MAIO 2013
CUIDE DOS SEUS OMBROS
Dr. Ferdinando Chaves – Fisioterapeuta
reabilitesse@sapo.pt

O Ombro é uma complexa “obra de engenharia” de entre todas as articulações do corpo humano, sendo constituído por cinco articulações: Gleno-umeral (AG), Subdeltoideia, Acromio-clavicular (AA), Esterno-clavicular (EC) e escápulo-torácica (ET) (Kapandji 2000).  

A articulação Gleno-umeral é uma articulação sinovial multiaxial, enartrose e realiza movimentos nos três eixos, sendo que devido ao seu potencial de mobilidade é intrinsecamente instável (Weisenthal, 2000; Levangie e Norkin, 2001). Está envolvida pela cápsula articular, ligamentos e músculos, ajudando a manter a articulação estável e coaptada durante os movimentos (Weisenthal, 2000; Levangie e Norkin, 2001). É constituída por uma superfície esférica, a cabeça do úmero, e por uma superfície côncava, a cavidade glenoide. Esta cavidade é uma estrutura irregular, pouco profunda e tem uma superfície articular menor que a cabeça do úmero diminuindo a sua estabilidade e segurança (Kapandji, 2000; Levangie e Norkin, 2001). A cavidade glenoide é aprofundada pelo debrum glenoide, aumentando a superfície desta, restabelecendo a congruência das superfícies articulares (Kapandji, 2000; Levangie e Norkin, 2001). 

A Coifa dos Rotadores consiste em quatro músculos, supra-espinhoso, infra-espinhoso, pequeno redondo e subescapular. As funções da coifa dos rotadores são a estabilização dinâmica da articulação do ombro e auxílio da rotação e abdução. O supra-espinhoso puxa a cabeça do úmero para a cavidade glenoide, permitindo o achatamento da articulação gleno-umeral. O infra-espinhoso e o pequeno redondo deprimem a cabeça do úmero e são rotadores externos. O subescapular realiza rotação interna e adução, deprimindo o úmero (Seeley, Stephens e Tate, 2003). Durante os movimentos diários, os músculos da coifa dos rotadores são suscetíveis a micro traumatismos repetidos, que podem resultar numa lesão estrutural. Muitas vezes, a fonte da lesão é a colisão da cabeça do úmero e da coifa dos rotadores com o arco coracoacromial, quando a AG é abduzida ou fletida, que se traduz em dores na região articular e peri-articular do ombro, limitação da mobilidade e um funcionamento não eficiente do braço (Santos e Bernardinelli, 2005).

A articulação Subdeltoideia não é uma articulação verdadeira do ponto de vista anatómico, mas sim do ponto de vista fisiológico. Esta articulação está mecanicamente ligada à AG, sendo que qualquer movimento desta última produz movimento na articulação subdeltoideia (Villafrancas, 2001).

A articulação acrómio-clavicular tem como principal função manter a relação entre a clavícula e a escápula no início da flexão do ombro e permitir à escápula mais rotação nos últimos momentos de flexão. Esta flexão refere-se à combinação do movimento escapular, clavicular e umeral (Kapandji, 2000).

A articulação externo-clavicular é formada pela união da extremidade externa na clavícula e o manúbrio do esterno, possui uma cápsula articular que circunda a articulação e que varia em espessura e resistência. Auxilia a cintura escapular em alguns movimentos (Kapandji, 2000).

A articulação escapulo-torácica não é uma articulação verdadeira em termos anatómicos, sendo uma articulação funcional. Os movimentos escapulares, estão associados a movimentos na EC e AA. Os músculos escapulares facilitam os movimentos da extremidade superior posicionando apropriadamente a AG (Hall, 2000).

Compreender como as diferentes estruturas anatómicas que constituem o ombro se ligam entre si, ajuda-nos a entender o funcionamento desta articulação, os mecanismos de lesão e o quanto é desafiadora a recuperação de um ombro lesionado. Se excluirmos as causas traumáticas, as principais causas de dor do ombro são as inflamações dos tendões (tendinites) e inflamações das bursas (bursites).

A dor, incómodo ou desconforto ao nível músculo-esquelético do ombro, deve-se sobretudo a situações e/ou postos de trabalho com elevadas exigências ao nível postural ou erros de postura, de aplicação de força excessiva para a qual os músculos não estão preparados, de repetições de movimentos/gestos ou à incorreta distribuição das pausas na atividade realizada. A dor ou desconforto do ombro é aceite como um indicador de situações de risco possíveis de se encontrarem na origem de lesões músculo-esqueléticas ligadas ao trabalho ou/a atividades físicas de lazer e desporto. 

As lesões por uso excessivo e sobrecarga do ombro representam má adaptação ao stress repetitivo e de sobrecarga de uma atividade. A lesão mais frequente é o síndrome de impingement do ombro (síndrome de compressão) que, de modo geral, é o resultado do efeito cumulativo de muitas passagens dos tendões da coifa dos rotadores sob o arco coracoacromial, durante o movimento de elevação do braço, levando a compressão ou impacto dessas estruturas.

Uma das formas mais económicas e mais fáceis de diminuir a incidência das lesões será a aplicação de um programa de prevenção. A prática de exercício físico regular, orientado por um profissional devidamente habilitado, poderá  minimizar os riscos de lesões músculo-esqueléticas. A fisioterapia tem uma atuação importante desde a prevenção até ao tratamento destas patologias. 


 


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