MARçO 2015
A DOR DE CABEçA E A ENXAQUECA
Dr. Élvio Sousa 
Farmacêutico na Farmácia do Caniço
elvio.sousa@farmaciadocanico.pt

Cerca de 8 a 15% dos cidadãos dos países ocidentais sofrem de enxaqueca. Aliás a enxaqueca é mais frequente do que a asma ou a diabetes, por exemplo. O facto de atingir as pessoas nas idades mais produtivas da vida, implica grandes custos económicos, sociais e familiares.
Muitos clientes procuram o atendimento farmacêutico para dar resposta a crises de dor de cabeça. Descrevem sintomas que variam em número, intensidade, duração e tratamento. Aliás, a Classificação Internacional de Cefaleias considera a existência de 14 grandes tipos de cefaleias que, por sua vez, dividem-se e subdividem-se, resultando em mais de 200 formas de dor de cabeça diferentes. Por exemplo, a enxaqueca, um dos grandes tipos, divide-se em cerca de 20 formas diferentes.

Cefaleia e enxaqueca não significam o mesmo tipo de dor ou desconforto. Quem sofre de ambas vai aprendendo a distingui-las.

CEFALEIA
Na cefaleia existe um desconforto ou dor de cabeça. 
As cefaleias primárias, nas quais se incluem as enxaquecas, são uma doença em si mesmas, não traduzindo ou expressando outros problemas de saúde.
As cefaleias secundárias são sintomas de doenças do sistema nervoso ou de outros órgãos do corpo humano, por exemplo gripe, intoxicação ou abstinência alcoólica, pequenos traumatismos cranianos, hipoglicemia, crise de hipertensão arterial.
São uma minoria as cefaleias secundárias a doenças graves do sistema nervoso (meningites, tumores, hemorragias por rotura de aneurismas).

ENXAQUECA
A enxaqueca compreende episódios exuberantes de dor, intervalados por períodos sem sintomas. Um episódio pode durar poucas horas ou até três dias; entre as crises, habitualmente não há queixas. A periodicidade é muito variável; há pessoas que têm 2 crises por semana; outras terão apenas algumas ao longo da vida. É incapacitante, uma vez que os sintomas impedem frequentemente o trabalho ou estudo.
A dor da enxaqueca geralmente é:
- pulsátil: como se o coração batesse dentro da cabeça, e este latejar agrava-se com o esforço físico ou com movimentos da cabeça.
- hemicraniana: dor só de um lado, mas podendo localizar-se em qualquer parte da cabeça.
- acompanhada de náuseas, vómitos, intolerância à luz (fotofobia), ao ruído (fonofobia) e a alguns cheiros; geralmente as pessoas procuram um local escuro e sossegado onde possam repousar ou adormecer.

As ENXAQUECAS COM AURA é um tipo pouco comum de enxaqueca, em que apenas cerca de 15% de todas as pessoas com enxaqueca terão aura. Inclui sintomas neurológicos transitórios, nomeadamente perturbações exuberantes e passageiras da visão (por exemplo, perda de visão de um dos lados do campo visual - não de um dos olhos; imagens turvas; percepção de pontos luminosos, figuras geométricas ou zig-zags brilhantes); formigueiro ou dormência de um lado da face ou de uma das mãos; dificuldades em falar ou mesmo paralisias passageiras dos membros, habitualmente só de um dos lados do corpo. Os restantes sintomas são semelhantes aos da enxaqueca sem aura. Estas alterações duram cerca de 10 a 30 minutos e antecedem a dor.

As crianças podem ter enxaqueca? Sim!
A dor tende a ser bilateral (nos dois lados da cabeça), menos intensa e de duração mais curta, comparativamente à enxaqueca adulta. As crianças pequenas, incapazes de descrever os sintomas, demostram comportamentos que evidenciam a fonofobia ou fotofobia. Podem surgir vómitos, olheiras, alterações nos horários de sono e nas refeições.
O tratamento das crises de enxaqueca na criança é mais fácil do que no adulto: o sono dá habitualmente bons resultados. Não dispensa uma visita ao Pediatra ou Neuropediatra!

É uma doença feminina? Nem por isso.
As meninas e os meninos são atingidos pela dor de cabeça por igual. A partir da adolescência, a enxaqueca é mais frequente no sexo feminino.
No geral, a enxaqueca será 2 a 3 vezes mais prevalente no sexo feminino. Na enxaqueca sem aura, 5 mulheres para 1 homem. E na enxaqueca com aura, 3 mulheres para 2 homens.
A enxaqueca surge muito associada ao ciclo reprodutivo feminino, em que ocorre com maior frequência depois de a rapariga ter a sua primeira menstruação, e tende a surgir de novo na altura do período menstrual. Além disso possui um agravamento ocasional pela pílula anticoncepcional ou terapêutica hormonal, e atenua ou desaparece durante a gravidez ou na menopausa.

Enxaquecas diárias? Fique atento!
Se uma enxaqueca se torna uma cefaleia diária, provavelmente existe um longo uso de analgésicos ou de outros medicamentos. É uma situação que exige o apoio de um especialista.

Enxaquecas de fim-de-semana? Evite-as!
Existem pessoas em que a enxaqueca aparece preferencialmente ao fim-de-semana e que pode ser precipitada por privação, excesso ou alteração do horário de sono, e/ou pela falha do pequeno-almoço ou do café habitual da manhã. A descompressão do fim-de-semana (suspensão rápida do stress sócio-profissional) e o abuso de álcool/drogas também poderão ter algum papel. Há que ponderar sobre estas mudanças radicais de estilo de vida durante o fim-de-semana.

DESTAQUE
TRATAMENTO: 2 tipos

Tratamento sintomático
- Deitar-se num local sossegado e escuro;
- Aplicar pressão ou frio no local da dor;
- Medicamentos recomendados: analgésicos simples, anti-inflamatórios e triptanos (agonistas da serotonina). Consulte o seu Médico de Família, Neurologista ou Psiquiatra, consoante a causa da sua cefaleia.  

Tratamento profiláctico
- Tenha um calendário onde anota as crises, o que permitirá identificar factores que conduzem ao aparecimento da cefaleia (que devem ser evitados) e valorizar o impacto das crises na qualidade de vida.
- Pode vir a ser necessário recorrer a medicamentos de uso diário para diminuir as crises. Mais uma vez, Consulte o seu Médico de Família, Neurologista ou Psiquiatra, consoante a causa da sua cefaleia.  

Os tratamentos conduzem a melhorias positivas na qualidade de vida de quem (con)vive com a enxaqueca. 





 


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