Dra. Carla Câmara Psicóloga Clínica Uma educação repressiva, relações familiares perturbadas,
experiências sexuais prévias traumáticas e educação sexual
insuficiente, também contribuem para o desenvolvimento de
uma DE. A Disfunção Erétil (DE) corresponde à dificuldade persistente ou recorrente em ter e/ou manter uma
ereção até completar a atividade
sexual. 90 a 95% das DE têm tratamento, contudo apenas 5 a 10%
dos homens procuram tratamento.
Encontra-se muitas vezes associada
a quadros depressivos e ansiosos,
que contribuíram para a sua origem
ou manutenção.
Na sua origem encontramos, essencialmente, causas físicas e causas
psicológicas.
As causas físicas referem-se aos efeitos diretos e indiretos de doenças
físicas, medicação ou drogas. Temos
de dar aqui especial atenção aos
efeitos relacionados com o envelhecimento, com a patologia vascular ou neurológica e às alterações
hormonais.
No que concerne às causas psicológicas, podemos dividi-las em fatores
pessoais e interpessoais. Como fatores pessoais podemos identificar
essencialmente variáveis cognitivo-
-afetiva, tais como um estilo atribucional auto-crítico, expectativas
negativas quanto ao seu desempenho sexual, humor negativo, foco da
atenção em estímulos não eróticos,
atitudes sexuais negativas e conservadoras, a aceitação de mitos e
crenças irracionais, tais como “homem que é homem, tem que estar
sempre disponível”, “a sexualidade
do casal é da responsabilidade do
homem”; “uma relação sexual sem
coito não é uma relação sexual”, entre outras, o medo (de uma gravidez
indesejada, de contrair uma infeção
sexualmente transmissível, de perder o controlo, da dor, ou mesmo
da intimidade). Uma educação repressiva, relações familiares perturbadas, experiências sexuais prévias
traumáticas e educação sexual insuficiente, também contribuem para o
desenvolvimento de uma DE.
Como fatores interpessoais podemos apontar uma comunicação deficiente, lutas de poder no casal,
hostilidade em relação ao seu par,
desconfiança, infidelidade, falta de
atração física, diferentes atitudes
face ao sexo, ou a preferências sexuais, falta de privacidade, entre
outras. Por vezes, podemos encontrar dificuldades interpessoais que
estão mais associadas à “outra” pessoa. Por exemplo, um senhor que
se queixa de DE, desde que a sua
companheira fez uma mastectomia.
Quer as causas orgânicas, quer as
psicológicas, com maior ou menor
importância, contribuem para o
surgimento e manutenção de uma
disfunção sexual.
A sua prevalência, a nível nacional,
é relativamente baixa em idades inferiores a 40A (1 a 9%), mas tende
a agravar-se de forma significativa
chegando a alcançar 50 a 75% dos
homens a partir dos 70A. Na Região
Autónoma da Madeira encontrámos
45,7% dos homens entre os 22 e os
53A, referindo já dificuldades eréteis ligeiras e 5,7% com dificuldades moderadas, o que poderá ser
considerado um marcador de uma
possível DE. Pode ser associada ao
stress e cansaço, situações estas de
resolução relativamente simples.
Podem também estar relacionadas
com insatisfação conjugal e com
problemas de saúde mais graves,
tais como doenças cardiovasculares,
cuja primeira manifestação passa,
com alguma frequência, por dificuldades erécteis.
É interessante verificar que, embora a maior parte dos estudos sejam
realizados junto de uma população heterossexual, não se verificam diferenças significativas para
a população homossexual, quanto
à prevalência da DE. O que contribui para manter as dificuldades sexuais passa muitas vezes
por não interiorizar a ideia de que a
sexualidade, tal como as relações, é
dinâmica, que muda com o tempo,
com a idade, com a vida. Que passada a fase da paixão (fase inicial
de uma relação e que é de curta
duração!), se não houver qualquer
investimento, procura, adaptação,
é difícil que não surjam dificuldades na relação. O sexo, ao longo do
tempo da relação, é cada vez menos
espontâneo e isso não tem nada
de errado, mas é preciso dar-lhe a
devida prioridade.
É também comum na relação sexual que, por vezes, “alguma coisa”
falhe. Interfere aqui o cansaço, o
stress, entre outros. Pode falhar
a vontade (desejo), pode falhar a
excitação (ereção), pode falhar a
ejaculação e o orgasmo. Isto não faz
de um homem disfuncional. No entanto, se se tornar frequente (mais
de metade das vezes), se durar no
tempo (aproximadamente 6 meses)
ou se lhe trouxer muito sofrimento,
procure ajuda. É mais frequente do
que imagina.
Embora se venha a verificar uma
maior abertura ao tema da sexualidade e da saúde sexual, a verdade
é que ainda há muito caminho para
percorrer.
Comecemos por nós, profissionais de saúde. Quantos de nós,
nos seus currículos académicos
(formais!) abordaram a sexualidade humana?
Daí que também não nos sintamos, com frequência, confortáveis
a abordar as questões sexuais na
consulta.
É fundamental falar sobre a sexualidade, que, assim como a morte,
continua a ser um dos maiores tabus da nossa sociedade. Só com
muita informação, muita discussão
deixará de ser um “bicho papão”. |