JANEIRO 2014
DR. SILVESTRE ABREU: “90% DOS DIABéTICOS TêM EXCESSO DE PESO”
Dr. Silvestre Abreu - Endocronologista
silvestreabreu@netmadeira.com

O Dr. Silvestre Abreu, Director do Serviço de Endocronologia do Serviço de Saúde da Região, tem 59 anos. É médico há 35 anos. Na primeira edição da Newsletter da Farmácia do Caniço em 2014, aborda a problemática da diabetes, sobretudo alertando para a modificação de hábitos junto das pessoas com diabetes. 

A diabetes tem vindo a aumentar em Portugal. Quais são os principais factores de risco?

A diabetes tem vindo a aumentar e já representada 12,9% da população entre os 20 e os 79 anos. O que é mais preocupante é que cerca de 46% ainda estão por diagnosticar. Ou seja, há muita gente que anda a passear a sua diabetes sem saber que a tem. Isto significa que em Portugal existem já cerca de um milhão de pessoas com diabetes. E o número de diabéticos ‘dispara’ junto das pessoas acima dos 60 anos, porque a doença está também relacionada com o envelhecimento. O nosso pâncreas é um órgão que também envelhece e à medida que se vai envelhecendo a propensão para a diabetes é maior. A partir dos 60 anos, 27% da população tem diabetes, o que significa que neste escalão etário há uma duplicação da prevalência da doença. Constata-se ainda que 39,6% da população tem diabetes ou pré-diabetes entre os 20 e os 79 anos o que significa que tem uma alteração da regulação da glicose. Os maus hábitos alimentares e o sedentarismo são factores que contribuem para a obesidade. É importante que se perceba que 90% das pessoas com diabetes têm excesso de peso ou são obesas.

Qual é a principal resistência do doente diabético?

Passa sobretudo pela modificação dos estilos de vida. Enquanto a maioria das doenças se trata dando um medicamento e não depende quase exclusivamente do envolvimento do doente para o seu tratamento, a diabetes é algo diferente. Primeiro porque é uma doença que não tem cura e o sucesso da terapêutica depende sempre da modificação dos estilos de vida das pessoas, fundamentalmente a dois níveis: fracionamento e modificação da composição dos alimentos e promoção da actividade física.

Tem conseguido que os doentes diabéticos alterem comportamentos?

É muito difícil. Mas já há uma grande percentagem de pessoas que felizmente percebe a mensagem até porque depois quando percebem que modificando os seus hábitos vêm que o controlo da sua doença melhora, ou conseguem atingir um bom controlo.  

A diabetes gestacional tem aumentado muito nos últimos anos. Merece mais atenção que os restantes tipos de diabetes?

O que é fundamental é falar da diabetes tipo 2, que representa mais de 90% de todos os casos de diabetes. Este tipo de diabetes na grande maioria dos casos está associado à obesidade. Quando falamos nos números brutais de diabetes em Portugal estamos a falar da diabetes tipo 2.

A diabetes tipo 1 representa menos de 10% do total das pessoas com diabetes diagnosticadas.

Esta diabetes tem vindo a aumentar mas não tem prevenção. Já a diabetes gestacional está relacionada com o melhor diagnóstico da situação e com o facto de as mulheres engravidarem mais tarde e serem obesas. Encontra-se em Portugal já em 5% das gravidezes. O número é ainda maior junto das mulheres que engravidam com mais de 40 anos.

Quais as pessoas que estão em risco?

Diz respeito a um grande grupo de pessoas: Estão em risco pessoas acima dos 40 anos, pessoas que têm familiares directos com diabetes (pais, avós ou irmãos), a obesidade (sem dúvida nenhuma que é o principal factor) e a hipertensão. Quando estes factores se juntam, o risco aumenta.

O grande problema da diabetes é que ainda ninguém conseguiu uma estratégia que leve as pessoas a modificar os seus hábitos. A doença é assintomática. Não dói. Mas a principal causa no mundo civilizado da cegueira é a diabetes. 30% das pessoas que têm um enfarte no miocárdio são diabéticas. Isto significa custos brutais para o estado no tratamento da diabetes.

Contrariamente ao que se pensa, não são os medicamentos que levam a grande fatia da despesa mas sim os internamentos por diabetes, porque um diabético quando é internado, está mais tempo no hospital do que uma pessoa que não é diabética.

O controlo da diabetes só é possível com um envolvimento sério da pessoa com diabetes no controlo da sua situação. Não é o facto do indivíduo fazer mais vezes a autovigilância (picar o dedo) que vai melhorar o controlo da sua situação.

Se não modificar comportamentos estará a gastar mais recursos sem quaisquer benefícios, tem de haver uma responsabilização da pessoa com diabetes no controlo da sua doença. Por isso, o profissional de saúde tem de explicar a essa pessoa que a sua melhoria não passa por maior vigilância mas por modificar o seu comportamento.


Destaques:

“A diabetes é a principal causa de cegueira no mundo civilizado”

Sintomas da diabetes:

Urinar muitas vezes

Ter muita sede

Aumento da fome

Perda de peso sem modificação dos hábitos alimentares

Perda de força

Sonolência

Em 2013 a Diabetes matou 5,1 milhões de pessoas. Estima-se que em 2035 o número de pessoas com Diabetes no mundo atinja os 592 milhões, o que representa um aumento de 55% da população atingida pela doença.


 


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