Dr. Paulo Araújo – Médico Veterinário vetfunchal@mail.telepac.pt A epilepsia canina é uma condição crónica que se caracteriza por crises convulsivas recorrentes. Convém salientar que epilepsia não é uma doença, mas sim um sinal clínico, geralmente indicativo de uma desordem a nível do sistema nervoso central. As crises epilépticas caracterizam-se por três fases: fase pré-ictal, que é o período em que o animal apresenta um comportamento alterado (ex.: nervosismo, inquietação, salivação excessiva, tremuras), que pode demorar entre alguns segundos a algumas horas; fase ictal, o período em que acontece a convulsão propriamente dita, que pode demorar entre alguns segundos a 5 minutos (mais de 5 minutos já não se trata de uma crise epiléptica, mas sim um “status epilepticus”, situação com grande gravidade que pode inclusive levar à morte do animal ou fazer com que fique com lesões cerebrais irreversíveis); e por fim uma fase pós-ictal em que o animal apresenta alguma desorientação, agitação, dificuldades na marcha e eventualmente cegueira temporária (não existe correlação directa entre a gravidade da convulsão e a duração desta fase). As convulsões são dos problemas neurológicos mais frequentes nos cães e podem apresentar um ou a combinação de vários dos seguintes sintomas: • Perda ou perturbação da consciência; • Contracção de algum ou de vários músculos do corpo; • Alterações da percepção mental; • Micção involuntária, defecação ou salivação; • Alterações de comportamento, incluindo não reconhecimento do proprietário, agressividade e movimentos em circulo. Um dos maiores desafios com que se depara o veterinário é determinar, quando um animal teve convulsões, se estas são ou não de natureza epiléptica. O diagnóstico de epilepsia idiopática (primária) faz-se por exclusão, pois existem várias causas intra e extra cranianas que podem despoletar crises convulsivas. Para facilitar o diagnóstico, o proprietário deverá, sempre que possível, filmar o episódio, de modo a que o veterinário o possa visualizar, porque por muito fiável e pormenorizada que seja uma descrição, “uma imagem vale mais que mil palavras”. Episódios de síncope, cataplexia e de enfermidades neuro-musculares podem ser muito semelhantes a uma crise convulsiva aos olhos do proprietário. É também fundamental que o proprietário faça um registo da frequência e duração dos episódios, pois estas duas variáveis assumem grande importância no que diz respeito ao início da terapêutica anti-epiléptica. Após a visualização do episódio, o veterinário deve realizar um exame neurológico, cardiovascular e sanguíneo, de forma a excluir todas as causas possíveis das convulsões. Muitas vezes, quando se suspeita de uma causa intra-craneana, é necessário recorrer a exames complementares de diagnóstico mais sofisticados, como sejam o TAC ou mesmo uma RM. A epilepsia idiopática não tem cura, mas é controlável na maior parte dos casos, exigindo no entanto tratamento para toda a vida e doseamentos regulares do nível sanguíneo do medicamento utilizado. É muito raro haver uma completa falta de resposta à medicação anti-epiléptica. Uma vez iniciada a medicação, esta deverá ser efectuada de uma forma contínua, pois a sua interrupção poderá contribuir para o reaparecimento das convulsões, de uma forma mais forte e de difícil controlo. Por fim, apesar dos sinais dramáticos de uma convulsão, o seu cão está inconsciente durante a crise e não tem qualquer tipo de dor. Não deve, em momento algum, tentar colocar a sua mão na boca do animal, pois poderá ser mordido com alguma gravidade. A única coisa que poderá e deverá fazer é certificar-se que o animal não se encontra numa posição em que se possa magoar, por exemplo, perto de uma escada ou próximo de algum objecto no qual possa bater durante o ataque. Quando o seu animal entra em convulsão, deve aguardar que a mesma termine, desde que não exceda os 5 minutos, e esperar que recupere o mais tranquilamente possível e só depois dirigir-se ao seu veterinário assistente. Se a crise durar mais de 5 minutos, ou se as crises se estiverem a repetir de uma forma quase contínua, então sim, deve contactar e transportar o cão para a clínica veterinária o mais rapidamente possível. |