DEZEMBRO 2014
A HISTóRIA DE UM NINHO VAZIO
Dra. Cheila Martins
Psicóloga
cheilamartins@hotmail.com

Este texto até podia começar com o “Era uma vez” como dita a regra das boas histórias, mas tem tão pouco encanto que não merece o lisonjeio. Este é o texto para não ser lido, simplesmente porque fala do que não está. É o texto que dói a cada caracter, a cada letra, até ao espacinho, que parece que existe só mesmo para nos deixar respirar. Este texto é uma ode ao que resta quando o ninho fica vazio. Se isto lhe doer pique o bilhete e sente-se.
Desde cedo aprendemos que os filhos não são nossos, são um legado para o mundo, é um facto incontornável na vida de um pai. Os filhos aprendem a dar os primeiros passos e os primeiros tombos e, quando ainda parecem não equilibrar-se nos membros, desatam a correr e até a voar! “Mas ele já sabe voar?!” PÂNICO! Sabemos esta sequência de cor e salteado, dizemos “à boca cheia” é tudo muito bonito, mas a coisa muda de figura, no Dia D: o dia em que eles decidem passar além da Taprobana (que nos dias que correm pode significar ir em busca de um sonho, de um horizonte maior, ou até de um porto seguro). É um tornado de emoções, um abalo tal que parece que já nada ficou no sítio.
Se por um lado o “sair do ninho” pode significar que os pais foram exímios na educação, promoveram a independência e criaram filhos autores da sua própria vida, por outro fica a sensação de que incutimos nos filhos o instinto para voarem, mas que o que se queria mesmo era que ficassem sempre debaixo das nossas asas. Perde-se o chão, e é tudo o que se sente quando deixamos de desempenhar as funções da profissão que nos acompanhou quiçá nos últimos 20 anos: Mãe. É quase como um despedimento por justa causa, quando já éramos praticamente efectivas e quando já nos sentimos tão inaptas no mercado. Há que redefinir a vida numa altura que já não estamos para ajustamentos. Custa.
Mas nem tudo é negativo se deixarmos ir, sem perder a raiz e sem cortarmos as asas, faz parte. Os ‘aero-portos’ passam rapidamente a ‘aero-pontes’ se percebermos que a proximidade não é um mapa, é um sentimento, uma questão de perspectiva. E o amor é tão altruísta, tão crescido quando deixamos ir, quando já não está ali à-mão-de-semear. É longe que percebemos que as cartas ainda são uma forma de comunicação, que aguardamos ansiosamente pela chegada do carteiro, que (re)aprendemos onde é que se colam os selos e que agradecemos (todos os dias) às tecnologias que aproximam ‘tan-to’!
Tão bom! Desfrute destas coisas boas e ainda vá a tempo de resgatar as outras coisas que ficaram em stand by há demasiado. Ora atente: aproxime-se do seu companheiro, afinal ele é a pessoa com quem escolheu partilhar a vida; procure actividades prazerosas, estou certa de que há alguma coisa que gostava muito de fazer mas “ainda não teve tempo”; estimule a sua independência e melhore relacionamentos, lembre-se que os grandes amores são como monumentos, só se vêem bem à distância.
E na história do ninho vazio não há bruxas más, há amor, há família, há sentimento. Vai-na-volta e até nem há um ninho vazio, se escolher ver o seu copo sempre meio cheio. 
Vitória! Vitória! Acabou-se a história!

DESTAQUE
Se por um lado o “sair do ninho” pode significar que os pais foram exímios na educação, promoveram a independência e criaram filhos autores da sua própria vida, por outro fica a sensação de que incutimos nos filhos o instinto para voarem…


 


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