FEVEREIRO 2023
VIOLêNCIA NOS RELACIONAMENTOS
Dra. Valentina Silva Ferreira
Técnica Superior de Educação Projeto ART´THEMIS+
Violência nos Relacionamentos


A violência nos relacionamentos é um problema de todos e que pode afetar crianças, jovens, adultos e idosos. É um problema social e de saúde. Por este motivo é fundamental falarmos de violência, para que possamos sensibilizar, (in)formar e prevenir. É importante tratar com seriedade todo e qualquer caso de violência. 

Ao longo da nossa vida, passamos por momentos em que a nossa saúde fica fragilizada e aí surge a necessidade de procuramos ajuda médica e/ou psicológica. Fazemo- -lo porque queremos ultrapassar sintomas dolorosos e, por vezes, incapacitantes. Ora, sabendo que os nossos relacionamentos têm forte impacto no nosso bem-estar, será que atribuímos o mesmo grau de importância ao dano causado pelos relacionamentos corrosivos, abusivos e tóxicos, que atribuímos ao estado de doença? Proponho então que façamos uma análise aos seus relacionamentos para compreender se estes estão ou não de boa saúde. Comecemos pelas relações amorosas. Será a sua relação amorosa atual, uma relação saudável? Uma relação saudável, pressupõe que ambos possam falar abertamente acerca dos seus sentimentos e opiniões, existindo respeito quando estas divergem. Numa relação saudável, há espaço para a negociação e reflexão quando é necessário tomar decisões, existe consideração pelo outro e a aceitação do outro, tal como é. Uma relação saudável necessita também e sobretudo de afeto. Numa relação abusiva, os aspetos anteriormente referidos (comunicação, respeito, igualdade e afeto), bem como, a confiança, a liberdade, a honestidade e a vida sexual estão comprometidos. Podemos estar perante uma relação abusiva, tóxica, quando um dos elementos assume uma posição de controlo da atividade diária da outra pessoa (verificar o telemóvel, os emails…), é uma relação marcada pelo desejo de controlar o outro e de tê-lo apenas para si. Numa relação abusiva, um dos elementos domina a relação e não existe espaço para o crescimento pessoal, para a mudança. As consequências são muitas e negativas. Uma relação abusiva causa danos à nossa autoestima, poderemos desenvolver problemas relacionados com o sono ou com a alimentação. Há uma maior tendência para o isolamento e a ansiedade torna-se uma presença assídua nos nossos dias. Então? A sua relação amorosa está de boa saúde? Se não, deve procurar ajuda junto dos profissionais de saúde. Agora que fizemos um check-up à sua relação amorosa, é tempo de refletirmos acerca do estado de saúde da relação que estabelece com os seus filhos. Tal como numa relação amorosa, a relação entre pais e filhos deve basear-se no respeito e no afeto. As crianças são pessoas e merecem, por parte dos seus cuidadores, uma atitude de compreensão e empatia. A “palmada educativa”, os gritos e os puxões de orelhas, não ensinam às crianças como estas podem resolver os seus problemas e como podem regular as suas emoções. Lembre-se que você é o adulto da relação. Uma criança ou jovem exposto a situações de violência familiar, poderá perpetuar os comportamentos que caracterizam a sua vida diária. Afinal de contas, os pais e cuidadores são exemplos para os mais variados aspetos da vida dos mais novos. O relacionamento com um companheiro ou companheira, não será exceção. Por outro lado, uma criança até pode ter uma relação saudável com os seus pais e demais familiares, mas ser vítima de bullying, isto é, pode estar perante uma relação de constante intimidação, desrespeito e desigualdade face a outra criança ou jovem, sem ter a possibilidade de se defender. O bullying não se resume a agressões físicas. Há uma forma muito particular de violência que pode doer mais do que uma bofetada. Falo de cyberbullying. Quando a violência é exercida com recurso às novas tecnologias nomeadamente, as redes sociais, o email, chats, entre outros. Falta-nos ainda verificar o estado de saúde dos seus relacionamentos no local de trabalho. Entende-se por violência no trabalho, qualquer ação ou comportamento que se desvie do padrão de conduta normal, conduzindo a uma situação em que um trabalhador, durante o seu trabalho ou como resultado direto do mesmo, é vítima de qualquer tipo de assédio físico e/ ou psicológico. Se está a passar por isso, não deixe de pedir ajuda por sentir medo, culpa ou vergonha porque este tipo de violência não passa com o tempo. Antes pelo contrário, só tende a piorar. A violência nos relacionamentos é um problema de todos e que pode afetar crianças, jovens, adultos e idosos. É um problema social e de saúde. Por este motivo é fundamental falarmos de violência, para que possamos sensibilizar, (in) formar e prevenir. É importante tratar com seriedade todo e qualquer caso de violência.

PATOLOGIAS

Uma amostra de 5916 jovens de todo o país, que reportam já ter experienciado, na(s) sua(s) relação(ões) de namoro, pelo menos um dos indicadores de vitimação questionados no Estudo Nacional da Violência no Namoro realizado pelo Projeto ART’THEMIS+, da Associação UMAR, presente na Madeira desde 2018.

Havia na Maria um olhar de tristeza. Tinha dezasseis anos e, até há pouco, beleza e frescura, alegria e entusiasmo, perdidos nos meses daquele namoro com Miguel. Vivia em constante ansiedade: o que fazer, o que dizer, o que não vestir, quem evitar falar. Miguel gritava, chamava-lhe nomes, acusava e ameaçava e, se calhar, até tinha razão, pensava Maria, afinal ele gostava tanto dela, não havia ninguém no mundo que a amasse mais que Miguel. Maria é um nome fictício, ainda que muito real. Representa os 65,2%, de uma amostra de 5916 jovens de todo o país, que reportam já ter experienciado, na(s) sua(s) relação(ões) de namoro, pelo menos um dos indicadores de vitimação questionados no Estudo Nacional da Violência no Namoro realizado pelo Projeto ART’THEMIS+, da Associação UMAR, presente na Madeira desde 2018. As formas de violência consideradas são diversas - violência psicológica, controlo, perseguição, violência através das redes sociais, violência sexual e violência física – sendo que, à exceção da violência física, o estudo demonstra maiores percentagens nos indicadores de vitimação entre jovens que se identificam com o género feminino. O estudo também analisou a legitimação, concluindo que, do total de jovens participantes no estudo, 67,5% não percecionam como violência no namoro, pelo menos, um dos quinze comportamentos questionados, sendo o género masculino o que apresenta maiores níveis de legitimação para todas as formas de violência. A desconstrução destas ideias passa, sobretudo, pela prevenção, de forma sistemática, holística e continuada, iniciada o mais cedo possível e partindo de bases essenciais como emoções e afetos, direitos humanos, estereótipos de género e diferenças entre as pessoas, para, então, se refletir e chegar à compreensão do que é, de facto, um relacionamento saudável e feliz. Prevenir é garantir a concretização de um mundo em que as relações sejam mais equilibradas e seguras, e em que cada ser humano se desenvolva na plenitude das suas capacidades.




 


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