MARçO2013
A DOENçA DE ALZHEIMER: O DESAFIO DOS CUIDADORES
Dra. Lucília Nóbrega - Psicóloga
Dra. Patrícia de Castro - Técnica Superior de Política Social

Delegação da Madeira, da Associação Alzheimer Portugal
geral.madeira@alzheimerportugal.org

Imagine um trabalho a tempo inteiro… que para conseguir completar todas as suas tarefas diárias necessitava que as 24 horas esticassem para muitas mais…. Um trabalho em que o descanso próprio, as suas amizades, as suas atividades de tempo livre fossem, simplesmente, desaparecendo do seu dia-a-dia…  um trabalho que, apesar de tudo o que faça, poderá levá-lo a sentir-se perdido. Falamos do trabalho de cuidar, neste caso em particular, cuidar de alguém com doença de Alzheimer.

O cuidador pode ser um familiar, amigo ou outra pessoa, que mantenha um contacto permanente com a pessoa que necessita de cuidados. Em geral, a pessoa mais próxima em termos geográficos ou relacionais é nomeada o cuidador principal. A doença de Alzheimer impõe grandes desafios para os cuidadores, que passam por um desgaste físico e emocional intenso e permanente. 

Conhecer e reconhecer os sinais de stress no cuidador, tanto por parte deste como de familiares e amigos, é o primeiro passo para começar a tomar medidas, de modo a evitar a sobrecarga e, consequentemente, prestar cuidados de qualidade. São apontados como sinais de stress: negação quanto à doença e seus efeitos; insónia; irritabilidade; dificuldades de concentração e de memória; problemas de saúde; exaustão; raiva para com o doente, de si mesmo e dos outros; isolamento social; ansiedade em encarar o dia-a-dia e o futuro; depressão. 

Como lidar então com o stress inerente à atividade de cuidar? É importante saber que, como cuidador, existem estratégias que podem aliviar um pouco e até mesmo prevenir estas situações frequentes de stress. Melhorar a saúde mental e física de um cuidador, é também uma forma de potenciar a qualidade de vida da pessoa que é cuidada. 

Eis algumas recomendações a ter em conta pelos cuidadores: 

- Informe-se o mais possível sobre a doença e a sua progressão;
- Reconheça que a pessoa de quem cuida não é responsável pela doença; 
- Procure os serviços disponíveis e crie redes de apoio; 
- Cuide de si próprio; 
- Aceite o ritmo das mudanças; 
- Partilhe sentimentos com familiares e amigos; 
- Reconheça os seus próprios méritos;
- Informe-se sobre as várias técnicas de relaxamento muscular, que é um fator chave para reduzir o stress;
- Guarde um tempo para si. Deve identificar atividades que são relaxantes e dar a si próprio a permissão de poder realizá-las. Após essa permissão, deve fazer um horário semanal, onde deverá incluir pelo menos uma atividade relaxante por dia. Por mais simples que a atividade seja, se conseguir ter um momento de prazer e relaxamento diário, encontrou uma grande fonte de alívio do stress

É impossível e injusto pedir aos cuidadores que tenham de dar todo o cuidado possível e que tenham resposta para todas as situações. É por isso importante procurar ajuda junto de associações, tais como a Delegação da Madeira, da Alzheimer Portugal. Com as limitações próprias de uma Instituição Particular de Solidariedade Social, a Delegação disponibiliza serviços de apoio aos cuidadores, desde a informação e formação, ao apoio psicossocial, ao encaminhamento para as respostas que existem na Delegação e na comunidade, grupos de apoio e consultas de psicologia. 

Cuidar tem muitos aspetos positivos, que os próprios cuidadores admitem: tornaram-se pessoas mais sensíveis em relação aos outros, encontraram pontos fortes em si que não conheciam, desenvolveram um desejo forte para ajudar os outros. Ser cuidador pode conduzir a maiores níveis de satisfação na vida, como o sentir-se útil e sentir-se valorizado.

Ser cuidador é um compromisso para muito tempo, mas nunca deve ser um caminho para se fazer sozinho. 

Testemunhos de cuidadores:

“A Associação é um grande apoio para mim (…). O grupo de convívio é um importante momento de partilha de experiências com outras pessoas que passam por situações semelhantes. Tem-me permitido quebrar a rotina do cuidar, participando em diferentes atividades que proporcionam tardes muito agradáveis.”
 
“Houve um momento em que finalmente compreendi que o meu pai não tinha culpa do que fazia. Era o seu cérebro que estava a falhar. Baixei as minhas expetativas e aceitei as mudanças. Levou muito tempo, e tive de ter muita paciência comigo e com o meu pai.”

“O meu conselho é que aprendam tudo sobre a doença. Vai ficar assustado, mas terá uma ideia mais definida do que poderá esperar. Procure apoio. Seja honesto com os seus sentimentos e viva um dia de cada vez.”

“Não se pode desistir. Devemos aceitar o nosso familiar tal como ele está. (…) Tente descobrir uma forma de fazer as coisas que gosta e de que precisa. Não podemos ajudar uma pessoa se não estivermos bem. E isso inclui dormir, divertir-se e não sentir culpa.”


 


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