AGOSTO 2019
ADOLESCENTES E JOVENS ADULTOS MAIS SUSCEPTíVEIS AO CONSUMO DE SUBSTâNCIAS PSICOACTIVAS
Dr. Nelson Carvalho
Diretor da Unidade Operacional de Intervenção em Comportamentos Ilícitos (UCAD)
nelsoncarvalho@netmadeira.com

Farmácia do Caniço - Que análise faz ao fenómeno da toxicodependência na Madeira? 
Nelson Carvalho - O fenómeno das drogas e das toxicodependências na Madeira segue a tendência do todo nacional ao nível das substâncias psicoactivas (SPA) consumidas, deste modo temos as mais prevalentes o álcool e o tabaco, ao nível das lícitas. No que se refere às ilícitas temos a cannabis como a mais consumida, sendo inclusive a SPA ilícita que motiva maior procura de tratamento, à semelhança do panorama nacional e europeu, depois temos a heroína e a cocaína e de uma forma mais residual as chamadas novas substâncias psicoactivas ou drogas sintéticas, nas quais a Madeira foi pioneira na elaboração de legislação própria a nível nacional. Outro aspecto a ter em conta ao nível do consumo é o aumento por parte das mulheres sobretudo ao nível do tabaco e do álcool e das faixas etárias dos 40 aos 55 anos tal e qual a tendência nacional. Estas informações surgem dos estudos epidemiológicos que têm sido feitos pelo Serviço de Intervenção dos Comportamentos Aditivos e Dependências (SICAD), onde a Madeira tem participado de forma significativa. Tais instrumentos são muito importantes, uma vez que permitem-nos monitorizar este fenómeno, bem como avaliar e alterar sempre que se justifique as estratégias preventivas e das outras dimensões, por forma a conseguirmos lidar melhor com esta problemática. Por último quero realçar a excelente articulação intersectorial entre as diferentes organizações com competência nesta matéria, bem como a cada vez mais consciencialização e intervenção da sociedade civil e o papel importante da comunicação social que tem sido um grande aliado no combate a este flagelo social.

F.C. - Quais as faixas etárias que continuam mais susceptíveis a este tipo de comportamento?
N.C. - As faixas etárias mais susceptíveis ao risco de consumo são os adolescentes e os jovens adultos, os quais dada a sua fase do ciclo de vida, gostam de explorar, fazer experiências e correr mais riscos do que as faixas etárias mais velhas. Por isso é que tem havido um grande investimento em termos preventivos nesta população alvo, nomeadamente no contexto escolar, desportivo, recreativo nocturno, comunitário e familiar.

F.C. - A Madeira tem apostado amplamente na prevenção. Já são visíveis os efeitos desta política? Lacunas?
N.C. - A Madeira continua a investir muito na prevenção dos Comportamentos Aditivos e Dependências, por Ex., o IASAÚDE, através da UCAD desenvolveram em 2018 actividades que abrangeram perto de 30 mil pessoas. Todo este trabalho tem sido realizado em articulação com a comunidade madeirense e as respectivas organizações públicas e privadas. Estamos a falar de um fenómeno multifactorial e como tal implica todo um trabalho de articulação intersectorial, no qual todos são importantes e necessários. A nossa maior lacuna na prevenção continua a ser trabalhar com as famílias, mas isso parece ser um problema geral nas diversas áreas preventivas e infelizmente é uma lacuna que existe ao nível nacional. Por isso temos procurado alcançar os pais em programas preventivos no contexto laboral e recreativo, uma vez que ao nível da escola não tem sido fácil levar os pais às nossas acções.
De acordo com os vários estudos realizados SICAD, os resultados têm sido animadores, pois em termos da prevalência do consumo do álcool, do tabaco e da cannabis aos 18 anos é a região do país com melhores resultados, ao nível da população em geral na maior parte dos indicadores estamos abaixo da média nacional. Estes resultados são possíveis graças a todo um trabalho de parceria, coordenado pela Secretaria Regional da Saúde, através de um modelo de respostas integradas, que tem havido na região, entre as diferentes entidades públicas e privadas com competências nesta área, quer ao nível da dimensão da oferta quer da procura, os quais estão alinhados e sensibilizados para o fenómeno dos Comportamentos Aditivos e Dependências. Por outro lado, há que salientar a maior consciencialização e envolvimento da população e, por último e não menos importante, quero enfatizar a importância do papel da comunicação social que tem sido muito importante na disseminação das diferentes mensagens junto da população madeirense.

F.C. - Com a época estival, associada ao maior tempo livre dos jovens e adolescentes, a que situações devem os pais estar atentos? De que forma podem solicitar ajuda?
N.C. - A prevenção assenta na educação para os afectos, para a responsabilização e autonomia do indivíduo por forma a que faça escolhas saudáveis ao longo da sua vida. Com isto quero dizer que a prevenção começa desde o nosso nascimento e termina com a nossa morte. Apesar do Verão ser uma época de mais riscos, nós pais, devemos agir de acordo com o nosso modelo educativo que utilizamos com os nossos filhos, tendo em conta a sua idade e o nível de desenvolvimento. E o ideal é haver afecto, limites, respeito, responsabilidade, autonomia, diálogo e confiança e ter em conta que há uma idade para tudo. Desse modo, é importante conhecer os amigos e os locais frequentados pelos filhos, como forma de monitorizar e não de fiscalizar os seus comportamentos e atitudes, horas para chegar a casa, preferencialmente levá-los e trazê-los, boa gestão do dinheiro. Além disso, é fundamental estar atento a possíveis alterações de humor, comportamentos, que não são característicos, a atrasos frequentes, a utilização da mentira, o pedido frequente de dinheiro, a mudança brusca de grupo de amigos, a utilização de murtalhas (papel de arroz), isqueiros com a chama no máximo, pequenos cartões de papel grossos na carteira ou nos bolsos, tabaco ou outras substâncias acastanhadas (folhas, barra dura ou pedaços que se desfaz com as mãos), tudo isto são indícios de consumo de substâncias psicoactivas, sendo os últimos mais ligados à cannabis. No caso de os pais precisarem de informação, ajuda ou orientação nesta área podem entrar em contacto connosco, telefonicamente através do número 291212390, através de correio electrónico ucad@iasaude.madeira.pt ou pessoalmente na rua da alegria n.º 31, 2.º F.

F.C. - Que ações a UCAD pretende implementar no terreno?
N.C. - Na época de Verão além dos diferentes contextos de intervenção, a UCAD incide muito a sua actividade em actividades no contexto recreativo nocturno, nomeadamente nos arraiais, festivais e outros eventos recreativos, através do projecto #Vibes4Uno Drugs, a qual está associado à campanha Mais Verão…Sem Drogas, da Secretaria Regional da Saúde e que conta com outras entidades públicas e privadas parceiras (PJ, PSP, GNR, Polícia Marítima, Alfândega, ARAE, SESARAM e IASAÚDE, Protecção Civil, Autarquias e ACIF. O nosso objectivo é consciencializar os jovens, as famílias e os empresários para se divirtam e tirem o máximo de prazer dos eventos sem o consumo de substâncias psicoactivas no caso dos menores de idade e nos maiores que não haja abusos do consumo do álcool, o qual como sabemos constitui um factor de risco em termos de violência, sinistralidade rodoviária, comportamentos sexuais de risco. Por outro lado, continuamos a implementar o projecto “Energy4life”para jovens institucionalizados ao abrigo da Lei de Promoção e Protecção e o “Sou Top” para jovens oriundos de bairros sociais, bem como o projecto “Prevenção sobre rodas” com os motards.  Além disso temos recebido solicitações de entidades públicas e privadas para realizar acções com jovens em campos de férias. Uma área que estamos a intervir cada vez mais é na Utilização Problemática das Novas Tecnologias, através do nosso projecto “Estou online e agora?”. Recebemos cada vez mais solicitações por parte de entidades e famílias. Nesse sentido é fundamental os pais, à semelhança dos consumos de substâncias psicoactivas, estarem alerta e promoverem uma utilização regrada das novas tecnologias, desde logo com tempo pré-definidos, durante a noite a sua utilização deve ser feita apenas até uma hora antes de irem para a cama, durante a noite retirar o telemóvel, tablet e afins do quarto, pois sabemos que a sua utilização (a luz do ecrã) à noite afecta o normal padrão de sono, problemas de crescimento, endócrinos, cardiovasculares, osteoarticulares, entre outros. Outro aspecto importante a ter em conta é de não facultar o uso de ecrãs a menores de 2 anos, dado que está contraindicado por questões de saúde. 

F.C. - Há por parte das entidades, nomeadamente privadas, sensibilidade ao trabalho feito na área das toxicodependências na Madeira?
N.C. - Sem dúvida que sim. Ao nível da prevenção por ex., temos perto de uma centena de entidades parceiras públicas e privadas parceiras e só desta forma é que a prevenção pode ser mais eficiente e eficaz. Cada um de nós é um agente preventivo, nos diferentes papeis que desempenha na sociedade e se todos fizermos a nossa parte estaremos a promover uma sociedade o mais livre possível de drogas. É com base nesse princípio que a Madeira tem adoptado em sintonia com as linhas orientadoras nacionais e europeias, o modelo de respostas integradas, o qual de acordo com o Plano Nacional para a Redução dos Comportamentos Aditivos e Dependências, elaborado pelo SICAD “baseia-se numa leitura multidimensional da realidade dos comportamentos aditivos e das dependências e numa intervenção de proximidade, multi e trans-sectorial, que permite maximizar resultados e alcançar ganhos sociais e de saúde. Esta conceção distancia-se da parcialidade da visão da mera soma e justaposição das intervenções, tornando-se fundamental um forte investimento na articulação interinstitucional e a formulação de objetivos estratégicos transversais às intervenções, evitando assim a dispersão, aproveitando todo o conjunto dos recursos disponíveis e as potenciais sinergias”. A campanha “Mais Verão...sem Drogas” e o grupo de trabalho para as Novas Substâncias psicoactivas criado em 2010, são o exemplo prático desta política do Governo Regional.


 


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