Dr. Luis Farinha Diretor do Serviço de Ginecologia do SESARAM "É difícil uma adolescente estar preparada para a maternidade" Nos últimos dez anos houve um decréscimo gradual e significativo do número de
mães em idade adolescente na Região. O médico Diretor do Serviço de Ginecologia
do SESARAM, Luís Miguel Farinha, enumera vários dos problemas que estas mães
atravessam. Mesmo quando os casos são de sucesso. O Diretor do Serviço de Ginecologia do SESARAM, o médico Luís
Miguel Farinha aceitou o desafio do
JM Saúde de abordar a problemática da maternidade na adolescência.
Para este médico, a redução do
números de mães adolescentes na
última década é significativa. “A avaliação dos números reporta ao critério de adolescente entre os 15 e
os 19 anos. Os números na RAM
evoluíram com um número decrescente entre 2013 e 2022
Em 2013 o número de mães adolescentes foi de 52, em 2014 de 31,
em 2015 de 24, em 2020 de 28 e
em 2022 de 13”, refere.
Para este médico, estes números
devem-se a uma aposta de sucesso
“nas políticas sociais, de educação e
de saúde da RAM”. Mas Luís Miguel
Farinha não puxa os ‘louros’ apenas
às políticas do Governo Regional e
na sua análise elogia o trabalho de
várias instituições. “É o resultado
de uma tarefa que a todos compromete começando pela família com
a sua contribuição informativa na
vertente da sexualidade, das escolas com a existência de aulas sobre
a fisiologia dos órgãos sexuais e temas consagrados à sexualidade, aos
Cuidados de Saúde Primários -médicos e de enfermagem com toda a
sua disponibilidade para receber as
jovens adolescentes e abordar estes
temas, aos Cuidados Hospitalares
pela existência de consultas especificas de planeamento familiar para
este grupo etário. Não devemos esquecer o papel relevante também
dos pediatras e dos ginecologistas
no setor privado”, assume.
Este trabalho de relevo para que
a consciencialização da população
juvenil da Região, tem ainda outro
foco de sucesso para o Luís Miguel
Farinha. “Não basta haver informação é necessária que ela seja descodificada, entendida, assimilada
e praticada. O acesso à informação
cada vez mais presente e as políticas de saúde com a facilidade de
acesso às consultas e métodos de
planeamento familiar contribuem
para esta melhoria. Continua a ser
importante o papel de toda a comunicação social na informação continuada e repetida sobre alguns temas da saúde”.
O médico especialista em ginecologia, afirma ainda, pela experiência
desenvolvida ao longo dos anos,
que “é muito difícil uma jovem adolescente estar preparada para a maternidade. O apoio familiar é fundamental mesmo com a presença
de Instituições vocacionadas para
apoio a estas jovens grávidas”. Evolução
do número de
mães adolescentes 2013 – 52 2014 – 31 2015 – 24 2020 – 28 2022 - 13 Algumas complicações
da gravidez
na adolescência - Doenças Sexualmente Transmissivas; - Baixo ganho ponderal materno; - Infeções trato urinário; - Depressão;
- Anemia; - Doença hipertensiva na gravidez; - Restrição de crescimento fetal com
baixo peso ao nascer; - Rotura prematura de membranas; - Parto prematuro. “A prematuridade é sempre um problema de saúde” O médico Luís Miguel Farinha
não tem dúvidas. “A prematuridade é sempre um problema de
saúde. Na avaliação da prematuridade são vários os fatores a considerar nomeadamente a idade
gestacional, presença de patologia fetal e/ou patologia materna
e maturação fetal prévia. A qualidade dos Serviços de Ginecologia
e Obstetrícia e os de Neonatologia
e dos cuidados prestados contribui para a grande evolução dos
resultados”, garante.
Mas há mais problemas de outras índoles que podem surgir. “O
primeiro e grande problema é o
psicológico da adolescente grávida. Assumindo muitas vezes só,
outras vezes com o seu jovem
companheiro, prolongando o período até informar o familiar mais
próximo, pela sua leitura da dificuldade familiar em compreender
e apoiar esta etapa muito especial
da sua vida.
Depois, a própria família pela
nova restauração daquele agregado familiar na fase da gravidez,
mas especialmente nos pós-nascimento. A interferência na sua formação escolar muitas vezes e erradamente abandonado a escola
não deve ser esquecida”, lamenta.
O médico diz muito que estas
gravidezes já não acontecem por
défice de informação, mas pela
dificuldade na descodificação de
toda a informação. “A gravidez
nestas idades não ocorre por défice de informação embora seja
sempre necessário reforçar periodicamente. O acesso à internet
faz parte da atividade diária das
jovens. O recurso a métodos de
planeamento familiar nos cuidados públicos de saúde também se
encontra facilitado como acontece
com o recurso à contraceção de
emergência. Por vezes é a ocasião ou a descodificação de toda
a informação aprendida, mas não
aplicada o caminho para a ocorrência da gravidez”. Serviço de Ginecologia sempre nas escolas A redução gradual e até acentuada do número de mães adolescentes na opinião do médico Luís Miguel Farinha deve-se
também a um trabalho de esclarecimento realizado junto das
escolas da região. “Há mais de uma década que o Serviço de
Ginecologia e Obstetrícia faz deslocar equipas médicas às escolas para ações de formação na área da sexualidade, Doenças de transmissão sexual (DTS) e gravidez. Esta é uma nossa
contribuição para a sociedade. Continuamos disponíveis para
colaborar a pedido de todas as Instituições de Ensino ou outras,
mas também com a comunicação social sobre esta ou qualquer temática relacionada com a saúde da mulher”, destaca.
E termina realçando a “melhoria das condições económicas e
sociais, a proximidade das jovens aos cuidados médicos e aumento da literacia na saúde complementam esta lista de uma
função não terminada, mas que a todos envolve”, sem se esquecer que não é possível “esquecer a existência da lei sobre
a Interrupção voluntária da gravidez”. |