ABRIL 2015
DOIS ANOS SEM CASOS DE DENGUE
Dra. Ana Clara Silva
Vice-presidente do IASAÚDE, Ana Clara Silva

No próximo dia 7 de Abril, assinala-se o Dia Mundial da Saúde, momento em que aproveitamos para questionar a enfermeira Ana Clara Silva da forma como tem decorrido este combate. O trabalho desenvolvido aponta para um controlo do mosquito vetor na Região. 

1- Depois do alarme inicial, o impacto do mosquito da dengue na Região, está controlado? Quais as principais razões para esse controlo?
Quando em 2005 se registou a presença do mosquito vetor Aedes aegypti na Região Autónoma da Madeira, colocou-se desde logo a questão: Dengue, quando e como vai acontecer?
À data foi implementada de imediato uma rede de monitorização, resultado de uma parceria da então Direcção Regional de Planeamento e Saúde Pública e do Museu de História Natural da Câmara Municipal do Funchal, que se mantém actualmente e que entretanto foi ampliada em número de armadilhas e expandida a toda a ilha da Madeira e Porto Santo com monitorização também nos aeroportos e portos. A monitorização das espécies de mosquitos invasoras e mesmo das espécies indígenas é um desafio enorme à escala mundial pois são muitos os países, mesmo na Europa, que registam a presença e implementação de mosquitos vectores. 
A partir desta rede de monitorização implementada, de forma sistemática em 2006, obtivemos dados de densidade e de expansão do mosquito vetor, sendo que ao longo dos 7 anos prévios ao surto registou-se a sua presença em zonas mais ou menos bem delimitadas, identificou-se um padrão de atividade sazonal entre maio e novembro, e uma densidade de ovos, capturados em armadilhas, idêntico ao longo dos anos, com uma queda em 2011, para em 2012 se assinalar uma densidade de mosquitos adultos e de ovos capturados, acentuadamente elevada, face ao até então registado.
Não se trata de alarme inicial mas sim o de montar um sistema de alerta e resposta rápida, para que possamos dispor de dados que indiciem o risco de eclosão de surto e assim agir atempadamente para o prevenir. Se, por um lado a probabilidade de podermos registar casos esporádicos de febre de dengue é moderada a elevada, por outro, devem ser envidados e mantidos todos os esforços para evitar um novo surto. Esta posição das autoridades regionais está devidamente debatida e analisada com as autoridades nacionais e internacionais, como a DGS, ECDC e CDC Atlanta.
O controlo que evoca na sua pergunta, tem sobretudo a ver com o facto de termos conseguido manter a densidade de mosquitos a níveis abaixo daqueles que identificamos como variável de risco durante o surto de 2012. Este controlo em parte deveu-se às medidas de saneamento ambiental por parte dos municípios e outros parceiros como as juntas de freguesia, medidas de saneamento e controlo domiciliário por parte de alguns dos residentes nas áreas chamadas críticas e algumas medidas de controlo químico e biológico usadas durante o período de surto, como sejam o tratamento perifocal com inseticidas e focal com aplicação de larvicidas. Tem sido incansável o trabalho ao longo dos anos das autoridades regionais que através de projetos e ensaios de investigação, em parceria com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical de Lisboa procuram resultados efectivos de controlo de mosquitos ou de formas imaturas, como sejam o uso de sal nas sargetas na rede pública da cidade do Funchal ou o ensaio com piryproxyfene na freguesia do Paul do Mar. O objectivo de projectos desta natureza é encontrar um meio de controlo de mosquitos, eficaz, seguro e sustentável que possa ser aplicado em escala na Região.

2- Quantos casos chegaram a ser identificados?
Durante o período de surto foram notificados 2167 casos prováveis de dengue, sendo que 1080 casos foram investigados e confirmados em laboratório, correspondendo a cerca de 50% dos casos prováveis notificados. O surto foi dado como controlado na semana 9 de 2013. No período fora de surto mantemos a vigilância de casos suspeitos e desde a semana 10 de 2013 foram notificados 29 casos prováveis, que foram todos investigados em laboratório e destes apenas 5 casos foram confirmados, todos casos importados, o último dos quais na semana 7 de 2014. Há praticamente um ano que não se regista qualquer caso importado de dengue na RAM e há dois anos que não se regista qualquer caso autóctone ou seja com origem na Região. 

3- Com o aproximar do tempo agora mais quente é de esperar uma influência ainda menor da dengue na vida dos madeirenses?
A febre de dengue partilha com outras doenças virais transmitidas por vetor muitas das mesmas determinantes, designadamente: ecossistema e clima; serotipos do vírus e características biológicas, epidemiológicas e virulentas, condições socioeconómicas como os hábitos culturais, urbanização, mobilidade das populações e viagens e claro conhecimento e atitude social.
 Desde 2012, O IASAÚDE, IP-RAM divulga os dados de monitorização da rede de armadilhas combinadas com a monitorização da temperatura ambiental e com os valores de precipitação registados, sendo este um trabalho realizado em parceria com IPMA - Delegação da Madeira. Da análise dos dados podemos verificar que o número de ovos capturados, bem como o número de mosquitos adultos, elevam-se quando a temperatura sobe e imediatamente após à ocorrência de episódios de chuva. O tempo quente e a chuva são muito favoráveis à proliferação de mosquitos pois estão diretamente relacionados com a presença de inúmeros criadouros, naturais e artificiais, que resultam da retenção de água em pequenas coleções, e por outro lado estarem reunidas as condições ideais de postura de ovos e eclosão dos mesmos.  

4- Os madeirenses devem sempre manter certos hábitos para evitar/ controlar o aparecimento da doença na Região. Quais os comportamentos que gostaria de
realçar?
As doenças transmitidas por vetores estão em emergência ou reemergência em todo o mundo. Requerem-se por isso estratégias de prevenções eficazes que possam inverter esta tendência. Além de uma necessária agenda de investigação internacional no sentido de dispormos de vacinas a médio prazo, inseticidas ambientalmente seguros, métodos alternativos para o controle de vetor. Exige-se ainda uma mudança de fundo nas políticas de saúde pública, transversais a todos sectores que recoloquem e apoiem as estratégias de prevenção adaptadas a cada Região e, na quais o cidadão desempenha um papel principal na prevenção e redução de criadouros domésticos e peridomésticos que são o habitat preferencial do mosquito fêmea do vetor Aedes aegypti. Este mosquito tem uma fase aquática imprescindível para o seu desenvolvimento, precisando sempre de pequenas coleções de água limpa, próximo das moradias e de preferência no interior das casas, para que a espécie assegure a colocação de ovos e o processo de evolução das fases de larva e pupa ocorra para então se tornar mosquito adulto. A maturação dos ovos obriga a mosquito fêmea a se alimentar de sangue, daí que o ciclo de vida do mosquito se faça junto das pessoas, um mecanismo de vivência desta espécie de maneira a garantir, por um lado o alimento e, por outro, o local apropriado de oviposição. Assim, resta solicitar a cada um: lembre-se faça a sua parte… dê 10 minutos da sua semana à prevenção e elimine água acumulada, dentro e fora de casa, sobretudo dê atenção a: 
Os pneus fora de uso devem ser entregues na Estação de Resíduos Sólidos na Fundoa de Baixo, ou mantidos secos em local coberto.
Os pratos dos vasos devem ser eliminados ou virados ao contrário. As jarras com flores devem ser lavadas e esfregadas todas as semanas.
Evitar plantas que possam acumular água (ex.: Bromélias) ou regá-las com água e lixívia (2 colheres de chá por 1 litro de água).
Poços, tanques e outros depósitos de água devem ser fechados ou vedados com tela fina, para impedir a entrada de mosquitos. Rever e tratar perdas de água que se acumulam em redor dos reservatórios.
As piscinas devem ser tratadas com cloro e limpas uma vez por semana. As piscinas móveis, quando não usadas, devem ser desmontadas; tapadas; esvaziadas; ou viradas para baixo.
As calhas/caleiras devem ser mantidas limpas e desentupidas.
As tampas das sanitas devem ser mantidas sempre fechadas. Caso sejam pouco usadas, fazer uma descarga pelo menos uma vez por semana.
O lixo deve ser colocado em sacos de plástico e o contentor tapado. Não deixar lixo em terrenos, quintais e ribeiras.
Recomenda-se a criação de peixes “Guppies de água fria” (gambusia) em cascatas decorativas, poços, tanques, lagos, lagoas... Estes peixes alimentam-se de larvas de mosquitos.
As taças dos animais devem ser lavadas e esfregadas todas as semanas. A água deverá ser mudada todos os dias.
No cemitério, colocar terra ou areão nas floreiras. As jarras devem ser esfregadas todas as semanas.





 


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