OUTUBRO 2019
A COMPAIXãO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM
Enf. Patrícia Pita
Enfermeira Especialista em Saúde Mental
patricia_pita@outlook.com
A escrita deste artigo revelou-se um desafio a mim como pessoa e como profissional de saúde.
Na minha mente apareceu a incerteza da temática a ser abordada, até que por coincidência visualizei uma notícia sobre uma conferência: “O desafio da compaixão no contexto dos cuidados de saúde no futuro” e despertou-me interesse e curiosidade pelo seu conteúdo.
A compaixão é um sentimento que vem do nosso interior, em que tomamos uma atitude empática e altruísta atendendo a dor, angústia e o sofrimento do outro. Basicamente nos colocamos na “pele do outro” e quase que sentimos o mesmo sentimento.
De acordo com Figueiredo (2013), a abordagem ao conceito de compaixão engloba: uma perspetiva neuropsicológica, espiritual (perspetiva de Dali Lama), ético/filosófico e de enfermagem.
A nível neurológico, temos diversos mecanismos, nomeadamente, as áreas pré-frontais do cérebro regula as nossas ações emocionais. O tálamo é responsável pela projeção da informação sensorial que é direcionada para o neocórtex. Em seguida, a resposta surge dos lóbulos pré-frontais. Em caso de necessidade de uma resposta emocional, são os lóbulos que a obtém, ao articular coma amígdala e os restantes circuitos do cérebro emocional.
Com base na mesma autora, citando Ekman (2003), o reconhecimento das expressões faciais facilita a perceção das emoçõesfavorecendo a relação interpessoal, sendo um passo essencial para estabelecer uma relação empática.
A empatia é uma das aptidões mais valorizadas e fulcrais para a prática de compaixão, sendo que é através dela que conseguimos conhecer a consciência de outra pessoa e de racionar de uma forma semelhante, através de um processo de imitação interna (Figueiredo, 2013).
A empatia engloba três dimensões: afetiva (baseia-se no interesse genuíno em atender as necessidades da pessoa alvo), cognitiva (em que tomamos autoconsciência, reconhecimento e compreensão dos estados mentais do outro) e comportamental (consiste na forma integrada com o objetivo de oferecer apoio, conforto e consolo  ao outro (Figueiredo, 2013; citando Rodrigues & Ribeiro, 2011).
A nível espiritual, consiste numa capacidade natural do coração do ser humano, em se preocupar e interessar pelo outro e ao mesmo tempo estabelecer laços com eles, sendo um aspeto básico da natureza humana que é fundamental para a nossa felicidade. (Figueiredo, 2013, citando Dalai Lama, 2012).
De acordo com Figueiredo, 2013, citando Pommier, 2010, a perspética ética- filosófica afirma que para existir compaixão, em contexto de saúde, é necessário três requisitos: o sofrimento deve ser visto como um problema, o doente não deve ser visto como o responsável pela sua doença e a compaixão deve ser vista como um sentimento individual, sendo capaz de imaginar-se ou um ser amado ou amigo na mesma situação.
Segundo a ordem dos enfermeiros (2001), cuidados de enfermagem consistem na relação interpessoal/de ajuda entre o enfermeiro e o utente e sua família, atendendo os seus valores, as suas crenças e respeitando desejos pessoais consoante a sua experiência de vida. 
Na prestação dos cuidados de enfermagem atendemos ao utente como ser holístico, ou seja, ser bio-psico-socio-espiritual em que respeitamos cada pessoa como ser único, dentro da sua individualidade. Tornando-se essencial compreender que a doença não só afeta a nível físico mas também a nível cognitivo, psicológico e afetivo no próprio e na sua família. Tal como afirma Figueiredo (2013), citando, Gilbert (2009), “a prática de compaixão (...) permite a consciencialização do ser que somos, a consciencialização do outro e a interação, com habilidades ou atributos específicos, que vão satisfazer os dois lados da relação”. 
A ciência, a arte, a estética e a ética são alguns dos componentes essenciais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde, mais utilizados pelo enfermeiro durante a prestação de cuidados aos utentes (Vale & Pagliuca, 2011).
O saber fazer, o saber estar, o saber ser são as competências da prática diária do enfermeiro. O saber fazer é o conhecimento, a técnica que se adquire com a constante prática dos diversos procedimentos e de estudos sobre temáticas relacionadas com a as situações que acometem a saúde dos utentes. O saber ser e estar é prestar cuidados olhando o outro como um ser humano único, ou seja, que tem a sua própriapersonalidade, forma de pensar, agir e de experienciar cada situação de forma diferente.
Segundo Queiroz (2007), citando Benner (1984;2001), os domínios do cuidado de enfermagem baseiam-se na função de ajuda; de educação, de guia e orientação; de diagnóstico e acompanhamento do doente; na tomada a cargo eficaz das situações de evolução rápida; na administração e acompanhamento de protocolos terapêuticos; no assegurar e acompanhar a qualidade dos cuidados e nas competências de organização e repartição das tarefas.
Perante a avaliação no seu global, a compaixão nos cuidados de enfermagem destina-se a atender o ser humano como um todo, dentro da sua individualidade. Respeitando as suas decisões, valores, crenças, opiniões, compreendo o seu sofrimento, sentimento de dor aquando situação de doença que só e possível se nós próprios tivermos amor próprio, sem juízos de valores pelo outro e sem pretendermos, mesmo que inconscientemente, que seja a “nossa decisão” aprovada em prol do outro. 
Assim os cuidados de enfermagem não é apenas a parte técnica, mas envolve acima de tudo a humanização dos cuidados.
Perante a abordagem desta temática, surgiu-me dúvidas, mais concretamente, será a compaixão ser possível ser ensinada, ou formar um estudante de enfermagem a ter compaixão? 
Compaixão será um sentimento apenas inato? Se possível ensinar, quais as técnicas a ser adotadas?

Figueiredo, I. (2013). A compaixão nos cuidados de enfermagem à criança e sua família. 
https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/9409/1/-Tese%20Isabel%20Figueiredo-.pdf
Ordem dos enfermeiros (2001). Padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem: Enquadramento concetual, enunciados descritivos.
https://www.ordemenfermeiros.pt/media/8903/divulgar-padroes-de-qualidade-dos-cuidados.pdf
Queiroz, A. (2007). As Competências dos Profissionais de Enfermagem: Como as Afirmar e as Desenvolver. 
http://www.forumenfermagem.org/dossier-tecnico/item/2770-as-competencias-dos-profissionais-de-enfermagem-como-as-afirmar-e-as-desenvolver#.XYqQgPZFzIX

Vale, E. & Pagliuca, M. (2011). Construção de um conceito de cuidado de enfermagem: contribuição para o ensino de graduação. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672011000100016



 


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