Cristina Vaz de Almada e Isabel Fragoeiro Coordenadores do Manual de Literacia em Saúde Cristina Vaz de Almeida, advogada com pós-graduação em psicologia, é uma das promotoras
mais ativas da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde e
que já conseguiu, inclusivamente,
num excelente trabalho de equipa, que a Sociedade Portuguesa
da Literacia em Saúde participasse, como perita, do próximo
Plano Nacional de Literacia em
Saúde e Ciência Comportamental.
Para Cristina Vaz de Almeida, o cenário atual é aquele em
que começam a surgir mudanças.
“Estamos bem e estamos mal.
Continuamos com níveis muito altos de pessoas com baixa
literacia em saúde, mas estamos melhor pois começa a haver muitos projetos de literacia
em saúde no terreno e com eficácia na mudança de comportamentos. Participamos como peritos no próximo Plano Nacional
de Literacia em Saúde e Ciência
Comportamental. Estamos muito ativos porque queremos que
algo mude. Estamos a mudar a
forma de pensar e de agir”, contextualiza.
Para esta professora, a Literacia em Saúde começa a deixar de
ser apenas um ‘palavrão’ para a
sociedade portuguesa, da mesma forma que aos poucos começa a acompanhar aquilo que já
é entendível para os médicos e
comunidade científica. “Traduzir o que chama de "palavrão" é
missão da sociedade portuguesa
de literacia em saúde. Promover
o sentido do conceito foi a nossa preocupação desde o início.
E por isso um dos trabalhos que
fizemos foi precisamente trabalhar essa parte conceptual”. É um
trabalho evolutivo que acontece
de mãos dadas entre o entendimento e o desenvolvimento
do projeto. “Só nos apropriamos das coisas se soubermos o
seu significado e como usá-las.
O "Ensaio sobre o conceito" de
literacia em saúde é isso mesmo:
uma viagem sobre cada termo
do conceito que nos deu muito
prazer navegar por estes significados”.
São vários os projetos a decorrer. “Enquanto sociedade com
características e objetivos únicos
a nível nacional, pretendemos
desenvolver e fortalecer, através de parcerias multissetoriais
e multiprofissionais, a promoção
da saúde, prevenção da doença,
educação para a saúde, comunicação em saúde que reforcem o
nível de literacia em saúde da
população”.
E complementa. “Para este
fim, sabemos que temos de investir em competências, e por
isso, em mais conhecimento
em saúde, desenvolvimento de
capacidades e atitudes e comportamentos mais saudáveis e
conscientes, dinâmicos e sempre
atualizados, com vista a beneficiar os indivíduos, organizações,
comunidades, profissionais de
saúde, grupos, media, decisores
políticos e outros, dentro dos
respetivos contextos e ao longo
do ciclo de vida”. UNIVERSIDADES SENIORES
E FARMÁCIAS PROMOVEM AÇÕES Para acelerar todo este processo de esclarecimento da temática da Literacia em Saúde, a
Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde tem promovido,
com a colaboração com as universidades seniores e as farmácias, ações de esclarecimento.
“Para além da formação a associações de doentes que envolve
algumas associações de doentes
na Madeira, temos um projeto
a nascer com a Madeira que envolvem universidades seniores e
farmácias para se gerar um processo de conhecimento através
de ações de sensibilização para o
medicamento e para a vacinação
ao qual se seguem intervenções
de criação de materiais (postais,
cartazes, folhetos) que são criados pelos idosos e depois expostos nas farmácias aderentes.
Este projeto é da SPLS e tem o
apoio da ordem dos farmacêuticos”, explica a professora Vaz
de Almeida.
Mas há mais novidades. “Estamos também a desenvolver
outros projetos ao longo do ciclo
de vida que envolvem o contato
direto com a população. Acreditamos que é preciso ir ter com a
população e fazer intervenções
nos contextos e de acordo com
o ciclo de vida”. O Manual de Literacia em Saúde MANUAL DE LITERACIA
EM SAÚDE. PRINCÍPIOS E
PRÁTICAS. Coordenadoras: Cristina Vaz
de Almeida e Isabel Fragoeiro Editora: Pactor, 2021 Recentemente foi editado e apresentado o 1º Manual de Literacia
em Saúde em Portugal, o que foi
extensível à RAM. Este manual,
enquadra-se no âmbito dos objetivos da Sociedade Portuguesa
de Literacia em Saúde, constituída em março de 2022 e que tem
concretizado um conjunto de iniciativas abertas à participação
dos cidadãos, catalisando a sua
participação como construtores
de comunidades mais saudáveis
e inclusivas. O empoderamento
dos cidadãos e a sua ação diária
nos contextos de vida são essenciais para usufruírem de melhor
saúde e para disfrutarem de níveis
mais elevados de bem-estar. Um
dos pilares da saúde é a literacia
em saúde. Esta obra é um contributo para que aqueles que a utilizem, encontrem um conjunto de
referenciais teóricos, científicos
e também práticos, que os orientem na construção do respetivo
projeto de saúde, tão importante
para a prossecução do seu projeto
de vida.
Este Manual de Literacia em
Saúde destina-se a todos os cidadãos. Compõem-no um conjunto de capítulos integradores
de saberes diversos, aprofundados por entendidos na matéria,
com formações profissionais e
científicas diferenciadas, que se
complementam, enriquecendo
os diferentes ângulos e as dimensões, através dos quais se pode
abordar a Literacia em Saúde.
Faculta aos cidadãos o acesso
a conhecimentos baseados em
evidências científicas, que os tornam conhecedores e críticos da
matéria, e que, contribuem para
que compreendam o que pode
entender-se por literacia em saúde e as mais valias advindas de investimento na mesma. Acrescem
aos capítulos reflexões personalizadas de diferentes individualidades que têm assumido responsabilidades e funções primordiais a
nível do país bem como a nível
internacional, nomeadamente
ligadas à saúde dos portugueses
e à literacia em saúde a nível Europeu e da Organização Mundial
de Saúde.
O modo e o quanto a Literacia em Saúde pode influenciar o
autocuidado, a saúde e o bem-
-estar, em que âmbitos e situações as capacidades inerentes à
literacia em saúde adquiridas ou
aperfeiçoadas pelos cidadãos,
podem ser mobilizadas em proveito do próprio, dos seus significativos e das comunidades, para
torná-los mais fortalecidos, são
assuntos igualmente abordados
ao longo de diversos capítulos.
Resta-nos deixar aqui o convite
aos prezados leitores para que o
consultem e o utilizem com proveito para pensar a sua saúde e
para agirem na respetiva promoção quer a nível das comunidades onde se integram quer também na própria e dos seus mais
significativos. Quatro componentes
primordiais do Manual de
Literacia em Saúde: 1. Primórdios e evolução no tempo do conceito e de
modelos estruturais compreensivos do que se
considera ser a literacia em saúde; 2. Metodologias científicas de desenvolvimento
e aplicação; 3. Contextos primordiais de desenvolvimento e aplicação quer universais, quer seletivos e específicos,
atendendo às características das populações alvo; 4. Pressupostos e considerações básicas fundamentais para assegurar a eficiência e os
resultados pretendidos do investimento em literacia em saúde. |