JULHO 2015
TEREMOS AUMENTO DA NATALIDADE?
Dr. José Luís Nunes
Médico Pediatra
nunes.joseluis@gmail.com

Nos primeiros cinco meses de 2015 (janeiro/maio) nasceram no Hospital Dr. Nélio Mendonça mais 89 bebés do que em igual período de 2014. Este crescimento foi de alguma forma inesperado, sobretudo se olharmos ao decréscimo gradual da taxa de natalidade da Região nos últimos anos. Se a natalidade tivesse um suporte matemático linear teríamos um aumento de aproximadamente 200 nascimentos no ano 2015 o que corresponde a uma subida de 12,8% da natalidade. Seria o primeiro grande aumento nos últimos anos.
Numa análise superficial verificámos a existência de muitos fatores essencialmente sociais dos quais não é possível obtermos uma resposta clara e concreta que nos permita explicar este crescimento.
Confrontados com os dados da natalidade na região a grande quebra acontece a partir de 2011 com uma descida de 2303 nascimentos, nesse ano, para 1965 em 2012.Poderiam ser muitos os fatores a explicar esta descida da natalidade. Em 2011 a troika entrou em Portugal e foi no ano seguinte que se constatou uma baixa importante da natalidade, com número de nascimentos abaixo dos 2000. Se nos recordarmos o que a troika nos impôs:- desemprego, baixos salários, aumento do custo de vida, aumenta da emigração, aumento da carga fiscal, entre outros causando uma reflexão levada ao pânico na nossa população. Temos de lhe atribuir uma grande parte da responsabilidade pelo desincentivo da natalidade. Tudo estaria esclarecido se a taxa de natalidade mantivesse uma tendência decrescente revelada até então.
Com o apoio do excelente serviço de estatística do nosso hospital fomos tentar encontrar dados objetivos passíveis de um esclarecimento do facto constatado: aumento da natalidade.
A diminuição da natalidade foi também desejada e construída por nós com lançamento de programas de planeamento familiar e educação para a saúde, fornecimento de anticoncecionais gratuitos, vigilância da mulher, interrupção voluntária da gravidez, bem como a natural informação e formação crescente da nossa população.
O número de mulheres em idade fértil desceu de 70555 para 65432 nos últimos 5 anos e logicamente como seria de esperar a diminuição da natalidade acompanhou esta descida, exceto em 2015.
Constatou-se que são os casais com residência no Funchal que nos presentearam com maior número de recém nascidos, tendência que não se alterou nos últimos anos. Santa Cruz é o segundo concelho e com tendência crescente, seguido de Câmara de Lobos, que durante décadas foi um dos principais berços da natalidade regional agora apresenta um número estabilizado de recém nascidos.
Em quarto lugar encontramos Machico, que, apesar de apresentar número decrescente de mulheres em idade fértil apresenta um número crescente de recém nascidos (quase duplicou no ultimo ano 32/60)
Na Ponta do Sol este diferencial atinge valores com uma franca subida do número de mulheres em idade fértil e, para já sem explicação uma taxa de natalidade a aproximar-se das piores da região.
De um modo geral as mulheres em idade fértil estabelecem prioridades na sua vida, o que é uma opção coerente:
Formação académica, garantia de emprego, estabilidade económica e só depois procriar. Consequentemente a diminuição da natalidade tem sido essencialmente à custa de uma diminuição do primeiro filho. Acompanhando este facto verificamos que percentualmente os filhos de mães com mais de 35 anos aumentam, sendo responsáveis por 29,6% dos nascimentos no ano 2014. Um terceiro, quarto e quinto filho são também tendencialmente cada vez menos frequentes. No entanto em 2011 tivemos um casal com um oitavo filho, três casais com nono filho, no mesmo ano e um décimo segundo filho em 2014. Viva a coragem…Será?
A prematuridade (bebés nascidos com menos de 37 semanas de gestação) mantem-se por volta dos 8%.
Mais de 50% das gravidas são acompanhadas na medicina privada, seguido pela medicina hospitalar e os centros de saúde, quase em parceria.
Então o que mudou na sociedade para poder justificar este aumento da natalidade?
O desemprego continua a ser um flagelo regional, especialmente nos jovens potenciais produtores do índice de natalidade. O custo de vida continua inflacionado, a todos assusta e faz refletir quanto custa criar um filho. Os impostos incompreensivelmente são cada vez mais e mais gravosos. A emigração em alta não sendo maior talvez por diminuição da oferta e não pela constante procura.
Então poderemos alvitrar que por um lado com o decorrer do tempo há um desenvolver da capacidade de resiliência de um povo que quer queiramos quer não, tem de adaptar o seu modo de vida à sua capacidade económica. Também tenho que referenciar um grupo crescente, talvez não por culpa própria, se tornou subsídio dependente e que vê na natalidade um “modus vivendi “,alguns acomodados, outros em extrema necessidade que vivem de um subsídio social que urge rever e legislar de modo a que não baste fazer nascer crianças, mas sobretudo que lhes proporcione uma sobrevivência condigna.



 


seara.com
 
2009 - Farm´cia Caniço
Verified by visa
Saphety
Paypal