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Tradicionalmente, o Cancro Oral afeta mais o género masculino, nas faixas etárias acima dos cinquenta anos, verificando-se nos últimos tempos uma inversão na sua incidência, com o aumento no género feminino e já na quarta década de vida.

Como área da medicina dentária, a Cirurgia Oral é leccionada no âmbito da formação pré-graduada em todas as Faculdades de Medicina Dentária do país e é exercida por todos os médicos dentistas, no âmbito do seu desempenho clínico quotidiano. O seu campo de acção é muito extenso, intervindo em patologias que se manifestam primariamente na cavidade oral, mas também em doenças e patologias que tendo a sua origem em diferentes partes do nosso organismo, nela apresentam manifestações secundárias. São exemplo as lesões cancerígenas, que poderão ter a sua origem na boca, mas também poderão surgir como metástases de diferentes patologias (por ex. cancro de mama, entre muitas outras). A sua vasta área de intervenção, permite destacar a cirurgia oral como parceira fundamental para o desempenho de múltiplas áreas da medicina dentária, de modo particular em técnicas de exodontias, de cirurgia de dentes inclusos, de cirurgia pré-protética, de cirurgia periodontal, de cirurgia pediátrica, de cirurgia endodôntica, de cirurgia quística e tumoral, de cirurgia ortodôntica e ortognática, de cirurgia regenerativa de tecidos moles (mucosas/gengivas) e duros (osso) com recurso a enxertos ósseos e a biomateriais, de cirurgia de implantologia intra-oral e extra-oral em estruturas anexas e atinentes à cavidade oral, até técnicas de cirurgia oral avançada. Estas requerem formação pós-graduada em tempo integral de 3 anos consecutivos, leccionada em Faculdades de Medicina Dentária, em âmbito devidamente definido e regulamentado, que dotam o médico dentista de habilitação suficiente para se candidatar ao título de Especialista. Merece especial destaque a intervenção do médico dentista e do especialista em Cirurgia Oral na deteção precoce das lesões e tumores da cavidade oral, considerando que o Cancro Oral é o considerado o 6º tumor maligno mais comum, representando 2,8% de entre todos os tumores malignos. 

Estima-se que a taxa de sucesso no tratamento do cancro oral poderia ser de cerca de 80%, se o diagnóstico fosse realizado precocemente. Tradicionalmente, o Cancro Oral afeta mais o género masculino, nas faixas etárias acima dos cinquenta anos, verificando-se nos últimos tempos uma inversão na sua incidência, com o aumento no género feminino e já na quarta década de vida. De entre múltiplas causas, esta alteração pode reflectir as alterações dos padrões comportamentais, nomeadamente, o inicio cada vez mais precoce do consumo de bebidas alcoólicas, a redução da qualidade da dieta (menor consumo de frutas e legumes) e a alteração dos padrões de comportamento sexual. Além destas, o uso de próteses dentárias removíveis, mal adaptadas e não controladas/ajustadas pelo médico dentista, poderão induzir lesões traumáticas nas mucosas orais e língua, que quando não diagnosticadas em fase inicial, poderão evoluir e degenerar em lesões malignas - Cancro Oral. É importante destacar que qualquer lesão mucosa, vulgarmente chamada de afta, regride ao final de duas semanas. 

A sua persistência além deste tempo, é motivo para a consulta ao médico dentista, para observação, avaliação e adequado diagnóstico, de forma a implementar a atitude clínica adequada ao seu tratamento, cientes de que o diagnóstico precoce de lesões potencialmente malignas é essencial. A implementação em 2017 na Região Autónoma da Madeira, do Programa de Intervenção Precoce do Cancro Oral (PIPCO-RAM), pela Secretaria Regional da Saúde e Proteção Civil em parceria com a Ordem dos Médicos Dentistas, veio facultar a possibilidade de qualquer utente do Serviço Regional de Saúde, quando atendido em qualquer especialidade médica e perante uma suspeita de lesão persistente na cavidade oral, possa ser direccionado aos Médicos Dentistas Aderentes e submetido ao adequado diagnostico e encaminhamento para tratamento.