Dra. Sílvia Brazão Psicóloga do Serviço de Psicologia do SESARAM Dra. Sílvia Freitas Psicóloga do Serviço de Psicologia do SESARAM A OMS diz que gravidez na adolescência é de alto risco “Estas ocorrências agravam-se quando a mãe tem uma idade inferior a 15 anos, configurando
uma situação potencial (e circular) de crise sobre as crises. A mortalidade peri natal é mais elevada
quanto mais jovem é a mãe” As psicólogas Sílvia Brazão e Sílvia Freitas, do
Serviço de Psicologia do SESARAM, dão a sua
opinião acerca do impacto que uma gravidez
na adolescência pode ter. É um ponto de vista que obriga a olhar para estas decisões de
forma global, mas argumentam que “as presenças de determinados fatores psicológicos
se sobrepõem à importância da literacia sobre
esta problemática”. Obviamente que uma gravidez na adolescência tem impactos na vida de
uma jovem mãe. Quais? Existem implicações a vários níveis. A partir do momento em que engravida, a
adolescente fica vulnerável e, portanto, suscetível a consequências psicológicas
e físicas que podem provocar um impacto significativo. Relativamente aos impactos psicológicos, a aceitação das mudanças que esta experiência acarreta, e
a consequente adaptação a novos papéis e exigências são grandes desafios para
os quais a jovem poderá́
não estar preparada. Alguns autores defendem, mesmo,
um “síndrome do fracasso” iniciado paralelamente à gravidez adolescente. A
jovem poderá́
não ser capaz de concretizar e atingir os objetivos próprios desta fase de vida, e prosseguir com a construção de uma identidade autónoma,
frustrando assim as suas expectativas e sonhos para o futuro.
Neste sentido, também se verificam implicações familiares, por ser um encargo financeiro mais difícil de suportar pelas famílias; normalmente continuam a
viver com os próprios pais (com ou sem companheiro), o que causa impacto no
processo de autonomização e na vivência do casal como família.
Surgem sentimentos de culpa, baixa auto-estima, insegurança, vergonha, medo e tristeza; imaturidade emocional pelo desfasamento entre as competências
reais e o que é exigido; mudança de identidade, onde não tendem a sentir-se
realizadas como mães; aumento da ansiedade, depressão e depressão pós
parto; instabilidade e irritabilidade; sentimentos de incapacidade e de perda
de dignidade; ideação e gestos suicidas; desilusão repentina, por se idealizar
a situação, não prevendo os aspetos negativos (bebé real/ bebé imaginado);
e muitas vezes os bebés tendem a ser “entregues” aos avós, o que dificulta
o vínculo mãe/ bebé. Além disso, os filhos das mães adolescentes têm maior
tendência a crescerem sem o pai, devido a uma relação que não tende a ser
estável e com maior probabilidade de rutura, sendo que, em alguns casos, há
grande dificuldade em aceitar o papel, que é sentido como imposto e reagindo
com afastamento, raiva, revolta e ambivalência. O que ainda leva jovens a ser mais tão novas? Serão dogmas ou falta de
informação? São diversos os motivos que levam as adolescentes a engravidar, podendo variar consoante as próprias características individuais, bem como do seu contexto
específico. Apesar de estar comprovado que a falta de conhecimentos sobre a
sexualidade e sobre o uso de métodos contracetivos contribui para a sua menor utilização, os estudos sugerem que as presenças de determinados fatores
psicológicos se sobrepõem à importância da literacia sobre esta problemática.
A tensão psicológica inerente à natureza conflitual deste período de vida,
poderá induzir os adolescentes a relações sexuais cada vez mais precoces, as
quais têm subjacente, uma tentativa de compensar uma sensação de vazio interno, sendo o “ter um bebé” uma forma de atenuar as carências e procurar um
amor incondicional. Neste sentido, as relações não são só, nem principalmente,
procura de sexo, mas desejo de carinho, ternura e segurança. Algumas características do pensamento e funcionamento emocional dos adolescentes poderão
predispô-los a um maior risco de uma gravidez, as quais podemos destacar: o
egocentrismo, o pensamento mágico, o baixo autocontrole, o baixo sentido de
responsabilidade, as dificuldades em antecipar as consequências dos seus actos, a necessidade de agradar, a necessidade de explorar o próprio corpo e o
do outro, e a ambivalência face ao desejo de engravidar devido à ideia de que
a gravidez poderá funcionar como uma “promoção a ser mulher”. Também poderá ocorrer na expetativa idealizada de uma maior estabilidade com o companheiro, fortalecendo os laços. Já trabalharam com uma situação deste tipo: mãe na adolescência? As jovens mostram-se preparadas para serem mães? Do ponto de vista do desenvolvimento físico, a adolescente ainda se encontra
numa fase de maturação biológica, pelo que esta razão é, por si só, suficiente
para se considerar que a jovem não está ainda preparada para concretizar um
projeto de maternidade. Conforme está documentado pela OMS, a gravidez na
adolescência é, reconhecidamente, uma gravidez de alto risco, quer para a mãe,
quer para o filho, com maior probabilidade de ocorrerem problemas durante a
gestação, parto e pós-parto – o que acentuará as dificuldades naturais de uma
gravidez nesta etapa. Estas ocorrências agravam-se quando a mãe tem uma idade inferior a 15 anos, configurando uma situação potencial (e circular) de crise
sobre as crises. A mortalidade peri natal é mais elevada quanto mais jovem é a
mãe, podendo existir problemas de nutrição, anemia, parto pré termo, partos
difíceis, pré eclampsia, recém nascidos de baixo peso, algumas malformações
congénitas, ou atraso no crescimento fetal por deficiente irrigação placentar.
Por outro lado, no que concerne ao desenvolvimento psicológico, os indicadores quer da evidência, quer da nossa experiência clínica, são convergentes com
os mencionados. Existe uma enorme diferença entre o desejo de estar grávida e
o desejo de ter um filho. O primeiro remete-se ao plano simbólico, geralmente
inconsciente e relacionado com a própria identidade da mulher. Enquanto que
o desejo de ter um filho, enquadra-se num projecto de vida estabelecido. Na
verdade, um pode não coincidir necessariamente com o outro. O desejo de um
filho pressupõe desejá-lo enquanto ele próprio. IMPLICAÇÕES FAMILIARES - Encargo financeiro mais difícil de suportar pelas famílias; - Normalmente continuam a viver com os próprios pais
(com ou sem companheiro), o que causa impacto no processo
de autonomização e na vivência do casal como família, pois
acabam por se tornar mais dependentes e a depender física
e financeiramente dos pais; - Em famílias disfuncionais, a gravidez pode reforçar, de
forma negativa, laços patológicos entre pais e filhos e a falta
de apoio e abandonos. IMPLICAÇÕES
SOCIAIS COM
A GRAVIDEZ NA
ADOLESCÊNCIA - Alterações no percurso e projetos de vida da adolescente; - Tendência ao isolamento pelo
afastamento do grupo de pares,
que têm uma importância significativa nesta altura da vida, ou
mesmo devido ao estigma, ainda
existente, associado à gravidez
na adolescência; - Abandono e insucesso escolar; - São muitas vezes forçadas a
assumir relacionamentos com
maior formalidade como o casamento; - Choque familiar, visto que
tendem a ser gravidezes não planeadas e não desejadas, o que
muitas vezes conduz a reações
menos adaptativas por parte da
família; - Tendência a ser escondido durante muito tempo, o que leva
a que hajam menos cuidados de
saúde e consultas médicas necessárias e menos preparação
para o acontecimento. |