Dra. Sofia Ferreira As doenças cardiovasculares são definidas, de um modo geral, como o conjunto de doenças que afectam o sistema cardiovascular (1) ( cardio= coração e vascular= vasos sanguíneos). Actualmente, este grupo de doenças constitui a principal causa de morte e incapacidade em Portugal, na Europa e no mundo, prevalecendo nos países mais desenvolvidos e industrializados, onde predominam hábitos de vida que são extremamente nocivos para o coração, tais como o sedentarismo, o stress, alimentação inadequada, tabagismo, álcool, etc. Estas doenças que afectam o sistema cardiovascular são de origem multi-factorial (2), pois estão relacionadas com um conjunto de factores de diversa ordem e interactivos entre si, que se designam por factores de risco cardiovascular. Estes levam a que, ao longo da vida, de uma forma silenciosa, progressiva e sem manifestação clínica, se vão depositando e acumulando gorduras nas paredes dos vasos sanguíneos, processo denominado por aterosclerose, que faz com que os vasos sanguíneos diminuam drasticamente o seu diâmetro interno e daí advenham as terríveis consequências para o sistema cardiovascular (3). Dentro das doenças cardiovasculares, podemos referir como sendo as mais comuns, o enfarte do miocárdio, a angina de peito e o acidente vascular cerebral (AVC). O risco cardiovascular é a probabilidade de se desenvolver uma doença cardiocerebrovascular, num período de tempo definido (normalmente calculado para 10 anos) (4), situação que está dependente do conjunto de factores de risco a que os indivíduos se expõem ao longo da sua vida e que correspondem a qualquer acontecimento ou condição que aumenta a probabilidade de desenvolver este tipo de doença. A presença de vários factores de risco num só indivíduo aumenta a probabilidade de vir a sofrer de doença cardiovascular, pois a sua presença simultânea tem um efeito sinérgico e multiplicativo, ou seja, estes factores interagem entre si, potenciando-se (5). Estes factores de risco cardiovascular podem ser divididos em dois grupos. De um lado, temos os factores de risco não modificáveis (6) (8), sobre os quais não podemos intervir, entre os quais temos: - A hereditariedade - O sexo e a idade No outro grupo, encontramos os factores de risco modificáveis (6) (8), sobre os quais a prevenção pode agir. Estes são factores de risco individuais e com os quais podemos interferir através da mudança do estilo de vida e da intervenção farmacológica (medicamentos). Este conjunto de factores de risco está relacionado com o estilo e modo de vida de cada indivíduo e entre eles temos: - Sedentarismo; - Tabagismo; - Obesidade e excesso de peso; - Maus hábitos Alimentares; - Stress. - Hipertensão Arterial; -Diabetes Mellitus; - Dislipidemia (Colesterol e/ou triglicerídeos elevados); - O Colesterol HDL ( High Density Lipoprotein – Lipoproteínas de Alta Densidade), conhecido como «bom colesterol», tem funções protectoras no nosso organismo, pois é ele que remove o colesterol dos tecidos e promove a sua eliminação; dá estabilidade às nossas membranas biológicas; é precursor na produção de determinadas hormonas e vitaminas. Por isso mesmo, numa dieta pobre em colesterol o fígado trata de o fabricar para suprir as necessidades do organismo. - O Colesterol LDL (Low Density Lipoprotein – Lipoproteínas de Baixa Densidade), por seu turno, é conhecido como o «mau colesterol», uma vez que contribui para o desenvolvimento das placas de aterosclerose, pois é ele o responsável pelo depósito de colesterol nas paredes das artérias, quando em excesso no sangue, tornando-se um potencial perigo para a saúde. Os triglicerídeos são transportados no sangue pelas chamadas lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL), que juntamente com as LDL em valores elevados têm uma relação directa com o aumento do risco cardiovascular. Neste tipo de doenças, o diagnóstico precoce é fundamental para diminuir a probabilidade do aparecimento e diminuir o agravamento da doença, por se tratar de uma doença silenciosa e sem sintomatologia, que tem início numa fase precoce da vida, que progride durante anos e que habitualmente já está numa fase muito avançada quando aparecem as primeiras manifestações clínicas. A maior parte destas doenças resulta de um estilo de vida inapropriado, que inclui factores de risco evitáveis (sedentarismo, tabagismo, alimentação inapropriada e desequilibrada, obesidade e excesso de peso) e de factores de risco não modificáveis, que podem ser detectados e controlados (hipertensão e dislipidémias) (7), por isso cabe a cada pessoa intervir e agir para prevenir o aparecimento das doenças que afectam o coração e vasos sanguíneos. Para isso, basta adoptar um estilo de vida mais saudável, começando por deixar de fumar, ter uma alimentação mais equilibrada, privilegiando o consumo de vegetais, cereais e fruta, praticar exercício físico com regularidade, controlar regularmente a pressão arterial e os valores de açúcar e gordura no sangue. No caso dos indivíduos com história familiar de doença cardiovascular, a prevenção deverá começar mais cedo. *A Dra. Sofia Ferreira é Licenciada em Ciências Farmacêuticas pela Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. É Farmacêutica Adjunta na Farmácia do Caniço, onde exerce desde 2006. Bibliografia (1) www.min-saude.pt |