AGOSTO 2023
TENHO 5 ANOS E MUITO TEMPO PARA CRESCER!
Dra. Isabel Fernandes
Professora do Ensino Básico
Tenho 5 anos e muito tempo para crescer

Considero que o sucesso escolar irá sempre depender do ambiente promovido em sala de aula. Pedir a qualquer criança que fique sentada durante 5 horas, com atenção e focada no trabalho é uma tarefa inglória. Ainda mais quando não alcançou uma regulação física e mental.

Entrar na escola significa conquistar novas competências, criar relações saudáveis, brincar e aprender através da curiosidade natural. Colocam-se várias questões na entrada de uma criança com 5 anos. Estará preparada? Irá acompanhar a turma? Será capaz de expressar emoções de forma construtiva? Manterá o interesse? Terá uma equipa consciente das suas fragilidades, capacidades e potencialidades? O ambiente de sala será respeitador dos seus interesses e necessidades? Eu própria entrei na escola dita primária com 5 anos. Durante todo o meu percurso vi esta antecipação como uma conquista, que em nada se deveu às minhas competências. A pergunta colocada aos meus pais foi: “Tem uma boa rotina de sono?”, “Dorme das 20h às 7h”. E pronto, a minha entrada no 1.º ano com 5 anos ficou garantida. Idas à psicóloga frequentes para garantir o meu bem-estar, dormir cedo até em período de férias, tempo de estudo autónomo em casa diário e muita gestão pessoal na tentativa de criar amizades com amigos sempre mais velhos que eu. Hoje, como docente deste ciclo, revejo todos os estes passos como essenciais para completar o ensino regular, assim como o tempo em família despendido para oferecer esse apoio. Dar oportunidade à criança para que ela se relacione, aprenda a gerir a suas emoções, tenha mais experiências sensoriais, brinque e faça do seu tempo uma exploração constante do mundo, significa permitir que ela se conheça, seja autónoma, livre e consciente das suas decisões, num presente pautado pela rapidez. Considero que o sucesso escolar irá sempre depender do ambiente promovido em sala de aula. Pedir a qualquer criança que fique sentada durante 5 horas, com atenção e focada no trabalho é uma tarefa inglória. Ainda mais quando não alcançou uma regulação física e mental. Entende-se como uma grande mudança, passar de uma aprendizagem centrada nos sentidos e nas relações para uma aprendizagem mais formal. Esta decisão deverá envolver um esforço colaborativo entre a família, o docente, os especialistas e profissionais de saúde, que considere o ambiente familiar, as experiências prévias de aprendizagem e o nível de apoio disponível. Sem nunca esquecer as expectativas e inquietações da criança. Assim, é essencial olhar para os modelos pedagógicos que são colocados em prática nas nossas escolas. Apesar de ser visível uma abordagem cada vez mais inclusiva e personalizada, nem sempre se verifica a voz ativa do aluno. Enquanto o ensino se traduzir em ver e ouvir o professor, é necessário ponderar todas as influências que irão determinar o sucesso escolar, dentro e fora da sala de aula, muito além das competências de uma criança com 5, 6 ou 7 anos. Quanto mais tempo for dado à criança para que ela seja capaz de alcançar os objetivos que outrem lhe propõe, num ambiente de jogo livre onde aprende fazendo, é o caminho que a ajudará a tornar-se mais confiante, independentemente do ambiente escolar formal que lhe for apresentado. Para além do processo de maturação cerebral de uma criança aos 5 anos e da sua gestão interna de conflitos e relações, a equipa pedagógica que a irá acompanhar, assim como a sua família, são agentes fulcrais. Cada criança é um mundo de influências e a sua entrada no primeiro ciclo será sempre um momento de muita adaptação. As questões que nos devemos colocar como adultos responsáveis são: “Confio na equipa de sala? A minha criança é capaz de permanecer focada numa atividade? Explora as potencialidades dos materiais para riscar, rasgar, cortar e colar? Identifica e articula bem os sons? Termina as tarefas que lhe são propostas? Mostra autonomia nas atividades diárias? Estamos prontos para oferecer o apoio necessário e incluí-lo na rotina familiar? Fala sobre o que sente em relação à mudança de ciclo?”. Todas estas questões são determinadas pela quantidade e qualidade de jogo e brincadeira a que a criança tem acesso no momento pré-escolar, assim como pelo espaço aberto de conversação sobre as suas expetativas e medos. O ser humano aprende brincando! Aprende quando todos os seus sentidos estão a ser explorados. Não nos esqueçamos que a infância é um tempo por si só. Deixá-las brincar significa dar-lhes mais tempo e mais oportunidades de aprender.

 


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