Dr. Duarte Araújo Geógrafo Margarida Clairouin Engenheira do Ambiente Maurício Santos Direção Regional da Saúde Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e a análise espacial são os grandes aliados da saúde pública moderna.
Tecnicamente, os SIG constituem uma
poderosa ferramenta informática que
recolhe, integra, armazena, edita, analisa, gere e apresenta dados associados
a uma determinada localização espacial, permitindo de uma forma rápida
a observação, análise, interpretação e
gestão de informação muito diversa,
que de outra forma não seria possível
ser cruzada entre si. Ao relacionar dados aparentemente não relacionáveis,
os SIG tornam-se úteis na identificação
atempada de fenómenos que ponham,
ou possam pôr, em causa a saúde pública e a sua progressão no espaço, contribuindo de forma decisiva para tomadas de decisão mais rápidas e eficazes.
Como surgem os Sistemas de Informação Geográfica na vigilância
epidemiológica e de vectores na
Região?
A presença do mosquito Aedes
aegypti na Ilha da Madeira foi registada em 2005. Após sete anos da
sua identificação, ocorreu o primeiro e único surto de dengue nesta
ilha, o primeiro na Europa desde
1928.
Na sequência da necessidade de
associação da componente geográfica aos dados da doença e considerando a urgência no controlo do
surto para a saúde pública, no início
do surto de Dengue em 2012, foi
criada uma equipa constituída por
membros técnicos de vários serviços públicos regionais, tendo-se
dado início à implementação de um
Sistema de Informação Geográfica
na Saúde.
O início dos trabalhos deu-se com
o mapeamento das moradas de trabalho, dos locais visitados e da residência dos primeiros 160 casos
prováveis de Dengue na Madeira.
Através do cruzamento das linhas
que ligavam os diversos locais por
cada caso, foi possível identificar
os primeiros locais de contágio
(Figura 1). Com o resultado deste
trabalho, foi decidida a criação de
equipas de campo com o objetivo
de fazer o varrimento destas zonas
para identificar e eliminar criadouros domésticos do mosquito Aedes
aegypti.
Resultado do cruzamento dos
casos prováveis de dengue para
localização dos primeiros focos de
contágio (dados referentes ao surto de Dengue de 2012-2013).
Após os primeiros 160 casos,
continuou-se com o mapeamento dos casos prováveis de Dengue,
contabilizando-se no final do surto
um total de 2.168 pontos.
A definição dos locais para a instalação de armadilhas de vigilância
do vector teve por base estes dados e os SIG, os quais têm vindo
a demonstrar ser uma ferramenta
particularmente útil para o suporte às ações de vigilância. Exemplo
disso foi o trabalho desenvolvido
no período pós-surto, em houve a
necessidade de redistribuir a rede
de armadilhas de mosquito. O objetivo foi manter o esforço de captura, mas com melhor distribuição
espacial. Para tal, a localização das
armadilhas foi determinada através da combinação de diferentes
mapas contendo a distribuição espacial de fatores que caracterizam
potenciais áreas de risco para a
saúde pública, como por exemplo:
densidade populacional, intensidade do número de casos prováveis
da dengue, altitudes abaixo dos
200 metros e áreas circundantes
a locais com maior risco de contágio (escolas e unidades de saúde).
Como funciona atualmente a vigilância entomológica do mosquito
Aedes aegypti?
A vigilância do mosquito Aedes
aegypti é presentemente realizada com base nos dados recolhidos
numa rede de armadilhas instalada por toda a RAM. Esta rede é
atualmente composta por um total
228 armadilhas, das quais 204 são
destinadas à vigilância de formas
imaturas (Ovitraps) e 24 destinadas
aos mosquitos adultos (BG Traps).
No que diz respeito às Ovitraps,
177 são da responsabilidade direta
da DRS e 27 encontram-se ao encargo do Museu de História Natural
da CMF. A sua distribuição abrange
todos os concelhos da RAM (88
no Funchal, 32 em Santa Cruz, 22
em Machico, 14 na Calheta, 14 no
Porto Santo, 10 na Ribeira Brava,
8 em Câmara de Lobos, 7 na Ponta do Sol, 4 no Porto Moniz, 3 em
São Vicente e 2 em Santana). No
que concerne às 24 BG Traps, a
gestão e manutenção de todas elas
são da responsabilidade da DRS e
têm uma distribuição espacial nos
concelhos do Funchal (20), Santa
Cruz (2), Câmara de Lobos (1) e
Machico (1).
Com os dados recolhidos na rede de monitorização do mosquito Aedes aegypti, e depois de devidamente integrados e tratados
em ambiente SIG, são atualmente
compilados semanalmente, sob a
forma de Painéis Entomológicos,
47 boletins informativos da atividade vetorial semanal, e que são
distribuídos às autoridades de saúde regionais e concelhias, assim
como aos municípios, às juntas de
freguesia e às entidades gestoras
dos aeroportos e portos da Região.
É ainda produzido um Painel Entomológico destinado à população
em geral e que pode ser consultado em: https://www.iasaude.pt/
Mosquito/index.php/boletins/entomologicos.
De forma transparente, acessível
e em tempo-útil, os dados semanais da atividade vetorial podem
também ser consultados na plataforma NÃOMOSQUITO (https://
apps.iasaude.pt/naomosquito/).
Esta é uma plataforma geográfica
colaborativa na web, desenvolvida internamente com o intuito
de promover a autodeclararão
voluntária da presença de mosquito e da identificação de locais
infestados, servindo igualmente
de canal de contacto direto entre
o cidadão e a DRS, com pedidos
de contacto para esclarecimento de dúvidas e apresentação de
reclamações. |