Dra. Ana Maria Caires
Psicologia Clínica e Psicoterapia
Como gerir o regresso às aulas para as crianças
Este período pode suscitar tanto de entusiasmo, alegria, saudade, como de melancolia,
preocupação e até angústia.
Preparar a criança para esta nova etapa, ao
levá-la a conhecer a escola previamente (caso
seja possível) e ao conversar com ela acerca
dos aspetos positivos e cativantes sobre a
escola, pode ser apaziguador.
Logo após as férias grandes, o
regresso às aulas é um período
muito singular. Termina uma fase
de lazer bem vivida em família, e
aproxima-se a vinda de um novo
ritmo com a imposição de um conjunto de exigências para as crianças, os jovens, os pais/cuidadores
e os professores. Este período pode suscitar tanto de entusiasmo,
alegria, saudade, como de melancolia, preocupação e até angústia.
O regresso às aulas desperta expectativas e dúvidas por parte dos
futuros alunos, das suas famílias
e dos professores. Por isso, é comum o aparecimento de algum
stresse. As mudanças escolares
que acontecem segundo as particularidades de cada nível de ensino, (tais como as mudanças de estabelecimento escolar, de turma,
de professores, de salas e de horários) contribuem para o aparecimento de algumas manifestações
de ansiedade geralmente passageiras e naturais. No entanto, existem situações mais específicas em
que o regresso às aulas pode ser
vivido com aflição, inquietação,
e incerteza, por exemplo quando foram vividas experiências negativas e dolorosas nos anos anteriores; e também quando há a
perceção e o sentimento de que
é difícil compreender e lidar com
o que escola representa e implica. Nestas situações, o regresso
à escola pode estar associado a
uma ansiedade mais significativa.
As crianças mais pequenas (dos
3 aos 6 anos) que ingressam pela
primeira vez num estabelecimento
de ensino e os seus pais, podem
naturalmente sentir-se um pouco
nervosos. Como a criança ainda
tem episódios de ansiedade de
separação ocasionais atendendo
ao seu desenvolvimento psicológico, é possível que os pais possam temer pela reação da criança
aquando da separação, e a sua
própria reação perante tal situação. Preparar a criança para esta
nova etapa, ao levá-la a conhecer
a escola previamente (caso seja possível) e ao conversar com
ela acerca dos aspetos positivos
e cativantes sobre a escola, pode
ser apaziguador. É importante ter
presente que a escola é um local
seguro, de descoberta e de aprendizagem e que para a criança será
um tempo bastante proveitoso,
positivo, que a ajudará a consolidar a sua autonomia. Outra estratégia extremamente útil nesta
preparação, é a criação ou o retomar de rotinas para a criança
na vida familiar. É que as rotinas
proporcionam previsibilidade, segurança emocional e autonomia
na criança, uma vez que esta pode
aprender regras, treinar competências, e sentir-se mais confiante,
sabendo o que a espera e sentindo
que tem algum controlo sobre o
que se passa.
COMO GERIR O MOMENTO
DE SEPARAÇÃO
Este período pode suscitar tanto de entusiasmo, alegria, saudade, como de melancolia,
preocupação e até angústia.
Em relação ao momento de separação, os pais de
crianças mais pequenas podem seguir os passos
seguintes:
a) Diga ao seu filho(a) que vai
embora, de modo firme; Não minta e não saia às escondidas porque assim deixará a criança ainda
mais insegura.
b) Faça a despedida sem demoras, com um abraço ou beijo. Fale
em algo positivo sobre o tempo
que a criança vai ficar na escola.
Diga-lhe quando é que voltará a
vê-lo/a, quando e quem é que irá
buscá-lo/a.
c) E quando voltar, cumprimente o seu filho/a carinhosamente e
com alegria. Demonstre-lhe que
está feliz por vê-lo/a.
COMO OS PAIS DEVEM GERIR
O REGRESSO ÀS AULAS
Antes das aulas, retomar o seguimento das rotinas e dos horários
familiares é igualmente essencial.
Para os pais, o início das aulas pode ser um momento emocionalmente intenso porque é
reconhecer que a criança está
a crescer e a tornar-se mais independente, e já não tão bebé
e/ou pequena; e porque por vezes para alguns pais a escola traz
lembranças sofredoras. O que é
essencial fazer, por parte destes
pais, é sobretudo evitar transmitir este eventual desconforto
emocional à criança.
Habitualmente, as crianças
mais velhas e os jovens têm mais
consciência das obrigações e da
sobrecarga que o regresso às aulas envolve, e podem consequentemente sentir mais stresse com
a pressão da avaliação e do sucesso escolar. Uma das formas
eficazes para ajudar os filhos a
lidar com este stresse é os pais
estabelecerem uma comunicação
aberta e apoiante com os seus
filhos, escutando-os e validando
os seus sentimentos. Antes das
aulas, retomar o seguimento das
rotinas e dos horários familiares
é igualmente essencial.
A organização e a participação
colaborativa entre pais e filhos na
planificação das tarefas também
são fundamentais, pelo que há
que dedicar um certo tempo
para a aquisição e a adaptação do material escolar, o vestuário preciso, e a obtenção
de informações e documentos
precisos (listas, datas e horários). Recomenda-se que esta planificação seja feita com
um pouco de antecedência para
diminuir o stresse (de última
hora), e assim poupar esforços e despesas supérfluas. Uma
atitude paciente, confiante e
proactiva por parte dos pais é
extremamente benéfica para
os filhos, pois são os pais que
transmitem segurança e são um
modelo positivo a seguir, o que
é um precioso reconforto para
os filhos e assim não se sentirão
tão nervosos.
PROFESSORES
DEVEM PRIORIZAR
TEMA PRINCIPAL
Antes das aulas, retomar o seguimento das rotinas e dos horários
familiares é igualmente essencial”
E os professores têm filhos, pelo que a pressão pode ser imensa, ao ter de gerir-se o
regresso às aulas duplamente. Para lidar com esta pressão, saber gerir o stress, ter a
capacidade em organizar as tarefas segundo o seu grau de prioridade, saber planear.
Em relação aos professores,
tendemos por vezes a esquecer
que podem também sentir bastante stresse. É que para a maioria, o regresso às aulas começa
bem mais cedo, devido a toda a
preparação que deve ser realizada e gerida antes do início do
ano letivo, e é preciso agendar e
estruturar inúmeras atividades
escolares, consoante o nível de
ensino, a turma, as necessidades
dos alunos e da escola enquanto
instituição. E os professores têm
filhos, pelo que a pressão pode
ser imensa, ao ter de gerir-se o
regresso às aulas duplamente.
Para lidar com esta pressão, saber gerir o stress, ter a capacidade em organizar as tarefas segundo o seu grau de prioridade,
saber planear, distribuir tarefas
em equipa, e permitir-se fazer
pausas sem se sentir culpado,
são várias estratégias que podem ajudar.
Os primeiros dias de aulas poderão ser um desafio, mas facilmente acontecerá a integração
na escola, o stresse inicial começará a desaparecer e a repetição
acabará por ser uma rotina. Uma
excelente rentrée para todos!