MARçO2013
ROSáCEA
A Rosácea é uma doença crónica da pele, de origem multifactorial, que se caracteriza por uma vermelhidão excessiva do rosto. O Dr. Tiago Esteves, médico dermatologista, fala em entrevista acerca dos factores ligados ao aparecimento desta doença e do seu tratamento.

Como se caracteriza a Rosácea?
A Rosácea é uma doença da pele, que se caracteriza por uma vermelhidão que normalmente começa no centro da face e depois progride para as zonas das maçãs do rosto, testa e queixo. Pode atingir tanto homens como mulheres de qualquer idade, no entanto é mais comum em mulheres entre os 30 e os 50 anos de idade. 

Para além da vermelhidão do rosto, quais os outros sinais e sintomas?
Normalmente, os sintomas começam com uma facilidade da pessoa em ficar ruborizada, em corar, que é uma situação que muitas vezes não é valorizada e que pode permanecer durante meses ou até anos, começando por vezes na juventude. Após esta fase, podem ocorrer várias alterações, nomeadamente a vermelhidão persistente no rosto, as pápulas eritematosas com ou sem pus (borbulhas rosadas), bem como o aparecimento de vasos sanguíneos na superfície da pele, as chamadas telangiectasias. Nos casos mais graves, sobretudo no sexo masculino, a deformação do nariz pode tornar-se evidente devido ao aumento do volume das glândulas sebáceas, dando-se a isto o nome de rinofima. Esta doença pode também afectar os olhos, com ardor, vermelhidão e sensação de corpo estranho: é a chamada Rosácea oftálmica. Apesar de estar descrito que esta forma de Rosácea pode ser frequente, na minha experiência é algo que tenho visto pouco.

Quais as causas desta doença?
A Rosácea tem origem multifactorial, ou seja, existem muitas causas. Sabemos que há uma predisposição genética, ou seja, quando há um historial de casos na família, a pessoa tem uma probabilidade aumentada de vir a ter a doença. No entanto, existem também outras causas, como por exemplo: alterações emocionais (stress); alterações hormonais – nomeadamente na gravidez, menstruação e na menopausa; a exposição solar excessiva; a ingestão de bebidas alcoólicas; determinadas profissões (tais como cozinheiros, devido ao calor excessivo a que estão sujeitos); a utilização de alguns medicamentos, entre outros. Todos estes factores agravam a doença, podendo também despoletá-la, pelo que é importante que as pessoas que têm algum historial familiar, e por isso uma maior predisposição genética, tenham desde cedo atenção a eles. Pessoas que têm uma facilidade em corar, com posterior aparecimento de vermelhidão persistente e borbulhas, devem consultar um dermatologista. Por vezes, pessoas de 40 ou 50 anos aparecem na consulta, dizendo “eu nunca tive acne e agora apareceu-me com esta idade”. Pode, na verdade, não ser um caso de acne, mas sim de Rosácea. Por vezes, o que diferencia as duas patologias é que na acne, aparecem pontos negros, o que não sucede no caso da Rosácea. Na consulta, efectuamos uma história clínica completa, incluindo os antecedentes familiares, contudo sem esquecer todas as outras possíveis causas desta doença.

Como é o tratamento desta doença?
Antes de começar com a medicação propriamente dita, é importante que os pacientes tenham atenção relativamente ao que devem fazer ao nível do seu estilo de vida, nomeadamente, devem evitar a exposição solar prolongada e usar protector solar com um factor de protecção acima de 30. Isto não apenas para as idas à praia, no Verão, mas sim todo o ano. Principalmente aqui na Madeira, as pessoas precisam de interiorizar que devem usar protector solar o ano inteiro, inclusive no Inverno. E se isto é verdade para toda a gente, especialmente pessoas que têm a pele muito clara, é algo que toma particular importância no caso das pessoas que têm Rosácea, podendo mesmo considerar-se obrigatório neste caso. Os pacientes devem também evitar variações bruscas de temperatura, pois esse também é um factor desencadeante: por exemplo, quando passam de um ambiente muito quente para um ambiente muito frio, devido ao ar condicionado, ou então no Inverno, em que passam de ambientes externos muito frios para ambientes interiores aquecidos (lareiras). A dieta também é importante: deve evitar-se todos os alimentos condimentados (picantes), bem como bebidas alcoólicas, sendo também importante reduzir o consumo de cafeína. Por outro lado, deve evitar-se tomar bebidas quentes, pois a ruborização pode agravar-se. Se ao nível da dieta e do estilo de vida, a pessoa tomar as precauções devidas, isso já terá um impacto muito substancial no controlo da doença. Também é muito importante que as pessoas evitem a auto-medicação, estando esta contra-indicada: por vezes, compram cremes à base de cortisona, os corticoesteróides, e estes dão uma falsa sensação de melhora. No início até pode melhorar, mas depois há um agravamento da Rosácea, podendo levar mesmo ao que nós chamamos de Rosácea cortisónica. Logo, está contra-indicado o uso de corticosteróides tópicos na Rosácea.

Que medicação pode ser utilizada?
Na consulta, para além de aconselharmos as pessoas a alterarem alguns dos seus estilos de vida, elaboramos também um plano terapêutico individualizado para cada doente. De acordo com o grau da Rosácea, o tratamento passará por uma medicação tópica, com cremes ou géis à base de antibióticos (eritromicina, metronidazol, entre outros). Em casos mas graves, podemos usar comprimidos (medicação sistémica). Com esta terapêutica (tópica e oral), conseguimos controlar grande parte dos casos de Rosácea. No entanto, há uma pequena percentagem de casos, em que os doentes permanecem com uma vermelhidão persistente e/ou telangiectasias a nível do nariz e maçãs do rosto. Assim sendo, a solução que temos é usar o Laser ou Luz Intensa Pulsada, com resultados clínicos muito satisfatórios. De acordo com a minha experiência, na grande maioria dos casos de Rosácea, é necessário conjugarmos os vários métodos de tratamento (aconselhamento clínico, terapêutica tópica, oral e tratamento com Laser).
 
É possível a cura para a Rosácea?
Trata-se de uma doença crónica, pelo que não existe cura definitiva, mas em muitos casos, se as pessoas evitarem os factores agravantes e se mantiverem uma medicação adequada, é possível controlar muito bem a Rosácea e viver praticamente sem crises, embora saibamos que, de vez em quando, elas poderão ocorrer. O mais importante aqui é referir que as pessoas devem procurar sempre um especialista. A Rosácea não se diagnostica com análises de sangue, mas sim através de um exame clínico feito por um médico dermatologista, que é o profissional de saúde com mais experiência para diagnosticar e tratar a Rosácea, e quanto mais cedo começar a ser tratada, melhor. 

Quais as consequências em caso de não tratamento?
No fundo, há um aspecto muito importante, que é o estigma social. As pessoas sentem-se desconfortáveis por corar com muita facilidade, sem saber que até podem resolver a situação. Em termos psicológicos, acaba por afectar o indivíduo a nível social, em alguns casos até mesmo a nível de emprego, pois afecta a auto-confiança. As pessoas pensam muitas vezes que esta é uma questão estética e que, por via disso, é menos importante, mas toda esta parte social tem um impacto na nossa vida que não pode ser ignorado e que, no limite, pode fazer com as pessoas tenham vidas menos felizes e se sintam menos realizadas. Nos casos mais graves, com deformação do nariz, este factor acaba por ter ainda mais impacto. É preciso que as pessoas tenham conhecimento de que existe solução: o Laser é um dos tratamentos de eleição para a rinofima, e por vezes, com uma ou duas sessões de tratamento, conseguem alcançar-se resultados assinaláveis. 

Quantas pessoas têm esta doença aqui na Região?
É difícil fazer essa estimativa, uma vez que não existem estatísticas oficiais ao respeito. Nas consultas, eu diria que cerca de 5% a 10% dos casos que vemos serão de doentes com Rosácea. Mas depois, existem com certeza imensos casos de doentes que não estão diagnosticados e que nem sequer pensam em procurar ajuda, pois assumem que é algo constitucional. Penso que é importante as pessoas pelo menos saberem que esta doença tem tratamento e que, se consultarem um dermatologista, poderão ver uma melhoria significativa e ficarem sem lesões. A Rosácea pode ser muito bem controlada se as pessoas evitarem os factores agravantes e seguirem à risca a medicação prescrita. Em alguns casos, quando nada se pode fazer, ou já se tentou de tudo, a camuflagem com maquilhagem adequada também pode ser uma alternativa.

Que maquilhagem pode ser utilizada?
Existem no mercado opções de maquilhagem específica para peles sensíveis. Como a Rosácea dá uma certa coloração vermelha, as maquilhagens à base da cor verde conseguem neutralizar esse vermelho. Neste caso, não se está a tratar a doença, mas pode ser importante esta camuflagem, para permitir que a pessoa se sinta bem em situações sociais e é uma solução de recurso que está disponível para aqueles casos raros, mais graves, em que usámos todo o arsenal terapêutico disponível e não se conseguiram resultados significativos. É preciso também sublinhar que as pessoas que têm Rosácea devem evitar a todo o custo a utilização de cosméticos irritantes, pois a sua pele é hipersensível: por exemplo, devem ser evitados determinados sabões, como o sabão azul, que seca muito a pele. Devem ser utilizados cremes hipoalergénicos, testados dermatologicamente e aptos para pessoas com Rosácea, sendo que há muitas alternativas no mercado. 


 


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