SETEMBRO 2014
ASAS NOS PéS, CABEçA NA LUA
Dra. Mara Abreu
Psicóloga 
Vice-presidente na Associação de Apoio a Crianças e Jovens 
mmaraabreu@hotmail.com

Era uma vez um menino chamado Pedro, alegre e destemido, de olhos azuis e caracóis descoordenados. O seu maior sonho? Construir uma máquina do tempo para viajar à velocidade da luz! O Pedro tem 6 anos, corre, pula, salta todo dia mas parece que a sua energia nunca se esgota. Para ele, o mundo é um lugar maravilhoso e se a escola não existisse, seria ainda melhor! O Pedro detesta a escola. Ler, escrever e fazer contas são tarefas confusas e aborrecidas. Mesmo quando se esforça por manter-se concentrado, surge sempre algo melhor para fazer e pensar. É mais forte do que ele! A caderneta cheia de buracos e folhas rasgadas leva todos os dias recados para casa. Perde um lápis aqui, outro acolá e depressa o estojo fica vazio: “Pedro, tens de ser mais responsável!”. Mais uma asneira, mais um castigo. O mundo é também um lugar injusto. Até os amigos deixaram de convidá-lo para as festas de anos porque ele fala muito e não sabe esperar pela sua vez. 
Esta poderia ser apenas uma história mas na verdade, é a realidade de uma criança com PHDA – Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção. A PHDA é uma perturbação de desenvolvimento caraterizada por um padrão persistente de excesso de atividade motora e impulsividade, acompanhado de dificuldades em manter a atenção num determinado estímulo de forma prolongada. Mas, ser impulsivo, não medir as consequências e ter muita energia é natural na infância, certo? Então, como poderemos distinguir o comportamento de uma criança que está apenas a ser criança com o da criança que tem PHDA? O diagnóstico é árduo e deve ser realizado por uma equipa especializada (neuropediatra, psicólogo e professor) que analisa o impacto do comportamento da criança nos vários contextos do seu quotidiano. Os sintomas devem manifestar-se antes dos 7 anos de idade, persistir durante pelo menos 6 meses, estar presentes em 2 ou mais contextos e serem inconsistentes com o nível de desenvolvimento. Quando necessário, são utilizados fármacos que têm como princípio ativo o metilfenidato. O medicamento atua no sistema nervoso central para que as células comuniquem melhor entre si já que nos casos de PHDA os neurotransmissores (mensageiros responsáveis pela comunicação entre as células) não circulam em quantidade suficiente. Estas alterações fazem com que o cérebro atribua a mesma importância a todos os estímulos em vez de ordená-los, como uma espécie de central telefónica, sem a capacidade de reencaminhar as chamadas que chegam em simultâneo. Mas atenção, a PHDA é uma explicação do comportamento e não uma desculpa. É importante definir regras, uma rotina familiar eficiente e promover a mudança de comportamentos. Pais e professores desempenham um papel fundamental para que a criança supere as suas dificuldades académicas, de relacionamento familiar e social. Valorize as qualidades da criança, reforce comportamentos positivos e acarinhe-a muito. Ela precisará de afeto sempre, mesmo com asas nos pés e a cabeça na lua. 


 


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