JULHO 2013
CUIDADOS FARMACêUTICOS, UMA NOVIDADE?
Dr. João Marques - Farmacêutico
joao.marques@farmaciadocanico.pt

De entre os serviços diferenciados - centrados na terapêutica dos doentes e prestados por farmacêuticos certificados - que hoje em dia é possível adquirir em algumas farmácias, destacam-se os Programas de Cuidados Farmacêuticos (PCF’s), quer na sua vertente de Gestão da Terapêutica, quer na da Gestão da Doença. Previstos na Portaria n.º 1429/2007, de 2 de Novembro, e já implementados em alguns pontos do nosso país, estes serviços suscitam ainda algumas dúvidas e os benefícios deles decorrentes não são completamente do domínio do público, pelo que surge como oportuna uma breve apresentação, aqui, deste tema.

Os Cuidados Farmacêuticos são uma prática profissional centrada no doente, que pretende, através do Seguimento Farmacoterapêutico e recorrendo a uma metodologia rigorosa, alcançar os melhores resultados terapêuticos possíveis. Recorrendo à entrevista e à monitorização de parâmetros bioquímicos (pressão arterial, índice de massa corporal, glicemia, colesterolemia, etc.), o farmacêutico, em colaboração estreita com o doente e com os outros profissionais de saúde, realiza o acompanhamento do paciente, segundo as suas necessidades, com o propósito de o auxiliar a atingir os objectivos terapêuticos definidos, maximizando a efectividade e a segurança dos medicamentos e procurando detectar, prevenir e resolver eventuais Problemas Relacionados com Medicamentos (PRM’s).

Nesta época caracterizada pelo envelhecimento da população e pela prevalência de doenças crónicas, muitas vezes acompanhadas de complicações, são frequentes a polimedicação e a utilização de medicamentos cada vez mais complexos, enquanto assistimos à proliferação de informação nem sempre cientificamente fundamentada. Estas circunstâncias facilitam a expressão de elevadas morbilidade e mortalidade relacionadas com medicamentos, agravando enormemente o facto de nem sempre a sua utilização conduzir aos resultados desejados na saúde dos doentes. Todos estes factores determinaram o desenvolvimento dos Cuidados Farmacêuticos, defendidos já em 1993 pela Organização Mundial de Saúde, no seu “Documento de Tóquio” e que “traduzem uma interacção directa entre o farmacêutico e o utente, sempre em colaboração com o médico, com o objectivo de obter uma farmacoterapia racional, com resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida”(1).

Actualmente, em Portugal, encontram-se implementados, além da Gestão da Terapêutica, os Programas de Cuidados Farmacêuticos (PCF’s) referentes à Diabetes, à Hipertensão Arterial, à Dislipidemia (valores anómalos de Colesterol e/ou de Triglicéridos no sangue), à Asma e à DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica).

Estes programas dirigem-se:
- No caso da Gestão da Terapêutica, preferencialmente a doentes:
com problemas de saúde descompensados;
que se encontrem a tomar quatro ou mais medicamentos;
sob terapêutica de longa duração e/ou para doenças crónicas;
que tenham sido sujeitos a alterações frequentes de terapêutica nos últimos 3 meses;
com 65 anos de idade ou mais; ou
que tenham tido alta hospitalar nas últimas 4 semanas.
- No caso da Gestão da Doença, a todos os doentes que cumpram pelo menos um dos critérios anteriores e que tenham pelo menos um medicamento habitualmente prescrito para uma das patologias acima referidas como abrangidas pelos PCF’s.

Procurando ser um pouco mais concreto, tomemos o exemplo de uma doente com 66 anos de idade e habitualmente medicada para a Hipertensão e Hipercolesterolemia (“colesterol elevado”). Esta senhora procura auxílio nos Programas de Cuidados Farmacêuticos disponíveis na sua farmácia e, depois de combinar a primeira visita com o farmacêutico que a vai acompanhar, comparecerá na farmácia, trazendo os seus medicamentos, para a primeira avaliação da terapêutica e medição dos parâmetros bioquímicos relevantes. Nesta visita, o farmacêutico, além de prestar aconselhamento relativo à medicação e a hábitos saudáveis, procurará despistar eventuais Problemas Relacionados com os Medicamentos, para os procurar resolver. Esta visita será complementada com outras duas, devidamente combinadas, de acordo com as necessidades da doente e nos intervalos entre as consultas médicas, para acompanhamento e avaliação do sucesso na eliminação dos PRM’s e dos progressos obtidos no controlo das patologias apresentadas.

Está já demonstrada a influência dos Cuidados Farmacêuticos na redução da morbilidade e da mortalidade relativas ao uso de medicamentos. Mas, para além disso, os PCF’s podem (e pretendem) desempenhar um importante papel no controlo dos objectivos terapêuticos como conseguem ilustrar, os gráficos seguintes que representam a evolução positiva dos valores médios dos parâmetros analisados (Tensão Arterial e níveis de Colesterol e Triglicéridos no sangue) em 791 doentes que optaram pelo acompanhamento farmacoterapêutico, no âmbito do PCF da Hipertensão, num universo de 151 farmácias portuguesas entre 2003 e 2006(2):

            


(1) - Maurício, Maria João N. G. D., “Cuidados Farmacêuticos: relevância e impacto no contexto actual da saúde”, Tese de Mestrado, ISCTE, Março de 2009.
(2) - ibidem.

 


seara.com
 
2009 - Farm´cia Caniço
Verified by visa
Saphety
Paypal