da experimentação no último ano e
nos últimos 30 dias. Trabalhar na sensibilização nas
escolas, junto dos jovens, é o segredo
para o sucesso das vossas campanhas anti álcool? O sucesso da intervenção da UCAD
é feito de muitos passos, começa na
criação de redes de parceiros e grupos de trabalho para atuar em todos
os contextos da sociedade, acompanhando o ciclo de desenvolvimento
do individuo, desde o nascimento.
Assim a prevenção começa na família
pelo que são desenvolvidas iniciativas dirigidas aos pais e cuidadores,
tendo continuidade nas escolas (do
pré-escolar até ao ensino universitário) com aplicação de diferentes
estratégias de modo a fornecer aos
indivíduos e/ou a grupos específicos
informação e competências necessárias para lidarem com o risco associado ao consumo de substâncias
psicoativas (álcool, tabaco e outras).
Este trabalho de Prevenção das
Dependências, nas quais se inclui o
consumo de álcool, é desenvolvido
não apenas nas escolas, mas em todos os outros contextos que fazem
parte da nossa vida, a nível desportivo, comunitário, laboral e recreativo
noturno. Também se destacam as
estratégias de prevenção ambiental
com a criação de regras, normas e
legislação que visam a alteração dos
ambientes culturais, sociais, físicos e
económicos que influenciam as escolhas individuais do consumo. Recomendações
para o consumo do
álcool nesta época:
O mais importante deverá ser
divertir-se de forma saudável e
segura, o que muitas vezes não
é valorizado. Neste sentido deixo
algumas recomendações para
minimizar os riscos do consumo
de álcool: - Evite misturar e combinar
bebidas de diferentes tipos e
teores alcoólicos, beba devagar,
em goles curtos e evite os shots,
alternando entre uma bebida
alcoólica e outra não alcoólica
de modo a equilibrar o consumo,
bebendo água a intervalos
regulares; - Evite beber com o estômago
vazio pois facilita o aumento
do nível de álcool no sangue e
aumenta o seu efeito tóxico no
cérebro; - Evite ficar sempre com o copo
na mão, por isso é inevitável
beber mais; - Mantenha o controle e evite
conduzir ou realizar atividades
de risco sob a influência de
álcool. Não misture álcool com
medicamentos ou outras drogas; - Confine o consumo de álcool a
situações específicas, evitando
beber todos os dias e situações
nas quais acha que vai acabar
por beber mais do que deveria; - Aprenda a dizer não quando
lhe oferecem bebidas, lembre-se
que a diversão e boa disposição
dependem de si, dos ambientes
e do estabelecimento de relações
sociais! |