JULHO 2013
QUANDO O CORAçãO ESTá EM DIFICULDADES
Dr. Paulo Araújo – Médico Veterinário
vetfunchal@mail.telepac.pt

Com a chegada do Verão e o aumento da temperatura e humidade, tal como nos humanos, os cães com problemas cardíacos começam a manifestar algumas dificuldades. Este artigo irá debruçar-se sobre a patologia cardíaca mais frequente nos animais de companhia, que é a insuficiência da válvula mitral. 

O coração dos canídeos tem quatro câmaras; átrios esquerdo e direito (câmaras superiores) e ventrículos esquerdo e direito (câmaras inferiores). De forma a evitar que haja refluxo de sangue, existe entre cada câmara uma válvula cardíaca (válvula tricúspide e válvula mitral). Devido à grande pressão criada pelas contracções ventriculares esquerdas, a válvula mitral é submetida a um enorme stress ao longo da vida do animal, fazendo com que, por vezes, devido ao desgaste sofrido, passe a existir uma deficiente cooptação valvular, permitindo a passagem de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo. Este processo começa por um pequeno refluxo, que se vai tornando maior com o decorrer do tempo.

Esta patologia é mais frequente em cães de raça pequena a média a partir dos 10 anos de idade, sendo rara em cães de grande porte. O primeiro sinal de insuficiência mitral é o chamado “sopro cardíaco” que não é mais que o som produzido pela turbulência existente, devido ao refluxo de sangue do ventrículo para o átrio esquerdo. A existência de “sopro cardíaco” não significa que a insuficiência cardíaca esteja iminente, mas à medida que o tempo passa e o grau de refluxo vai aumentando, a eficiência do bombeamento do sangue por parte do ventrículo esquerdo vai diminuindo, originando a insuficiência cardíaca congestiva tão característica desta patologia. O espaço de tempo que decorre entre o aparecimento do sopro e a manifestação da insuficiência cardíaca congestiva pode ir de alguns meses, até vários anos. 

Os primeiros sintomas de insuficiência cardíaca ocorrem quando o coração não consegue fornecer a quantidade adequada de sangue com oxigénio para os tecidos, apresentando o animal intolerância ao exercício, tosse seca (principalmente nocturna) e cianose (cor azul da língua).

Para o diagnóstico e prognóstico desta patologia, o médico veterinário deverá realizar uma auscultação cuidada e minuciosa do coração e dos pulmões; radiografias torácicas, para avaliar a dimensão e arquitectura do coração e padrão pulmonar; electrocardiograma; ecocardiografia, que é o método de eleição para avaliação da dimensão das várias câmaras cardíacas; visualização das válvulas; avaliação da qualidade da função cardíaca e exames de sangue e urina, que apesar de não darem informação directa sobre o coração permitem avaliar se existem outras doenças potenciais causadoras de patologia cardíaca e se outros aparelhos já começam a estar afectados.

Como não é possível, de momento, a substituição valvular nos cães, o tratamento é apenas médico e depende da fase e grau de insuficiência cardíaca que o animal apresenta. O tratamento inicial consiste na utilização de diuréticos (de forma a reduzir o excesso de líquido no organismo); vasodilatadores e fármacos inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAs), que diminuem a hipertensão e melhoraram a oxigenação do miocárdio, e dieta com baixo teor em sal. Nos casos mais avançados e severos, é necessário adicionar uma droga inotrópica positiva, que não é mais que um fármaco que aumenta a força e qualidade da contracção do miocárdio. 

Para terminar, não quero deixar de salientar que, apesar de se poder estar a utilizar os medicamentos e doses correctas, trata-se de uma patologia degenerativa progressiva e, como tal, o agravamento com o decorrer do tempo é inevitável e obriga o proprietário a visitas frequentes ao veterinário, de forma a atrasar e controlar o melhor possível esta doença.


 


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