JANEIRO 2013
EMIR: DEDICAçãO SEM LIMITES AO SERVIçO DA POPULAçãO
Ao longo dos últimos 14 anos, a Equipa Médica de Intervenção Rápida (EMIR), de mãos dadas com o Serviço Regional de Proteção Civil, tem prestado à população madeirense o serviço de emergência médica pré-hospitalar. O Dr. Eugénio Mendonça, coordenador do Serviço de Emergência Médica Regional (SEMER), fala em entrevista da atividade da EMIR e dos desafios que se colocam diariamente aos seus profissionais. 

Como está organizada a EMIR?
A EMIR tem ao seu serviço 16 médicos e 12 enfermeiros. Historicamente, iniciou a sua atividade a 20 de Março de 1999 e, até hoje, nunca falhou um turno por falta de pessoal médico ou de enfermagem. É uma situação histórica quando comparado com Portugal Continental e mesmo com várias outras zonas da Europa. A EMIR surgiu por vontade expressa de uma série de médicos e enfermeiros que, trabalhando a nível nacional no INEM, entenderam que a Região Autónoma da Madeira, por ser uma região turística e por ter uma rede de cuidados de saúde primários abrangente, merecia uma equipa médica que fizesse a abordagem pré-hospitalar, o chamado socorro diferenciado fora do Hospital. A lei nacional é obsoleta, uma vez que a portaria nacional que regulamenta esta atividade determina que o INEM tem intervenção única e exclusivamente no território de Portugal Continental, deixando de fora as regiões autónomas da Madeira e Açores. Ou seja, havia um vazio, que no entendimento de médicos e enfermeiros, conjugado com a vontade política na altura, levou à constituição de uma equipa, à qual se decidiu chamar Equipa Médica de Intervenção Rápida (EMIR). Esta passou a estar na abrangência do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros da Madeira, numa ligação próxima com as nossas corporações de bombeiros. Entretanto, em 2006 surgiu o Serviço de Emergência Médica Regional (SEMER), que passou a regular a atividade de emergência pré-hospitalar. Para além da EMIR, inclui um departamento de formação, que é responsável por dar formação aos bombeiros, às escolas e a toda agente que queira saber prestar socorro, e um departamento ligado à desfibrilação automática externa. 

Em termos de recursos humanos, os meios estão adequados às necessidades da Região?
Neste momento, dispomos de uma densidade técnica mais do que suficiente para dar resposta aos turnos que temos. De sublinhar que, os médicos que integram a EMIR são todos especialistas, com muitos anos de especialidade, o que nem sempre é o caso no INEM. A título de exemplo, temos na nossa equipa, o diretor do Serviço de Urgência do Hospital, o diretor dos Cuidados Intensivos, cirurgiões cardiotorácicos do Hospital, etc. Isto acontece por uma questão de estratégia, de vontade técnica e ao fim ao cabo, de boa vontade política. As equipas são sempre constituídas por um médico e por um enfermeiro, também ao contrário do que sucede ao nível do INEM, em que as equipas muitas vezes incluem apenas um técnico de emergência, que não é nem médico nem enfermeiro, ou então apenas um enfermeiro. 

Como funciona a coordenação com os bombeiros?
Há uma comunicação muito próxima com os bombeiros, que é feita através da nossa central. De resto, somos nós que fazemos a formação dos bombeiros, tanto ao nível de Suporte Básico de Vida, como uma formação diferenciada chamada Suporte Básico de Vida com Desfibrilhação Automática Externa (DAE). Existe ainda outra formação, designada Técnico de Ambulância de Socorro, que é de 210 horas. Nós fazemos o programa, sendo que estamos certificados para o efeito, e auditamos permanentemente os bombeiros, uma vez que o socorro normalmente é feito por eles: costumam ser eles o primeiro patamar de auxílio. Neste momento, temos oito corporações de bombeiros, com 16 ambulâncias, que podem estar todas ao serviço, ao passo que nós somos apenas uma equipa, pelo que temos de fazer uma triagem rigorosa, de modo a podermos acudir nas situações que requerem um socorro mais diferenciado. Quando adivinhamos, pela chamada, que existe uma situação periclitante, a nossa equipa sai imediatamente para o local, mas noutras situações esperamos que os bombeiros cheguem ao local e depois, em caso de necessidade, vamos ao seu encontro. Acompanhamos também muitas vezes o socorro através do ecrã ou do telefone, aconselhando a pessoa no local relativamente ao que deve fazer. Também é comum auxiliarmos os colegas dos Centros de Saúde em relação ao melhor curso de ação. Há um acompanhamento muito próximo, uma vez que também somos nós que fazemos formação dos médicos e enfermeiros dos Centros de Saúde.

A boa comunicação entre todas estas entidades é fundamental para o sucesso?
O espírito de equipa que se consegue a nível da EMIR, dos bombeiros e dos Centros de Saúde é fundamental, no sentido de não se valorizar o trabalho de um em detrimento do outro: o médico e o enfermeiro são tão importantes como o bombeiro, o popular, o colega que está no Centro de Saúde ou o colega que está na Urgência do Hospital. O êxito de um socorro tem muito a ver com este encadeamento e com uma boa comunicação. Infelizmente, o êxito no pré-hospitalar nem sempre pode ser atingido, porque estamos a falar muitas vezes do limiar da vida humana. Isso traz uma responsabilidade acrescida a todos os intervenientes. O que tenho vindo a verificar é que temos pouco mediatismo, mas no limite, talvez o facto de não falarem muito de nós seja positivo, pois significa que as coisas estão a correr bem. 

Quantos salvamentos fazem, em média, por ano?
Nos últimos quatro a cinco anos, temos tido, em média, 500 a 600 saídas por ano, ou seja, cerca de duas por dia. As paragens cardiorrespiratórias são muito frequentes e outra coisa que acontece com muita rotina são os acidentes nas levadas, sobretudo envolvendo turistas idosos, que não estão devidamente preparados e “arriscam” demasiado. Também é comum sermos chamados devido a intoxicações. Há dias em que não temos saídas, mas temos as intervenções indiretas à distância. Por exemplo, um colega que está no Porto Santo, com um doente com uma crise hipertensiva, uma crise asmática, ou com uma dor no peito, pode solicitar-nos orientação no tratamento, ou o acompanhamento do mesmo, e nós aconselhamos e seguimos à distância o transporte do doente. Quando um doente é evacuado de Santana, ou da Ribeira Brava, por exemplo, o colega do Centro de Saúde informa a EMIR que o doente está estável e segue em determinada ambulância, e nós mantemos contacto com essa ambulância, para caso aconteça alguma coisa, irmos de imediato ao seu encontro. Isto é um serviço menos visível, mas nem por isso menos importante.

As equipas da EMIR recebem formação específica?
Para além da formação básica, que todos os médicos têm, temos um curso de emergência a vários níveis: trauma, socorro em montanha, socorro em túneis, socorro no mar e socorro aéreo. Por exemplo, temos duas equipas que fazem escalada e duas equipas formadas em catástrofes. Aliás, gostaria de salientar que temos formadores em catástrofes, a nível europeu, a trabalhar na EMIR. Também existem equipas médicas treinadas em acidentes em túneis: temos vindo a mandar um médico e um enfermeiro a Oviedo (Espanha), uma semana por ano, juntamente com alguns bombeiros, para terem formação sobre aspetos cruciais que lhes permitirão atuar num sinistro num túnel, algo que requer formação própria. Esta estratégia formativa é montada não apenas pela EMIR ou pelo SEMER, mas pela própria presidência do Serviço de Proteção Civil, nomeadamente na pessoa do Coronel Luis Neri, que juntamente com o Tenente Coronel Pedro Barbosa, tem trabalhado muito para fornecer-nos a possibilidade de termos formação nas áreas específicas em que sentimos haver essa necessidade.

Como é que a EMIR respondeu a situações críticas, como o 20 de Fevereiro ou os incêndios do último Verão?
Os médicos e enfermeiros que trabalham na EMIR são pessoas de carne e osso e as emoções às vezes também tomam conta de nós, especialmente quando estamos a tratar de situações de sofrimento humano a nível de massas, ou quando envolvem crianças. No caso do 20 de Fevereiro, o mais grave, no que diz respeito à ansiedade vivida pelo socorro, tinha a ver com a impossibilidade física de chegar a alguns locais. Chegámos a deslocar uma equipa médica num helicóptero para o Curral das Freiras, com condições mínimas, e tivemos sete ou oito equipas a trabalhar no terreno, em condições terríveis. Os incêndios do Verão passado também foram vividos de uma maneira muito intensa: ao fim de duas horas de incêndio, tínhamos uma tenda montada junto ao parque de revisões de viaturas no Canto do Muro, com uma equipa médica, acolhendo as pessoas que precisavam de algum tipo de auxílio, inclusive de apoio psicológico. Tivemos equipas a trabalhar em permanência nos cinco dias de incêndio, a se deslocarem para os locais para apoiar as pessoas. Penso que não se podem colocar dúvidas sobre a nossa disponibilidade e temos muitos outros exemplos que poderiam ser apontados: ainda há pouco tempo, tivemos um socorro em que foi salvo um indivíduo que estava num navio de cruzeiro. Deslocámos ao navio uma equipa médica, que teve de andar 4h30m de helicóptero, uma vez que o navio estava a 700 milhas do arquipélago da Madeira. O indivíduo veio no helicóptero intubado, ligado a máquinas sob o nosso controlo, e teve alta cinco dias depois, para o seu país de origem. Tivemos de arranjar uma equipa médica para se deslocar ao navio e outra para ficar de prevenção, para o caso de necessidade por parte da população local. 

A população está bem informada quanto ao recurso aos serviços de emergência?
Acontece, por vezes, sermos solicitados para resolver situações de pouca relevância em termos de emergência. Mas temos de aceitar isto, porque é normal os indivíduos darem muita importância às suas situações particulares, que envolvem familiares ou pessoas amigas, devido ao seu envolvimento emocional. Temos de saber tolerar, acalmar a pessoa pelo telefone, procurar saber se as coisas estão controladas e dar instruções de acordo com o relato que nos é feito da situação, enquanto não chegam os bombeiros. Quando estes chegam, fazem sempre a avaliação da situação, nomeadamente se precisam ou não do nosso apoio. Se a pessoa respira, se está a falar, a salvaguarda da vida humana está orientada. Também há alguns casos de chamadas de “brincadeira”, mas que não são de todo frequentes, pelo que não considero que sejam estatisticamente relevantes.

A situação de crise que vivemos tem afetado a EMIR?
Felizmente, temos um presidente do serviço, o Coronel Neri, que tem sabido “gerir” a crise. De resto, este nunca foi um serviço de esbanjamento, sempre teve muitas regras e limitações. Também é importante termos uma equipa que aceita essas regras, sem criar conflitos, nem colocar barreiras: estou convicto de que as pessoas estão aqui porque amam a causa da emergência pré-hospitalar. Também gostaria de sublinhar o papel da Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, que tem sido, nomeadamente através do Sr. Secretário, Dr. Francisco Ramos, um apoio fundamental. O espírito que defendemos, enquanto equipa, é um espírito de competência, de rigor e de disciplina. Os nossos objetivos para os próximos anos passam por permitir que as pessoas tenham cada vez mais informação sobre como comportar-se nas situações de emergência. Queremos continuar a transmitir estes conhecimentos, com ênfase nas escolas, e associar a isto uma integração numa nova estrutura física que o serviço está a construir na Cancela e que irá substituir as nossas instalações atuais, que se situam na Quinta Magnólia.


 


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