FEVEREIRO 2014
DIVóRCIO DOS PAIS E SEU IMPACTO NAS CRIANçAS
Dra. Cristina Andrade
Aguiar - Psicólogacristinaandrade.psi@gmail.com Como devemos explicar a uma criança
que os pais se vão separar? Ambos os
pais deverão conversar com o filho adaptando a linguagem à faixa etária da
criança. Por vezes há a tentação de deixar que esta perceba sozinha. Nestes
casos a criança irá criar a sua própria explicação acerca do motivo da
separação, muitas vezes distorcida e dolorosa para a própria. A conversa serena
com os pais na qual poderá expressar as suas frustrações e medos e colocar
perguntas é extremamente importante para minimizar o seu sofrimento perante
esta mudança significativa na sua vida. Dizer algo
do género "os pais perceberam que já não querem viver juntos, que já não
gostam um do outro como um casal" poderá ser uma maneira de passar a
mensagem. "Esta decisão é uma decisão de adultos da qual não tens
responsabilidade e que não podes alterar". A reter: É importantíssimo deixar bem claro
que os sentimentos pelo filho não se alteraram, que o pai e a mãe o amam muito
e que este vai poder sempre conviver com os dois. As crianças devem ainda ser
esclarecidas que o processo de divórcio é permanente, de forma a não
alimentarem a fantasia de uma reconciliação. Qual é o impacto que um
divórcio pode ter no desenvolvimento de um filho em comum? Uma ruptura
relacional acarreta sempre alguma dor, tanto para os membros do casal que se
separa como para as crianças da família que vivenciam essa mudança. É uma
alteração que exige de todos grandes adaptações. A capacidade de resiliência
dos pequenos seres em pleno desenvolvimento é colocada à prova e estes
provavelmente irão viver momentos de frustração, confusão e até de alguma
culpabilizacão pelo sucedido. As crianças mais pequenas, em idade pré-escolar,
poderão apresentar comportamentos regressivos como voltar a urinar na cama,
sofrer alterações do sono, desenvolver medos e tornar-se mais irritáveis.
Crianças em idade escolar poderão diminuir o seu rendimento escolar, mostrar-se
mais conflituosas na relação com os pares e até mais inseguras dado que aquilo
que consideravam como certo deixou de o ser. É importante que os pais estejam
atentos a estes e outros sintomas de sofrimento exibidos pela criança que, ao
se tornarem persistentes, deverão ser analisados por um psicólogo no sentido de
a ajudar a repor o seu equilíbrio emocional e a prevenir possíveis complicações
emocionais futuras. A reter: Apesar do divórcio dos pais ser um
acontecimento efetivamente desafiante para qualquer filho, diversos estudos
científicos demonstram que os divórcios não têm necessariamente que ser
traumáticos. Na verdade o que gera mais impacto nas crianças não é a separação
propriamente dita mas sim a forma como esta é gerida pelos adultos. O que é que aconselha aos pais que
estão a viver atualmente uma situação de divórcio relativamente às condutas
mais adequadas a ter para bem das crianças? Os adultos
precisam de ter bem presente que educam pelo exemplo. Não poderemos exigir das
crianças reacções maduras e adequadas se não formos capazes de as exibir em
primeiro lugar. É
extremamente importante que o respeito e o bom senso imperem na relação entre
os progenitores, o que nem sempre é fácil de conseguir, principalmente, numa
fase inicial de separação. Preservar uma imagem positiva um do outro perante o
filho é uma das premissas mais importantes para que a criança sofra os impactos
mínimos com a nova situação. Isto exigirá dos pais, obviamente, uma grande dose
de maturidade e capacidade de trabalho em equipa. Afinal a paternidade é algo
que terão sempre em comum. Especificamente
na relação com os filhos é de ter presente que o papel de pai e de mãe não
mudam com o divórcio, é vitalício. Independentemente de já não serem um casal,
a demonstração da relação de amor de pai-filho e mãe-filho será essencial para
que este se sinta amado e seguro. Por vezes a
tentação de ter atitudes compensatórias relativamente à criança é grande,
principalmente para o progenitor que não coabita com esta. Este tipo de
comportamentos não promove o desenvolvimento saudável da relação nem tão pouco
é o melhor para a criança a longo prazo dado que o que esta necessita é que os
pais se mantenham coerentes e presentes tanto fisicamente como afetivamente.
Estabelecer com a criança rotinas e cumpri-las e realizar atividades conjuntas,
tanto lúdicas como integrantes das suas vivências diárias, contribuem para
promover a estabilidade emocional do seu rebento. A reter: Acima de tudo demonstre ao seu
filho que o ama e não hesite em procurar ajuda para lidar com este desafio se
considerar que necessita.
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