Dra. Carla Alves - Diretora Pedagógica da Creche «O Principezinho» carla.principezinho@gmail.com Quem acha que há receitas ou uma fórmula mágica para disciplinar uma criança, engana-se. Cada criança é um ser único e deve ser respeitado e tratado como tal. São muitas as teorias existentes, as estratégias a utilizar, mas o impacto em cada criança é variado. No entanto, é de extrema importância que haja regras e limites desde cedo, de forma a criarmos crianças mais saudáveis e preparadas para a vida em sociedade. As crianças, por volta dos 2/3 anos, progridem na construção da sua identidade pessoal. O seu desenvolvimento social, emocional, moral, cognitivo e da linguagem têm o apogeu nesta fase. O papel principal, tanto de pais como de educadores, é tentar orientar, da melhor forma possível, todo o processo de crescimento das crianças. É fundamental enfrentar, de forma natural, as ditas “fases” pelas quais elas passam. O comportamento infantil é variado e diferente de criança para criança, logo não se pode seguir listas de atitudes. No entanto é fundamental tentar ter sempre uma postura firme, coerente e adaptada a cada situação, doseada de bom senso. A transmissão de valores, desde cedo, é essencial, mas é necessário haver coerência no agir, visto que as crianças imitam tudo o que veem. Quando proibimos uma criança de fazer ou dizer algo e na prática dizemos ou fazemos, torna-se difícil para ela perceber as instruções dos adultos, dado que não há conformidade entre o ser e o agir. Essa não compreensão leva as crianças a conflitos emocionais que, em determinadas situações, podem gerar birras. A birra, além de um manifesto de insatisfação, pode também ser falta de compreensão. É necessário conversar com a criança e tentar perceber o porquê de determinado comportamento. Agora surge o dilema, aplicar ou não castigo, que castigo aplicar e como? Preferencialmente, a educação deve ser "pela positiva”, no entanto, na minha opinião, deve haver castigos apropriados a cada situação, imediatamente após a ocorrência do comportamento não desejado e devem ser levados até ao fim. Se o adulto não cumprir com a sua palavra, a criança não vai percecionar a função do castigo. Pode haver muito choro e até vontade dos pais em desistir do castigo, mas se o fizerem, a criança percebe que dessa forma consegue manipulá-los e a consistência do castigo deixa de existir. Se o adulto prevê que não consegue levar o castigo até ao fim, porque foi demasiado rígido e/ou exigente e agiu por impulso, então é importante que converse com a criança e “renegoceie” o castigo, para que esta perceba que não houve desistência, apenas uma flexibilização do mesmo. Às vezes agimos por impulso e temos de reconhecer e voltar atrás nas nossas decisões. Se formos tolerantes, as crianças também vão aprender a sê-lo. Como disse anteriormente, não há receitas para disciplinar as crianças, mas deixo-vos umas breves orientações para lidar com as birras e promover um bom comportamento: - Se a birra for intensa, ignore-a (as emoções já estão ao rubro e o confronto só irá piorar, aguarde pelo momento certo para agir); - Tome uma atitude firme e coerente na hora do acontecimento (terá de atuar da mesma forma para comportamentos semelhantes, até a criança perceber que aquele não é o comportamento desejado); - Arranje uma forma de distrair a criança e desviar o assunto (assim, poderá fazer com que se esqueça da “fúria”); - Respire fundo e mantenha a calma, não ceda a “chantagens” nem a provocações (as crianças adoram testar a nossa paciência, se formos pacientes elas aprenderão também a sê-lo.); - Explique a razão da recusa ou do “não” (quando as regras de comportamento são bem explicadas às crianças, mais facilmente elas as apreendem); - Coloque-se ao nível da criança para falar com ela e olhe-a nos olhos (ela sentir-se-á mais segura e compreendida); A disciplina e as regras são também uma forma de amor. O amor é a nossa melhor “arma”. Quando as crianças se sentem amadas e compreendidas tudo é mais fácil. Passe tempo de qualidade com o seu filho e dê-lhe espaço para ser criança… O adulto deve ainda aceitar o seu filho como ele é, tentar conhecê-lo e compreendê-lo, só assim saberá a melhor atitude a tomar em cada momento e situação. Utilize o reforço positivo e o elogio sempre que há um comportamento correto, de forma a educar positivamente! |