Dra. Bruna Gouveia Sub Diretora Regional de Saúde É esta vigilância que nos permite confirmar que, à data, não existem casos autóctones de doença transmitidas
pelo mosquito Aedes aegyti na Madeira. Permite-nos ainda identificar e notificar casos importados de doença, que
surgem pontualmente e são incluídos em Alertas de Saúde Pública ou comunicados específicos emitidos pela DRS.
Por exemplo, o último caso importado de dengue reportado na região foi em 2022. O MOSQUITO AEDES AEGYTI ESTÁ EM TODO O MUNDO E NESTA ALTURA DO ANO, NA SUA MAIOR ATIVIDADE.
APESAR DE TERMOS O MOSQUITO ENTRE NÓS, AS DOENÇAS QUE CAUSA NÃO CIRCULAM PELA MADEIRA DESDE
O SURTO EM 2012-2013. AO JM SAÚDE, A DRA. BRUNA GOUVEIA, EXPLICA O QUE TEM SIDO FEITO.
PORQUE É QUE A PRESENÇA DO MOSQUITO AEDES AEGYTI PODE AFETAR A SAÚDE PÚBLICA? Os riscos associados às doenças transmitidas por vetores são
globais e crescentes, sendo o
mosquito Aedes aegyti um vector relevante nesta problemática, em todo o mundo. A elevada
mobilidade de pessoas, animais
e mercadorias e as alterações climáticas, favorecem a expansão e
o estabelecimento de espécies
invasoras e a emergência ou reemergência de zoonoses (doenças transmitidas ao homem por
animais).
O mosquito Aedes aegypti,
quando infetado, pode transmitir doenças como a Dengue, Febre
Amarela, Chikungunya e Zika. Na
Madeira, embora não circulem
estas doenças (não existem casos autóctones desde o surto de
2012-2013), as autoridades de
saúde monitorizam permanentemente a atividade deste vector,
presente na região desde 2005,
e implementam ações na comunidade para reduzir a população
deste mosquito.
Os casos de doenças transmitidas por este vetor têm vindo a
aumentar em todo o mundo e a
surgir em locais onde não existia transmissão destas doenças.
Por exemplo, desde o início de
agosto de 2023, foram reportados casos dengue em Itália e
França e o Centro Europeu de
Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) reforçou o alertou
para o risco acrescido de doenças transmitidas por mosquitos na União Europeia, dada a
disseminação de mosquitos da
espécie Aedes. QUAL É A ESTRATÉGIA PARA CONTROLO DO MOSQUITO AEDES AEGYTI NA RAM?
QUE GUIDELINES TEM COMO REFERÊNCIA? A presença deste tipo de vector exige mecanismos complexos
e dinâmicos, para que os organismos de saúde pública sejam
capazes de garantir uma deteção
precoce de quaisquer casos humanos de doenças transmitidas
por mosquitos (arboviroses), realizar avaliações rápidas de risco,
integrar nova evidência científica sobre os vetores e os agentes patogénicos que estes podem
transmitir, coordenar uma resposta eficaz aos surtos e comunicar adequadamente os riscos, a
fim de gerir adequadamente uma
potencial emergência de saúde
pública a nível local, regional,
nacional e internacional.
Considerando uma componente epidemiológica, que pressupõe o alerta e a preparação para
resposta a situações de emergência; na Região Autónoma da
Madeira, a estratégia regional
prioriza o reforço do controlo do
vector, através da capacitação,
da melhoria da vigilância e de
ações coordenadas e integradas,
no que respeita a sectores e a
doenças, tendo como principal
referencial o “The Global vector control response 2017–2030”
(OMS, 2017).
Além de suportar a manutenção, expansão e inovação no sistema de vigilância entomológica
implementado na nossa região, a
estratégia regional prevê medidas de controlo, essencialmente
baseadas na eliminação de criadouros e na captura de mosquitos. Importa lembrar que lidamos
com um mosquito com elevada
resistência aos vários inseticidas
autorizados na Europa, pelo que o
uso de químicos não é uma alternativa na estratégia de controlo.
Uma outra área de relevo na
estratégia regional definida e
implementada pela Direção Regional da Saúde (DRS) é a investigação e inovação, que sustenta o conhecimento do vector e a
melhoria das ações de vigilância
e controlo. Neste domínio, a região tem participado e promovido
vários projetos de investigação,
em parceira com entidades de referência internacionais, com objetivos que vão desde a criação
de sistemas integrados de alerta
para o risco de transmissão de
doenças, estudos de resistência
a inseticidas, competência vectorial e origem/genética do Aedes aegypti, avaliação do efeito
de medidas de controlo, estudo
da literacia da população em relação a medidas de controlo e o
desenvolvimento e efetividade
de tecnologia aplicada, designadamente, de armadilhas “inteligentes” e de aplicações de
suporte às ações de prospeção
e vigilância. A VIGILÂNCIA É UMA ÁREA FUNDAMENTAL PARA A SAÚDE PÚBLICA. COMO DESCREVE O SISTEMA
DE VIGILÂNCIA IMPLEMENTADO NA REGIÃO? Seguindo as recomendações
internacionais, o sistema de vigilância implementado na região
é um sistema integrado, considerando a vigilância epidemiológica, a identificação de fatores de
risco e a vigilância entomológica.
No que respeita à vigilância epidemiológica, esta é baseada em
dados clínicos e laboratoriais, que
permitem a rápida identificação
e o reporte de casos de doença
transmitida por Aedes aegyti. São
intervenientes os recursos da DRS
na área da epidemiologia e estatística, todas as autoridades de saúde, os vários profissionais e
entidades do Sistema Regional
de Saúde, havendo colaboração
de as instituições nacionais (DGS,
INSA) e internacionais (ECDC).
É esta vigilância que nos permite confirmar que, à data, não existem casos autóctones de doença
transmitidas pelo mosquito Aedes aegyti na Madeira. Permite-
-nos ainda identificar e notificar
casos importados de doença, que
surgem pontualmente e são incluídos em Alertas de Saúde Pública ou comunicados específicos
emitidos pela DRS. Por exemplo, o
último caso importado de dengue
reportado na região foi em 2022.
Sobre os fatores de risco a
considerar no sistema de vigilância, estes podem ser variados e provenientes de múltiplas fontes, numa perspetiva
de “epidemic intelligence”, permitindo detetar, verificar e investigar quaisquer potenciais
riscos para a saúde.
No que respeita à vigilância
entomológica, esta focada no
vector, pressupõe principalmente a monitorização da positividade, densidade e distribuição geográfica do mosquito
Aedes aegypti, fazendo-se ainda
a identificação de novos invasores e a pesquisa de agentes
patogénicos (vírus) no mosquito
Aedes aegypti (em articulação
com o programa nacional REVIVE). Neste campo, monitorizamos de forma integrada dados
climatológicos, com a colaboração do Instituto Português do
Mar e da Atmosfera. |