Filipa Abreu - Fisioterapeuta
A infância e a adolescência são os períodos em que a prevenção e o tratamento de alterações posturais, decorrentes do mau hábito postural e da sobrecarga biomecânica, são mais eficazes. Nos últimos anos, a saúde escolar tem despertado a atenção entre a comunidade científica, no que concerne a alterações posturais e dores na coluna vertebral em crianças e adolescentes. Em virtude do grande número de adultos acometidos com patologias da coluna vertebral, os investigadores procuraram, nessa fase, possíveis causas para as mesmas. Sabe-se, que o uso das mochilas, é atualmente o meio mais comum de transporte do material escolar utilizado pelos estudantes, FORJUOH, S et al. (2003), HEATHER, M. et al. (2004); referem que o uso destas, tem consequências para a saúde, incluindo alterações no sistema músculo-esquelético, diminuição do volume pulmonar por alterações posturais e consequentemente alterações na marcha, originando algias na coluna vertebral. Embora a comunidade científica não tenha ainda identificado, a quantidade de carga crítica acima da qual a criança estaria sujeita a problemas na coluna vertebral, e a melhor maneira de transporte, vários autores concordam que a carga transportada não deve exceder os 10% da sua massa corporal, que o transporte deve acontecer com apoio nos dois ombros e que deverão ser orientadas sobre o uso correto das mesmas. O peso excessivo sobre os ombros e coluna vertebral, aumenta a pressão sobre as articulações e ligamentos numa fase em que esta faixa etária está em crescimento acelerado. Face aos valores de prevalência encontrados na literatura, assim como, dos casos clínicos existentes na nossa prática clínica, surgiu-nos em 2005, a necessidade e curiosidade de realizar um estudo com o objetivo de verificar esta situação na Região Autónoma da Madeira. Verificamos um valor de 66,82% de alunos com dor. Pelos valores apresentados, concluímos que a carga das mochilas superiores a 10% do peso corporal sem serem determinantes, originam o aparecimento de algias vertebrais. Segundo Mohseni-Bandpei et al. (2007) existe correlação entre as lombalgias e posturas menos adequadas durante o tempo passado na televisão, a posição e duração do trabalho de casa. Crianças com má postura referiram dores de cabeça, cervicalgias e lombalgias mais frequentemente, conforme referem Kratenová et al. (2007), e existem evidências de que certas posturas são fatores de risco significativos para o desenvolvimento de problemas e dores nas costas e músculo esqueléticos (Brink et al., 2009; Briggs et al., 2009). A fase escolar representa o melhor momento para o estímulo de hábitos saudáveis. Assim, na tentativa de prevenir o desenvolvimento de alterações posturais nos estudantes, a fisioterapia fornece orientações que visam evitar posições ou atividades, que aumentem as curvaturas da coluna vertebral dos alunos. Desta forma, justifica-se a elaboração de programas de prevenção para diminuir os riscos de alterações e dores na coluna vertebral, originados pela postura incorreta, transporte e uso inadequados de mochilas escolares. A atuação da fisioterapia na saúde escolar ainda é pouco explorada, e a atenção profissional do fisioterapeuta deve estar voltada para aspetos preventivos que envolvam cuidados com a postura, durante as atividades escolares. Parece-nos pertinente sensibilizar os encarregados de educação, professores e alunos para esta problemática, de modo a existir uma maior preocupação, relativamente à postura e ao transporte da “cultura” para os estabelecimentos de ensino. |