OUTUBRO 2012
ABUSO SEXUAL DE MENORES
Dra. Marisa Alexandre e Dra. Mary Abreu 
Psicólogas Clínicas

Os nossos filhos devem ter medo do bicho-papão ou será que devem temer o pai natal?

A nossa geração cresceu a ouvir “tem cuidado com pessoas que não conheças”, “não aceites nada de ninguém desconhecido”, “come tudo, se não o bicho-papão aparece”. O bicho-papão consistia na personificação do medo, um ser mutante que podia assumir qualquer forma de bicho ou animal, frequentemente de aspecto monstruoso, que comia crianças, um “papa-meninos”, quando estas eram “malcriadas”. Éramos preparados para ter medo do desconhecido e do estranho, enquanto tudo o que nos era familiar podia ser seguro e fiável. 

De facto, nos tempos atuais, para proteger os nossos filhos, não podemos usar os mesmos argumentos. Se pensarmos num abusador sexual de crianças, percebemos como esta teoria não podia estar mais errada. 

Os abusos sexuais de menores são cometidos, na grande maioria das vezes, por adultos muito próximos da criança ou adolescente. O menor é agredido por alguém de quem espera amizade ou proteção. O abusador confunde a criança entre a violência sexual e um ato de carinho, servindo-se da manipulação, da recompensa ou de ameaças, levando-a a confundi-lo com uma pessoa de bem, que gosta de si. Esta situação torna muito mais difícil e confuso para a criança entender que é errado e assim defender-se e revelar o crime. Quando se atrevem a relatar o sucedido defrontam-se, muitas vezes, com tentativas de revelação mal sucedidas. Quem é alvo dessa primeira confiança, com frequência, não acredita na palavra da criança e até, em algumas situações, é atribuída a esta a responsabilidade do abuso.

Também para os pais, admitir que alguém da nossa confiança possa ter abusado dos nossos filhos é algo tão aterrorizador que é mais fácil negá-lo, especialmente se for alguém com um laço afectivo significativo (pais, avós, companheiros, etc.).

Por muito que se procurem factores de risco na vítima, é muito importante não nos esquecermos que o abuso sexual acontece porque o abusador quer e é ele o único responsável. É por isso que a causa do abuso mais relevante de todas é o abusador.

Nem todos os abusadores sexuais são pedófilos. Os abusadores sexuais não pedófilos são aqueles que não têm preferência erótica específica por crianças. Esta situação ocorre, muitas vezes, porque o abusador não consegue aceder tão facilmente à realização do ato sexual com o adulto, ocorrendo, muitas vezes, secundariamente a outras perturbações (alcoolismo, debilidade mental, disfunções sexuais, perturbações de personalidade, etc.). Na grande maioria dos casos, estão inseridos num ambiente familiar desorganizado. 

Por outro lado, o pedófilo possui como preferência erótica a criança, o que não invalida que tenha relações amorosas com adultos (para concretizar o ato têm sempre em mente a criança). Cada vez mais, as ciências psicológicas consideram o pedófilo como um predador. A aproximação é vulgarmente lenta, progressiva, de sedução crescente, que habitualmente culmina numa situação muitas vezes já pensada e premeditada pelo adulto, o crime sexual. 

De facto, é alguém que “deseja” crianças e interessa-se por tudo o que as rodeia, muitas vezes partilha os mesmos interesses e atividades e, para atingir o seu objectivo, normalmente ganha a simpatia dos pais, tentando colmatar as supostas necessidades da criança. Tem como ferramenta principal o elogio e reforços constantes, fazendo com que esta se sinta especial. 

O pedófilo pode, assim, fazer-se passar por uma figura bem conhecida de todos nós: o ai natal! Ora bem, pensemos: não existe ninguém mais aceite em contexto familiar, conhece as crianças como ninguém, sabe agradá-las correspondendo aos seus desejos e, portanto, confiaríamos as nossas crianças ao seu cuidado sem hesitar! O pedófilo corresponde muitas vezes a estas características, utilizando-as como ferramentas de sedução para atingir o seu objetivo, o abuso.

Então, temos de preparar as nossas crianças para não ser só o desconhecido que merece a nossa prudência. Todo o ser humano é digno da nossa confiança, até prova em contrário, mesmo sendo a nossa mãe, o nosso pai ou amigo especial…até mesmo o pai natal!


 


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