NOVEMBRO 2012
DENGUE
O dengue é um vírus que se transmite através da picada do mosquito Aedes aegypti, e que tem vindo a gerar uma preocupação crescente na Região Autónoma da Madeira. A Dra. Maria Alice Romão, médica especialista em Saúde Pública e Delegada de Saúde para o Município de Santa Cruz, fala em entrevista acerca desta doença, com destaque para os sinais e sintomas que podem ajudar a identificar precocemente a doença e para as medidas que podem prevenir a proliferação do mosquito.

Como se caracteriza a infecção provocada pelo vírus do dengue?
É uma infeção provocada por um flavivírus, e transmite-se através da picada dos mosquitos do género Aedes, particularmente Ae. aegypti, infetados com o vírus. São conhecidos quatro serotipos do vírus distintos, mas intimamente relacionados: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. 

Como se faz a transmissão do dengue?
A transmissão ocorre quando um mosquito fêmea pica uma pessoa com Dengue (no período de um dia antes até cinco dias após o aparecimento dos primeiros sintomas) na fase de virémia (presença do vírus no sangue). Os vírus vão localizar-se e multiplicar-se no aparelho digestivo e glândulas salivares do mosquito fêmea, que após oito a 12 dias está pronta para transmiti-lo a todas as pessoas que picar pelo resto da sua vida, que poderá ser dias ou semanas. Após três a sete dias, podendo prolongar-se até 14 dias da picada pelo Aedes aegypti infetado, surgem os primeiros sintomas de Dengue. Todas as pessoas são suscetíveis aos quatro serotipos da doença, ou seja, não têm proteção natural contra os vírus. A primo infeção confere imunidade permanente apenas para o serotipo que a causou, mantendo-se o indivíduo vulnerável a infeção pelos outros três serotipos. Subsequentes infeções causadas por outros serotipos aumentam o risco de dengue grave.

É possível ocorrer a transmissão sem ser através da picada do mosquito aedes aegyptus
Não. Nomeadamente, não ocorre transmissão pessoa a pessoa. Não há transmissão por contato direto de um doente ou das suas secreções com uma pessoa sadia, nem por intermédio de água ou alimento. O dengue transmite-se exclusivamente pela picada dos mosquitos infetados com o vírus. 

Como se manifesta o dengue?
Qualquer um dos quatro serotipos de vírus dengue provoca um vasto espectro de doença no homem, desde casos assintomáticos, à febre de dengue clássica e a casos mais severos. A febre de dengue clássica é a forma mais frequente da doença. O quadro clínico é muito variável, apresentando sintomas como: Febre alta (39 a 40ºC) de início abrupto, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular), artralgia (dor nas articulações), prostração (desânimo), astenia (fraqueza), dor retro-ocular (dor no fundo dos olhos), náuseas, vômitos, exantema (manchas vermelhas na pele). Mais raramente, podem ocorrer pequenas manifestações hemorrágicas como: petéquias (pequenos pontos arroxeados), epistaxis (hemorragia pelo nariz), gengivorragias (hemorragia nas gengivas), hemorragia do tubo digestivo, hematúria (sangue na urina) e menometrorragia (mulheres em idade fértil). A doença evolui habitualmente para a cura, se bem que o período de convalescença, com fadiga, possa prolongar-se. No dengue grave, ou como é mais conhecido, no dengue hemorrágico, os sintomas iniciais são os mesmos do dengue clássico. Há um agravamento do quadro no terceiro ou quarto dia da doença, com dor abdominal e manifestações hemorrágicas em função da saída de plasma dos vasos, causando insuficiência circulatória. Esses sintomas, agravados, podem levar a um quadro de choque, causando a morte, ou levar à recuperação após o tratamento apropriado. O dengue na criança pode ser assintomático ou apresentar-se com sinais e sintomas inespecíficos: adinamia, sonolência, recusa da alimentação e de líquidos, vómitos, diarreia ou fezes amolecidas. Os pais devem estar alerta, valorizar e reconhecer precocemente qualquer alteração na saúde dos seus filhos.  

Como é feito o diagnóstico do dengue? 
Exige a conjunção de critérios clínicos e, obrigatoriamente, do critério epidemiológico, ou seja, para além da febre e de pelo menos dois sintomas descritos anteriormente terá de haver a picada do mosquito nos 14 dias anteriores ao início dos sintomas. O diagnóstico será confirmado laboratorialmente.

O que deve fazer uma pessoa que suspeita que tem dengue? 
Com o aparecimento dos primeiros sintomas, será importante dirigirem-se de imediato ao seu médico assistente, pois há medicamentos que estão contra-indicados para quem tem infeção por dengue, como o ácido acetilsalicílico (ex. Aspirina) e anti-inflamatórios não esteróides (ex. Brufen), pelo perigo de hemorragia e de síndroma de Reye. Só o médico, de acordo com a história clínica do doente, saberá aconselhar adequadamente quais os medicamentos que poderão ser tomados. 

Em que consiste o tratamento?
Não há tratamento específico para a doença, nem vacina contra o vírus do dengue. As pessoas que julgam ter contraído a doença devem utilizar, no controle da febre, o paracetamol, ingerir bastantes líquidos, para prevenir a desidratação e repousar. Devem também evitar serem picados por mosquitos, enquanto estão febris, e consultar um médico. Também não há medicação específica para o dengue grave. Se o diagnóstico clínico for feito numa fase precoce da doença, qualquer profissional de saúde será capaz de tratar o dengue hemorrágico de forma eficaz. Geralmente, o tratamento do dengue hemorrágico obriga a internamento hospitalar.

Em que casos se opta pelo internamento hospitalar?
Apenas uma parte dos doentes, no período imediatamente após o desaparecimento ou a modificação do padrão de febre, desenvolverão quadros com complicações que obriguem ao internamento hospitalar. O dengue hemorrágico é uma situação clínica grave, que exige internamento hospitalar e por vezes, transferência para unidades de cuidados intensivos, por situação de choque associado ao dengue. É aconselhável dirigirem-se imediatamente a um centro de saúde ou serviço de urgência caso algum dos seguintes sinais apareça:
Dores abdominais intensas ou vómitos persistentes; 
Pontos ou manchas vermelhas na pele;
Hemorragia nasal ou das gengivas; 
Vómitos sanguinolentos; 
Fezes escuras; 
Vertigens ou irritabilidade;
Pele pálida ou húmida; 
Dificuldades em respirar.

Que medidas podem ser tomadas para prevenir a doença? 
O dengue é essencialmente uma doença urbana porque o seu principal vetor, Aedes aegypti, encontra-se no ambiente peridomiciliar, logo as medidas de saneamento ambiental representam o meio mais eficaz no controle dos mosquitos e são uma responsabilidade coletiva. Como o mosquito do dengue põe os seus ovos nas paredes de recipientes com água, a melhor maneira de reduzir os mosquitos será eliminar todos os possíveis criadouros (locais onde frequentemente ocorre a criação de Aedes aegypti) para reduzir substancialmente os habitats reprodutivos do mosquito. Nomeadamente, deve-se:
- Retirar os pratinhos dos vasos das plantas;
- Eliminar qualquer objeto, por menor que seja e que possa acumular água. Devem ser colocados em sacos de plástico, e estes fechados e colocados no lixo;
- Esvaziar e remover contentores que não são usados, como pneus velhos, latas, vasos de plantas, alguidares, tanques de roupa, bidões, bebedouros de animais, etc;
- Cortar regularmente as ervas altas que possam reter águas;
- Remover as barreiras para que a água possa correr livremente;
- Selar ou tapar com rede fina tanques ou fossas onde as águas possam ficar estagnadas;
- Tapar os depósitos de água;
- Retirar ervas circundantes de pequenos charcos que constituem locais preferenciais de criação de larvas ou disseminar peixes predadores de larvas de mosquitos (Guppies de água fria);
- Retirar ervas circundantes de lagos, renovar a água periodicamente ou disseminar peixes predadores de larvas de mosquitos (Guppies de água fria); 
- Facilitar a drenagem dos aterros sanitários através de um declive apropriado;
- Se tiver que guardar grandes contentores ou objetos de grandes dimensões, como barcos, tanques piscinas de montar, deve cobri-los, virados ao contrário em local onde não haja a possibilidade de acumular água;
- Fazer uma vistoria assídua ou pelo menos semanal ao jardim, quintal, varanda e outros espaços externos da residência para verificar se não possui potenciais criadouros: desníveis de pavimentos, floreiras, buracos ou axilas das árvores, eliminando, corrigindo ou preenchendo os mesmos; 
- Certificar-se que as caleiras não estão a reter água e cobrir as grelhas de escoamento com rede fina para que os mosquitos não possam a elas aceder.
O Aedes aegypti costuma picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol, mas mesmo nas horas quentes, pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Para se proteger, deverão ser tomadas precauções individuais:
- Usar roupa larga, de cor clara que proteja a maior superfície possível do corpo (calças e mangas compridas e pés cobertos); 
- Aplicar repelente que contenha 20% a 30% de DEET (NN-dietil-m-toluamida), sempre que sair de casa, principalmente no início da manhã e fim da tarde. O repelente deve ser aplicado segundo as instruções do fabricante; as crianças e as grávidas devem aconselhar-se junto do seu médico assistente.
- Deverá ser evitado permanecer em zonas ao ar livre nos períodos do dia de maior atividade vetorial, preferindo espaços fechados com ar condicionado. 
- Usar redes de proteção nas janelas e portas das casas, sobre os berços, carrinhos e camas dos bebés.
Se alguém estiver doente com dengue, devem ser tomadas precauções extras para evitar que os mosquitos piquem o paciente, passando depois a picar outros membros do agregado familiar.

Quais podem ser as consequências em caso de não tratamento?
A doença é passível de uma evolução favorável, sempre que houver o reconhecimento precoce dos sinais e sintomas de alarme que indicam a tendência para as formas mais graves. O sucesso do tratamento do paciente com dengue está no conhecimento precoce desses sinais de alarme. 


 


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