Dra. Lucília Nóbrega - Psicóloga Dra. Patrícia de Castro - Técnica Superior de Política Social Delegação da Madeira, da Associação Alzheimer Portugal geral.madeira@alzheimerportugal.org Imagine um trabalho a tempo inteiro… que para conseguir completar todas as suas tarefas diárias necessitava que as 24 horas esticassem para muitas mais…. Um trabalho em que o descanso próprio, as suas amizades, as suas atividades de tempo livre fossem, simplesmente, desaparecendo do seu dia-a-dia… um trabalho que, apesar de tudo o que faça, poderá levá-lo a sentir-se perdido. Falamos do trabalho de cuidar, neste caso em particular, cuidar de alguém com doença de Alzheimer. O cuidador pode ser um familiar, amigo ou outra pessoa, que mantenha um contacto permanente com a pessoa que necessita de cuidados. Em geral, a pessoa mais próxima em termos geográficos ou relacionais é nomeada o cuidador principal. A doença de Alzheimer impõe grandes desafios para os cuidadores, que passam por um desgaste físico e emocional intenso e permanente. Conhecer e reconhecer os sinais de stress no cuidador, tanto por parte deste como de familiares e amigos, é o primeiro passo para começar a tomar medidas, de modo a evitar a sobrecarga e, consequentemente, prestar cuidados de qualidade. São apontados como sinais de stress: negação quanto à doença e seus efeitos; insónia; irritabilidade; dificuldades de concentração e de memória; problemas de saúde; exaustão; raiva para com o doente, de si mesmo e dos outros; isolamento social; ansiedade em encarar o dia-a-dia e o futuro; depressão. Como lidar então com o stress inerente à atividade de cuidar? É importante saber que, como cuidador, existem estratégias que podem aliviar um pouco e até mesmo prevenir estas situações frequentes de stress. Melhorar a saúde mental e física de um cuidador, é também uma forma de potenciar a qualidade de vida da pessoa que é cuidada. Eis algumas recomendações a ter em conta pelos cuidadores: - Informe-se o mais possível sobre a doença e a sua progressão; - Reconheça que a pessoa de quem cuida não é responsável pela doença; - Procure os serviços disponíveis e crie redes de apoio; - Cuide de si próprio; - Aceite o ritmo das mudanças; - Partilhe sentimentos com familiares e amigos; - Reconheça os seus próprios méritos; - Informe-se sobre as várias técnicas de relaxamento muscular, que é um fator chave para reduzir o stress; - Guarde um tempo para si. Deve identificar atividades que são relaxantes e dar a si próprio a permissão de poder realizá-las. Após essa permissão, deve fazer um horário semanal, onde deverá incluir pelo menos uma atividade relaxante por dia. Por mais simples que a atividade seja, se conseguir ter um momento de prazer e relaxamento diário, encontrou uma grande fonte de alívio do stress. É impossível e injusto pedir aos cuidadores que tenham de dar todo o cuidado possível e que tenham resposta para todas as situações. É por isso importante procurar ajuda junto de associações, tais como a Delegação da Madeira, da Alzheimer Portugal. Com as limitações próprias de uma Instituição Particular de Solidariedade Social, a Delegação disponibiliza serviços de apoio aos cuidadores, desde a informação e formação, ao apoio psicossocial, ao encaminhamento para as respostas que existem na Delegação e na comunidade, grupos de apoio e consultas de psicologia. Cuidar tem muitos aspetos positivos, que os próprios cuidadores admitem: tornaram-se pessoas mais sensíveis em relação aos outros, encontraram pontos fortes em si que não conheciam, desenvolveram um desejo forte para ajudar os outros. Ser cuidador pode conduzir a maiores níveis de satisfação na vida, como o sentir-se útil e sentir-se valorizado. Ser cuidador é um compromisso para muito tempo, mas nunca deve ser um caminho para se fazer sozinho. Testemunhos de cuidadores: “A Associação é um grande apoio para mim (…). O grupo de convívio é um importante momento de partilha de experiências com outras pessoas que passam por situações semelhantes. Tem-me permitido quebrar a rotina do cuidar, participando em diferentes atividades que proporcionam tardes muito agradáveis.” “Houve um momento em que finalmente compreendi que o meu pai não tinha culpa do que fazia. Era o seu cérebro que estava a falhar. Baixei as minhas expetativas e aceitei as mudanças. Levou muito tempo, e tive de ter muita paciência comigo e com o meu pai.” “O meu conselho é que aprendam tudo sobre a doença. Vai ficar assustado, mas terá uma ideia mais definida do que poderá esperar. Procure apoio. Seja honesto com os seus sentimentos e viva um dia de cada vez.” “Não se pode desistir. Devemos aceitar o nosso familiar tal como ele está. (…) Tente descobrir uma forma de fazer as coisas que gosta e de que precisa. Não podemos ajudar uma pessoa se não estivermos bem. E isso inclui dormir, divertir-se e não sentir culpa.” |