NOVEMBRO 2023
A PROPóSITO DO MOVEMBER
Dra. Carla Câmara
Psicóloga Clínica
A propósito do MOVEMBER

Uma educação repressiva, relações familiares perturbadas, experiências sexuais prévias traumáticas e educação sexual insuficiente, também contribuem para o desenvolvimento de uma DE.

A Disfunção Erétil (DE) corresponde à dificuldade persistente ou recorrente em ter e/ou manter uma ereção até completar a atividade sexual. 90 a 95% das DE têm tratamento, contudo apenas 5 a 10% dos homens procuram tratamento. Encontra-se muitas vezes associada a quadros depressivos e ansiosos, que contribuíram para a sua origem ou manutenção. Na sua origem encontramos, essencialmente, causas físicas e causas psicológicas. As causas físicas referem-se aos efeitos diretos e indiretos de doenças físicas, medicação ou drogas. Temos de dar aqui especial atenção aos efeitos relacionados com o envelhecimento, com a patologia vascular ou neurológica e às alterações hormonais. No que concerne às causas psicológicas, podemos dividi-las em fatores pessoais e interpessoais. Como fatores pessoais podemos identificar essencialmente variáveis cognitivo- -afetiva, tais como um estilo atribucional auto-crítico, expectativas negativas quanto ao seu desempenho sexual, humor negativo, foco da atenção em estímulos não eróticos, atitudes sexuais negativas e conservadoras, a aceitação de mitos e crenças irracionais, tais como “homem que é homem, tem que estar sempre disponível”, “a sexualidade do casal é da responsabilidade do homem”; “uma relação sexual sem coito não é uma relação sexual”, entre outras, o medo (de uma gravidez indesejada, de contrair uma infeção sexualmente transmissível, de perder o controlo, da dor, ou mesmo da intimidade). Uma educação repressiva, relações familiares perturbadas, experiências sexuais prévias traumáticas e educação sexual insuficiente, também contribuem para o desenvolvimento de uma DE. Como fatores interpessoais podemos apontar uma comunicação deficiente, lutas de poder no casal, hostilidade em relação ao seu par, desconfiança, infidelidade, falta de atração física, diferentes atitudes face ao sexo, ou a preferências sexuais, falta de privacidade, entre outras. 

Por vezes, podemos encontrar dificuldades interpessoais que estão mais associadas à “outra” pessoa. Por exemplo, um senhor que se queixa de DE, desde que a sua companheira fez uma mastectomia. Quer as causas orgânicas, quer as psicológicas, com maior ou menor importância, contribuem para o surgimento e manutenção de uma disfunção sexual. A sua prevalência, a nível nacional, é relativamente baixa em idades inferiores a 40A (1 a 9%), mas tende a agravar-se de forma significativa chegando a alcançar 50 a 75% dos homens a partir dos 70A. Na Região Autónoma da Madeira encontrámos 45,7% dos homens entre os 22 e os 53A, referindo já dificuldades eréteis ligeiras e 5,7% com dificuldades moderadas, o que poderá ser considerado um marcador de uma possível DE. Pode ser associada ao stress e cansaço, situações estas de resolução relativamente simples. Podem também estar relacionadas com insatisfação conjugal e com problemas de saúde mais graves, tais como doenças cardiovasculares, cuja primeira manifestação passa, com alguma frequência, por dificuldades erécteis. É interessante verificar que, embora a maior parte dos estudos sejam realizados junto de uma população heterossexual, não se verificam diferenças significativas para a população homossexual, quanto à prevalência da DE. 

O que contribui para manter as dificuldades sexuais passa muitas vezes por não interiorizar a ideia de que a sexualidade, tal como as relações, é dinâmica, que muda com o tempo, com a idade, com a vida. Que passada a fase da paixão (fase inicial de uma relação e que é de curta duração!), se não houver qualquer investimento, procura, adaptação, é difícil que não surjam dificuldades na relação. O sexo, ao longo do tempo da relação, é cada vez menos espontâneo e isso não tem nada de errado, mas é preciso dar-lhe a devida prioridade. É também comum na relação sexual que, por vezes, “alguma coisa” falhe. Interfere aqui o cansaço, o stress, entre outros. Pode falhar a vontade (desejo), pode falhar a excitação (ereção), pode falhar a ejaculação e o orgasmo. Isto não faz de um homem disfuncional. No entanto, se se tornar frequente (mais de metade das vezes), se durar no tempo (aproximadamente 6 meses) ou se lhe trouxer muito sofrimento, procure ajuda. É mais frequente do que imagina. Embora se venha a verificar uma maior abertura ao tema da sexualidade e da saúde sexual, a verdade é que ainda há muito caminho para percorrer. Comecemos por nós, profissionais de saúde. Quantos de nós, nos seus currículos académicos (formais!) abordaram a sexualidade humana? Daí que também não nos sintamos, com frequência, confortáveis a abordar as questões sexuais na consulta. É fundamental falar sobre a sexualidade, que, assim como a morte, continua a ser um dos maiores tabus da nossa sociedade. Só com muita informação, muita discussão deixará de ser um “bicho papão”.

 


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