MAIO 2013
OS PAIS DO RECéM-NASCIDO
Enfª Vera Lúcia Pestana – Especialista em Saúde Infantil e Pediatria
veralgouveia@gmail.com

O nascimento dum bebé é um acontecimento em que a atenção, tanto dos profissionais como da família, se volta para esse novo membro. Os médicos e os enfermeiros avaliam as suas competências, no intuito de despiste de possíveis anomalias, avaliam o seu peso, a sua estatura, vacinam, tentam aliviar as suas dores (tais como as tão frequentes cólicas) e educam os pais sobre condutas adequadas, com vista a um desenvolvimento e crescimento saudável. Só nestas últimas décadas, através de vários estudos, nos apercebemos que os pais dos recém-nascidos deverão ser também um foco de atenção primordial, com vista ao bem-estar desse mesmo recém-nascido.

Viver a dois é muito diferente do que viver a três, somando-se todo o peso emocional dessa mudança. Esta mudança emocional ocorre num momento em que os pais estão a ser postos à prova no seu papel de pais e na mesma altura em que a mãe ainda vive uma turbulência de readaptação hormonal (que sensibiliza o seu humor). Esta nova mãe deverá recuperar por si só, rapidamente, assumindo e reassumindo vários papéis: de mãe, de mulher, de esposa, da filha de sempre, de amiga… Agrava-se o facto de já não poder usufruir do apoio, duma forma tão frequente como a desejada, da família alargada e das gerações mais velhas, levando-a a ter apenas o apoio do parceiro/pessoa significativa (salvaguardando-se a exceção de que a atual conjuntura, levou a que algumas famílias voltassem para a casa dos pais, beneficiando neste apoio). Apesar da felicidade sentida, esta é acompanhada duma grande ansiedade, ansiedade essa que serve para reunir energias para se adaptar a esta nova realidade que é cuidar dum bebé. Pais deprimidos, não conseguem responder às solicitações dum bebé.

O excesso de visitas e a dificuldade no cumprimento de rotinas, a falta de descanso, tão importantes nesta fase, são também um fator prejudicial.

Os enfermeiros, como profissão da saúde que mais perto está das populações, têm um papel fundamental, na triagem e despiste de possíveis situações negativas e no acompanhamento, no apoio e na educação, em grupos de apoio (oportunamente nas aulas de recuperação e de cursos de massagem infantil por exemplo) ou individuais, destes jovens casais. A estes pais, há que incutir confiança também no seu instinto; porquê tanto receio em pegar ao colo? Tocar, agarrar, comunicar é primordial para o equilíbrio dos três. Vejo muitos pais também que lutam para que o seu bebé não coloque o dedinho na boca. São logo alertados dos vícios, das manhas…será que, tal como Gonzalez (2005) refere tanto nos seus livros, não é melhor resolver manhas que traumas? Não será importante que os pais percebam que, tal como sucede com os animais, quando nascem as suas crias, querem-nas junto deles e isso não tem nada de mal? O calor humano é também um alimento indispensável para um desenvolvimento equilibrado. O facto de colocarem o dedinho na boca fá-los pontuar uma das suas primeiras conquistas…a capacidade de auto controlo, não dependendo de terceiros para se auto consolarem ou para recuperarem dum desconforto sentido. 

Pais de recém-nascidos pouco confiantes, vacilam na sua conduta e o seu bebé percebe, tornando-se mais reivindicativo. Em vez dos pais exercerem um esforço enorme para parar o choro do bebé, poderão aprender também a desenvolver outro objetivo realista, que é o de ajudar a acalmar-se a si próprios e recuperar o controlo. Cada família precisa de adaptar a sua rotina para amamentar, mudar a fralda, afagar, transportar ou cantar canções de embalar. Aprenderão gradualmente a saber o que é que resulta e quanto tempo o bebé precisa para se acalmar a si próprio. 

Por fim, há ainda que conciliar o bebé real com o bebé imaginário. Isto é, se o bebé que chegou é diferente do que imaginaram, os pais precisam do seu espaço, do seu tempo, da compreensão e do apoio dos profissionais e família.

Aprender a cuidar dum recém -nascido é um processo de longo prazo, em que os pais devem aprender a confiar neles próprios e ter o apoio e acompanhamento a que têm direito. Todos cometemos erros. Aprendemos mais à custa dos erros do que dos sucessos. Deixem que seja o vosso filho a dizer-vos se estão ou não a proceder da melhor maneira. Quando se está no caminho certo, o seu rosto mostra satisfação, o corpo encontra-se relaxado e as suas respostas são organizadas e previsíveis. Quando se está no caminho errado, as suas respostas são desorganizadas e inacessíveis. Desviará o olhar do vosso, pode ficar muito agitado e difícil de acalmar, o seu tom de pele poderá ficar avermelhado ou ligeiramente arroxeado, lábios crispados e o choro ser convulsivo. 

Cada maternidade é uma maternidade. Conciliar um novo bebé connosco próprios não é tarefa fácil. É preciso paciência, tolerância e uma atitude otimista e equilibrada, merecendo toda a ajuda que os profissionais conseguirem dar. 


 


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