SETEMBRO 2019
RETENçãO DE LíQUIDOS
Dr. João Marques
Farmacêutico Farmácia do Caniço
joao.marques@farmaciadocanico.pt

Nestes dias de maior calor não é raro ouvirmos alguém queixar-se de pernas ou tornozelos inchados, ou, sendo uma altura do ano em que as preocupações com a linha são mais evidentes, de que, apesar dos escrupulosos cuidados com a dieta, sofreu um aumento brusco de peso ou de que sente a roupa mais apertada. Trata-se de casos de evidente retenção de líquidos, uns exigindo maiores cuidados do que outros, mas todos resultado de alterações no complexo equilíbrio mantido pelo nosso corpo sobre o balanço da água que entra e da que expele.
Antes de mais, devemos recordar que água é essencial à vida e que o corpo humano é constituído em cerca de 60% por água. Aquela que não se encontra no interior das células, circula quer no sistema circulatório quer no sistema linfático quer no chamado fluido intersticial, ou seja, fora dos vasos, banhando as células que compõem os tecidos e permitindo as trocas de substâncias. O corpo elimina a água através da pele e dos rins e com ela substâncias a excretar. Todo este circuito é mantido em equilíbrio através de hormonas e de prostaglandinas.
A retenção de fluidos no corpo pode acontecer por diversas razões, algumas delas são problemas de saúde que devem ser diagnosticados e acompanhados por médicos, mas muitas das vezes é consequência de factores comuns e é mais frequente nas mulheres, devido às flutuações hormonais. É por este motivo que algumas senhoras se apercebem, habitualmente a partir do momento da ovulação, de súbitos aumentos de peso (até 2 a 3 Kg) e de volume corporal, não relacionados com a ingestão de alimentos, que podem ser acompanhados de dor abdominal e diminuição do volume de urina.

Do mesmo modo, relacionado com a influência que estrogénios e progesterona exercem sobre a retenção de fluidos pelo organismo, a contracepção hormonal tem frequentemente como efeito secundário a retenção de líquidos tal como a perimenopausa também a favorece.
A retenção de líquidos na gravidez é normal, não só porque facilita a expansão dos tecidos, mas também porque a pressão abdominal exercida pela presença do feto dificulta a circulação de retorno, acarretando o vulgar inchaço (edema) das pernas, tornozelos e pés. Trata-se de uma retenção localizada sob a pele dos membros inferiores, normalmente acompanhada de sensação de desconforto, não só consequência da retenção de líquidos generalizada, mas também habitualmente devida a dificuldades ao normal retorno circulatório ao coração, seja na gravidez, na obstipação, na inactividade física (passar muitas horas parado de pé ou sentado, como acontece, por exemplo, nos voos de longa duração) ou em algumas condições específicas de saúde. 

Também como resposta ao calor a retenção de líquidos pode ser entendida como normal: é a resposta do nosso organismo à desidratação, acumular água. É por este motivo que uma grande arma contra este transtorno é a hidratação - a ingestão de líquidos (1,5 a 2 litros de água diários) estimula o normal funcionamento dos rins, levando à eliminação do excesso de fluidos e de sais. 
Além da hidratação, a diminuição drástica do consumo de sal (sódio) é mandatória numa situação de acumulação anormal de líquidos. A água segue o sal e a OMS situa uma ingestão saudável no máximo diário de 5 gramas de sal, mas as estimativas colocam o seu consumo médio nos 12 g/dia. Isto significa que é fundamental ter particular cuidado e evitar alimentos pré-processados, a fast food, os enchidos, que escondem uma quantidade excessiva de sal. 
Para o alívio de uma situação de retenção de líquidos podem ser também aconselhados alguns chás ou medicamentos fitoterapêuticos diuréticos (como o taráxaco ou dente-de-leão), meias elásticas ou “de descanso”, massagens, incluindo as feitas às pernas com o chuveiro alternando água fria e quente para estimular a circulação, descansar com as pernas elevadas e realizar exercícios simples enquanto sentado, como rodar os tornozelos e mexer os dedos dos pés. De resto, deve fazer exercício regularmente, as contracções musculares levam a que as paredes dos vasos sanguíneos e linfáticos contraiam também ritmadamente estimulando o fluxo linfático e o regresso do sangue ao coração.

É ainda aconselhável procurar alimentos ricos em, ou suplementos contendo, Magnésio (cereais integrais e frutos gordos), Potássio e Vitamina B6 (leguminosas e hortofrutícolas em geral). Aliás, de uma forma geral, um estilo de vida saudável contraria a tendência para a retenção de líquidos, o que inclui: uma alimentação completa e equilibrada, uma vez que também a falta de nutrientes como proteínas ou vitaminas pode causá-la, evitar bebidas alcoólicas e o tabaco, lutar contra o sedentarismo e o excesso de peso e evitar roupa demasiado apertada.
Se a retenção de líquidos não reduzir ao fim de 2 semanas, persistindo para além das 3 a 5 semanas, ou se for acompanhada de outros sintomas como dor ou vermelhidão da pele inchada, em casos recorrentes, se os seus pés incharem muito ao longo ou ao final do dia, se acordar com as pálpebras ou o rosto inchado, se tiver episódios de inchaço em apenas um braço ou uma perna, se aparecer edema no corpo após a toma de um novo fármaco, contacte o seu médico ou farmacêutico.
Condições específicas de saúde que podem ser responsáveis pela anormal retenção de líquidos, necessitando de diagnóstico e tratamento médico e não contempladas neste pequeno artigo, são: a Insuficiência Cardíaca Congestiva; Problemas Circulatórios como a Doença Venosa Crónica; Doença ou Insuficiência Renal; Doença Hepática; Hipotiroidismo.

Para finalizar, indicamos alguns medicamentos que também podem estar na origem da retenção de líquidos: Vasodilatadores; Bloqueadores dos Canais de Cálcio; Anti-Inflamatórios Não Esteróides; Estrogénios; alguns Quimioterápidos; Tiazolidinedionas (Medicamentos Antidiabéticos); e Corticóides.


 


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