OUTUBRO 2014
DO AEDES AEGYPTI AO APARECIMENTO DO DENGUE NA RAM
Dr. Maurício Melim
Médico Especialista em Saúde Pública
Delegado de Saúde do Concelho do Funchal
jmmelim@gmail.com

Decorria o ano 2003 quando um aluno da Universidade da Madeira encontrou em sua casa, em Santa Luzia, um mosquito diferente. Colocou-o num tubo, devidamente etiquetado, guardou-o e entregou-o a um especialista, que o deixou na gaveta.
No Verão de 2005, os moradores do Bairro da Encarnação, Santa Luzia, comunicaram que estavam a ser picados por insetos e apresentaram-se nos serviços de saúde com lesões cutâneas, designadamente pápulas, flictenas, prurido e reações alérgicas.
Anatomicamente, tais picadas surgiam predominantemente nos membros inferiores (pernas, tornozelos e pés) e nos membros superiores (antebraços e mãos).
A presença do mosquito Aedes (Stegomya) aegypti (Linnaeus,1762) foi registada oficialmente na RAM, em outubro 2005, pela Dr.ª Ysabel Margarita, entomologista do Museu de História Natural do Funchal, tendo sido feita posteriormente a sua confirmação por um especialista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
Sendo o mosquito Aedes aegypti um vetor potencial para a transmissão de doenças causadas por vírus (ex: febre de dengue), após ter sido identificada a sua presença no Funchal, foi implementado um programa de prevenção e controlo deste vetor/mosquito, com o objetivo de reduzir a densidade de mosquitos existentes e conhecer a sua real distribuição na Região. Esse programa foi inicialmente coordenado pela Direcção Regional de Saúde Pública e mais tarde, em 2008, pelo Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da RAM, tendo como parceiros a Câmara Municipal do Funchal e o IHMT.
O Programa incluía diferentes atividades, entre as quais se contam: vigilância entomológica (monitorização do Aedes aegypti com recurso a uma rede de armadilhas estrategicamente colocada e através de outros projetos específicos que foram sendo implementados desde 2005); combate físico (identificação e destruição de criadouros); combate químico (utilização de larvicidas e adulticidas); educação para a saúde, incluindo sensibilização junto da população para a redução de criadouros e um plano de comunicação, envolvendo a comunicação social (programas de rádio, spots televisivos, etc).
Apesar de desde 2005 terem sido desenvolvidas todas as medidas recomendadas e reconhecidas pelas entidades de Saúde Pública Nacionais e Internacionais como as mais adequadas na luta anti-vetorial contra o Aedes aegypti, em outubro do corrente ano a Madeira registou os primeiros casos de febre de dengue. Trata-se de uma doença infeciosa que não se transmite de pessoa a pessoa, que não dá origem a cadeias de transmissão e que se transmite unicamente por picada de mosquitos infetados.
A febre de dengue caracteriza-se por um quadro febril agudo, com duas ou mais das seguintes manifestações: dores de cabeça (cefaleias); dor retro orbitária (por detrás dos olhos); dores nas articulações (artralgias); dores musculares e nos ossos; exantema (manchas na pele) e ligeiras manifestações hemorrágicas (ex: hemorragia nasal ou gengival).
Esta doença, que ocorre em muitas áreas do globo, evolui, em regra, para a cura, mas podem acontecer casos mais graves, que requerem cuidados médicos.

DESTAQUE
Perante um caso provável de dengue as pessoas devem:
Para aconselhamento ou esclarecimento ligar para a Linha Saúde 24 (808 24 24 24).
Contactar: Médico assistente
Centro de Saúde da área de residência
Dirigir-se ao Serviço de urgência Concelhio ou Hospital Dr. Nélio Mendonça
Para Informação adicional: http://iasaude.sras.gov-madeira.pt/mosquitos/ Uma vez que se torna quase impossível erradicar o mosquito na RAM, todo o esforço deverá convergir para um conjunto de estratégias que mitiguem a ocorrência de novas epidemias de dengue, com o intuito de diminuir de forma substantiva a expressão da doença na Madeira.
Para que se alcancem os objetivos anteriormente mencionados, apelamos à participação de todos na efetivação das medidas que passamos a descrever:

DESTAQUE 2
Medidas de Prevenção Ambiental
-Fazer uma visita assídua, ou pelo menos semanal, ao jardim, quintal, varanda e outros espaços externos da residência para verificar se possui potenciais criadouros (locais com a presença de água onde se desenvolvem mosquitos); Deitar fora ou reciclar contentores ocasionais de água que não são necessários; Limpar e esfregar os bebedouros dos animais todas as semanas; Lavar e esfregar as jarras de flores pelo menos uma vez por semana e eliminar os pratos dos vasos de plantas; Certificar-se que as caleiras não estão a reter água e cobrir as grelhas de escoamento com rede fina para que os mosquitos não possam a elas aceder, ou aplicar sal de cozinha numa relação de 35gr/l de água; Se tiver que guardar grandes contentores ou objetos de grandes dimensões, como barcos, tanques, piscinas de montar, deve cobri-los, virados ao contrário ou colocados sob um telhado onde não haja a possibilidade de virem a acumular água; Alertar as autoridades de saúde se detetar densidades anormais de mosquitos ou espaços devolutos, abandonados ou fechados que propiciem o desenvolvimento destes mosquitos.

DESTAQUE 3
Medidas de Proteção Individual
-Reduzir a exposição corporal à picada (usando roupa larga e clara que permita ver os mosquitos sobre a roupa, camisa de manga comprida, calças e meias);
-Usar redes de proteção nas janelas das casas;
-Usar redes mosquiteiras nas camas, sobretudo se dormir durante o dia;
-Limitar o tempo passado no exterior ao amanhecer e ao anoitecer.
-Utilizar ar condicionado;
-Evitar zonas onde existam águas paradas;
-Aplicar repelente de mosquitos que contenha 20-30% de N,N-dietil-m- toluamida (DEET) ou IR3535;
-Nas crianças menores de 10 anos, os repelentes a usar não devem exceder uma concentração de DEET de 10%;
-O repelente está contraindicado nas crianças de idade inferior a 2 meses;
-Apenas nas zonas de pele expostas e/ou na roupa (de acordo com as instruções do produto). Não use repelentes sob a roupa;
-Não aplicar repelentes nas mãos;
-Cumprir a necessidade de reaplicação ao longo do dia;
-Se aplicar repelentes em aerossol, fazê-lo em ambiente arejado, para evitar a inalação.
Temos de acreditar que com o empenho de todos é possível mitigar esta adversidade e devolver à nossa terra o seu encanto peculiar.


 


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