Professora do Ensino Básico
Tenho 5 anos e muito tempo para crescer
Considero que o sucesso escolar irá sempre depender do ambiente promovido em sala de aula. Pedir a qualquer criança que
fique sentada durante 5 horas, com atenção e focada no trabalho é uma tarefa inglória. Ainda mais quando não alcançou uma
regulação física e mental.
Entrar na escola significa conquistar novas competências, criar relações
saudáveis, brincar e aprender através
da curiosidade natural. Colocam-se várias questões na entrada de uma criança com 5 anos. Estará preparada? Irá
acompanhar a turma? Será capaz de
expressar emoções de forma construtiva? Manterá o interesse? Terá uma
equipa consciente das suas fragilidades, capacidades e potencialidades?
O ambiente de sala será respeitador
dos seus interesses e necessidades? Eu
própria entrei na escola dita primária
com 5 anos. Durante todo o meu percurso vi esta antecipação como uma
conquista, que em nada se deveu às
minhas competências. A pergunta colocada aos meus pais foi: “Tem uma boa
rotina de sono?”, “Dorme das 20h às
7h”. E pronto, a minha entrada no 1.º
ano com 5 anos ficou garantida. Idas
à psicóloga frequentes para garantir
o meu bem-estar, dormir cedo até em
período de férias, tempo de estudo autónomo em casa diário e muita gestão
pessoal na tentativa de criar amizades
com amigos sempre mais velhos que
eu. Hoje, como docente deste ciclo,
revejo todos os estes passos como essenciais para completar o ensino regular, assim como o tempo em família
despendido para oferecer esse apoio.
Dar oportunidade à criança para que
ela se relacione, aprenda a gerir a suas
emoções, tenha mais experiências sensoriais, brinque e faça do seu tempo
uma exploração constante do mundo,
significa permitir que ela se conheça,
seja autónoma, livre e consciente das
suas decisões, num presente pautado
pela rapidez. Considero que o sucesso
escolar irá sempre depender do ambiente promovido em sala de aula. Pedir
a qualquer criança que fique sentada
durante 5 horas, com atenção e focada
no trabalho é uma tarefa inglória. Ainda
mais quando não alcançou uma regulação física e mental. Entende-se como
uma grande mudança, passar de uma
aprendizagem centrada nos sentidos e
nas relações para uma aprendizagem
mais formal. Esta decisão deverá envolver um esforço colaborativo entre
a família, o docente, os especialistas e
profissionais de saúde, que considere
o ambiente familiar, as experiências
prévias de aprendizagem e o nível de
apoio disponível. Sem nunca esquecer as expectativas e inquietações da
criança. Assim, é essencial olhar para
os modelos pedagógicos que são colocados em prática nas nossas escolas.
Apesar de ser visível uma abordagem
cada vez mais inclusiva e personalizada,
nem sempre se verifica a voz ativa do
aluno. Enquanto o ensino se traduzir
em ver e ouvir o professor, é necessário
ponderar todas as influências que irão
determinar o sucesso escolar, dentro
e fora da sala de aula, muito além das
competências de uma criança com 5,
6 ou 7 anos. Quanto mais tempo for
dado à criança para que ela seja capaz
de alcançar os objetivos que outrem
lhe propõe, num ambiente de jogo livre
onde aprende fazendo, é o caminho que
a ajudará a tornar-se mais confiante,
independentemente do ambiente escolar formal que lhe for apresentado.
Para além do processo de maturação
cerebral de uma criança aos 5 anos e
da sua gestão interna de conflitos e
relações, a equipa pedagógica que a
irá acompanhar, assim como a sua família, são agentes fulcrais. Cada criança é um mundo de influências e a sua
entrada no primeiro ciclo será sempre
um momento de muita adaptação. As
questões que nos devemos colocar como adultos responsáveis são: “Confio
na equipa de sala? A minha criança é
capaz de permanecer focada numa
atividade? Explora as potencialidades
dos materiais para riscar, rasgar, cortar
e colar? Identifica e articula bem os
sons? Termina as tarefas que lhe são
propostas? Mostra autonomia nas atividades diárias? Estamos prontos para
oferecer o apoio necessário e incluí-lo
na rotina familiar? Fala sobre o que
sente em relação à mudança de ciclo?”. Todas estas questões são determinadas pela quantidade e qualidade
de jogo e brincadeira a que a criança
tem acesso no momento pré-escolar,
assim como pelo espaço aberto de
conversação sobre as suas expetativas e medos. O ser humano aprende
brincando! Aprende quando todos os
seus sentidos estão a ser explorados.
Não nos esqueçamos que a infância é
um tempo por si só. Deixá-las brincar
significa dar-lhes mais tempo e mais
oportunidades de aprender.