SETEMBRO 2023
OS SISTEMAS DE INFORMAçãO GEOGRáFICA AO SERVIçO DA SAúDE
Dr. Duarte Araújo
Geógrafo

Margarida Clairouin
Engenheira do Ambiente

Maurício Santos
Direção Regional da Saúde

Os sistemas de informação geográfica ao serviço da saúde


Ao relacionar dados aparentemente não relacionáveis, os SIG tornam-se úteis na identificação atempada de fenómenos que ponham, ou possam pôr, em causa a saúde pública e a sua progressão no espaço, contribuindo de forma decisiva para tomadas de decisão mais rápidas e eficazes.

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e a análise espacial são os grandes aliados da saúde pública moderna. Tecnicamente, os SIG constituem uma poderosa ferramenta informática que recolhe, integra, armazena, edita, analisa, gere e apresenta dados associados a uma determinada localização espacial, permitindo de uma forma rápida a observação, análise, interpretação e gestão de informação muito diversa, que de outra forma não seria possível ser cruzada entre si. Ao relacionar dados aparentemente não relacionáveis, os SIG tornam-se úteis na identificação atempada de fenómenos que ponham, ou possam pôr, em causa a saúde pública e a sua progressão no espaço, contribuindo de forma decisiva para tomadas de decisão mais rápidas e eficazes. Como surgem os Sistemas de Informação Geográfica na vigilância epidemiológica e de vectores na Região? A presença do mosquito Aedes aegypti na Ilha da Madeira foi registada em 2005. Após sete anos da sua identificação, ocorreu o primeiro e único surto de dengue nesta ilha, o primeiro na Europa desde 1928. Na sequência da necessidade de associação da componente geográfica aos dados da doença e considerando a urgência no controlo do surto para a saúde pública, no início do surto de Dengue em 2012, foi criada uma equipa constituída por membros técnicos de vários serviços públicos regionais, tendo-se dado início à implementação de um Sistema de Informação Geográfica na Saúde. O início dos trabalhos deu-se com o mapeamento das moradas de trabalho, dos locais visitados e da residência dos primeiros 160 casos prováveis de Dengue na Madeira. Através do cruzamento das linhas que ligavam os diversos locais por cada caso, foi possível identificar os primeiros locais de contágio (Figura 1). Com o resultado deste trabalho, foi decidida a criação de equipas de campo com o objetivo de fazer o varrimento destas zonas para identificar e eliminar criadouros domésticos do mosquito Aedes aegypti. Resultado do cruzamento dos casos prováveis de dengue para localização dos primeiros focos de contágio (dados referentes ao surto de Dengue de 2012-2013). Após os primeiros 160 casos, continuou-se com o mapeamento dos casos prováveis de Dengue, contabilizando-se no final do surto um total de 2.168 pontos. A definição dos locais para a instalação de armadilhas de vigilância do vector teve por base estes dados e os SIG, os quais têm vindo a demonstrar ser uma ferramenta particularmente útil para o suporte às ações de vigilância. Exemplo disso foi o trabalho desenvolvido no período pós-surto, em houve a necessidade de redistribuir a rede de armadilhas de mosquito. O objetivo foi manter o esforço de captura, mas com melhor distribuição espacial. Para tal, a localização das armadilhas foi determinada através da combinação de diferentes mapas contendo a distribuição espacial de fatores que caracterizam potenciais áreas de risco para a saúde pública, como por exemplo: densidade populacional, intensidade do número de casos prováveis da dengue, altitudes abaixo dos 200 metros e áreas circundantes a locais com maior risco de contágio (escolas e unidades de saúde). Como funciona atualmente a vigilância entomológica do mosquito Aedes aegypti? A vigilância do mosquito Aedes aegypti é presentemente realizada com base nos dados recolhidos numa rede de armadilhas instalada por toda a RAM. Esta rede é atualmente composta por um total 228 armadilhas, das quais 204 são destinadas à vigilância de formas imaturas (Ovitraps) e 24 destinadas aos mosquitos adultos (BG Traps). No que diz respeito às Ovitraps, 177 são da responsabilidade direta da DRS e 27 encontram-se ao encargo do Museu de História Natural da CMF. A sua distribuição abrange todos os concelhos da RAM (88 no Funchal, 32 em Santa Cruz, 22 em Machico, 14 na Calheta, 14 no Porto Santo, 10 na Ribeira Brava, 8 em Câmara de Lobos, 7 na Ponta do Sol, 4 no Porto Moniz, 3 em São Vicente e 2 em Santana). No que concerne às 24 BG Traps, a gestão e manutenção de todas elas são da responsabilidade da DRS e têm uma distribuição espacial nos concelhos do Funchal (20), Santa Cruz (2), Câmara de Lobos (1) e Machico (1). Com os dados recolhidos na rede de monitorização do mosquito Aedes aegypti, e depois de devidamente integrados e tratados em ambiente SIG, são atualmente compilados semanalmente, sob a forma de Painéis Entomológicos, 47 boletins informativos da atividade vetorial semanal, e que são distribuídos às autoridades de saúde regionais e concelhias, assim como aos municípios, às juntas de freguesia e às entidades gestoras dos aeroportos e portos da Região. É ainda produzido um Painel Entomológico destinado à população em geral e que pode ser consultado em: https://www.iasaude.pt/ Mosquito/index.php/boletins/entomologicos. De forma transparente, acessível e em tempo-útil, os dados semanais da atividade vetorial podem também ser consultados na plataforma NÃOMOSQUITO (https:// apps.iasaude.pt/naomosquito/). Esta é uma plataforma geográfica colaborativa na web, desenvolvida internamente com o intuito de promover a autodeclararão voluntária da presença de mosquito e da identificação de locais infestados, servindo igualmente de canal de contacto direto entre o cidadão e a DRS, com pedidos de contacto para esclarecimento de dúvidas e apresentação de reclamações.

 


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